A visão médico-patológica da deficiência ainda está na cabeça de muitos profissionais da Educação e pior: tem curso de psicologia que ainda trata a educação especial como sendo propriedade exclusiva. Não tenho outra coisa contra o curso de psicologia, ao contrário: tem muita coisa boa. Mas a Inclusão na escola precisa ficar a cargo da Educação, dos Cursos de Pedagogia e em todas as disciplinas, não apenas na disciplina de Psicologia da Educação.
E não estudar "deficiência" mas o ensinar a turma toda e a cada um. Parar com este negócio de caracterizar, categorizar.
Muito legal professor universitário debater o nome de disciplina que continua a conter termos como "excepcionais", que é um absurdo. Mas o nome continua aí... Além de outros vícios, como abordar "características da deficiência dentro da Inclusão". Sabe aquela coisa "eu sou tão bonzinho porque falo da Inclusão...” E descreve o que causa cada deficiência, como é. E muitas vezes aborda "uma Inclusão responsável", com data e hora para acontecer, mas nunca já.
É preocupante quem "trata" o "deficiente" na sala de aula, a "deficiência", a "adequação" da pessoa com deficiência a tudo o que é "normal". É tratar temas tipo: "o deficiente mental na sala de aula". Infelizmente vivi no meu tempo de faculdade, se falava assim, a tal da "uma inclusão" (e o "por favor, não me venha com mais do que isso" muitas vezes dito, sem pudor).
Tive a felicidade de conhecer profissionais super conscientes, atualizados, focando as pessoas, a turma toda, sem misturar jeito de ser com "características da deficiência", tratando a inclusão como a de todos a tudo, o que é maravilhoso.
Procuro me manter atualizada, não creio conhecer tudo e tudo o que conheço não considero como pronto, acabado. Tudo evolui e a nossa parte é evoluir junto. Atuando na área da Educação, isso, antes de tudo, é uma obrigação. Procuro saber o que o MEC traz em seu site, bibliografias atuais, Fórum de discussões, notícias em geral, vivendo o cotidiano da escola e muito mais...Quanto a diagnósticos, me arrepio com este papo, porque já vivi situações desagradáveis, de professoras que acham que "aquele" estudante não aprende “porque deve ter tal coisa porque já viu algo assim muito parecido e deve ser mesmo porque ele tem umas coisas assim assado... Tudo a boca pequena, pra depois serem endossadas por outras pessoas porque também já viram isso assim assado... E toma encaminhamento, e toma remédio, e lesa criança, entristece pais... Porque em nome de uma suposta boa ação se faz atrocidades. Entre os que realmente precisam, encontram-se os que não, de maneira alguma, não. Há uma mania generalizada em achar que criança que não pára quieta na cadeira tem alguma coisa errada, não é a aula que está hiiiiper chata, porque, afinal de contas, a vida lá fora da escola é muito mais dinâmica, mais atraente. ”.
A questão de professor ter em mãos testes pra identificar possíveis problemas - e isso é diagnosticar - seja pré diagnóstico como adoram chamar, é preocupante. Professor conhece os estudantes a quem ensina? Sim, mas não tão bem a ponto de sair fazendo diagnóstico e ser endossado nisso. Pra ser otimista, há casos em que o professor percebeu maus tratos ao estudante, denunciou. Percebeu agressividade, questionou pais, conversou com a equipe da escola, todos procuraram observar. Percebeu que o estudante não está enxergando bem, conversou com os pais, que encaminharam. Percebeu que o estudante não está aprendendo, mudou sua atuação - pedagógica - apostou.Os exageros: estudante se diferencia quanto a comportamento, deve ser "algo muito errado", pensa em algo "muito grave", sendo que pode ser algo momentâneo, por uma dificuldade na aprendizagem que a equipe escolar tem toda condição de investir no estudante. Não, muitas vezes já tem os diagnósticos prontos, porque preenchem todas as questões da lista: dislexia e outras "ias", distúrbios tais...
Diagnóstico é pra médico, e ponto final.
É preciso discutir os absurdos, o que não pode mais acontecer, a falta de consciência, o corporativismo entre os profissionais de educação, que infelizmente, muitas vezes, se unem pra falar bobagem e defender coisa errada, mas errada mesmo, não o que eu acho errado. Infelizmente ainda acontece. Considero importante as pessoas falarem sobre as boas experiências, mas também precisamos brigar pela mudança, pelo cumprimento da Lei.
Não adianta falar de Inclusão e ter na escola o horário específico de recreio em nome de ser "o melhor" porque podem se machucar e por aí a fora... Ter uma sala separada pra ensinar conteúdos... Salinha pra levar e ficar um tempo fazendo testes e mais testes. Os profissionais da área médica, e viva todos com certeza, precisam atender em ambiente próprio, postos de saúde, e precisam estar lá e atender as pessoas. Mas na escola, o que é da escola: salas especiais, ok, para trazer a acessibilidade e promover a inclusão a todos - todos!!! Tipo: sala de informática, biblioteca com equipamento acessível para pessoas com deficiência visual, por exemplo, sala para ensinar Libras, Braille, a usar lupa e etc, comunicação alternativa e quetais - e com profissionais que existem para isso - os professores de educação especial, que há muitos, muitos anos tem ensinado conteúdos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! E tem muito professor de conteúdos escolares que encaminha, dá seu "diagnóstico" pra tal "sala de recursos" que de recursos fica a desejar. Mas precisamos modificar isso, é a tal mudança de olhar da e para a Educação Especial. Professora de conteúdos escolares precisa saber ensinar e bem, conhecer diferentes modos de atuação, estudar bastante. A professora de educação especial e a de conteúdos juntas, mas cada uma com diferente atuação. Como o estudante que não sabe Braille, e precisa saber, vai acompanhar os estudos com seus colegas na sala de aula? Tendo seu horário extra classe para aprender Braille, usar a máquina, reglete e etc.
Avaliação: a da escola precisa ser muito bem pensada. Mesmo quem opta por não fazer a avaliação de conteúdos tem que prestar muita atenção no desenvolvimento do estudante, fazer sempre anotações, sempre. Não sou contra a avaliação, mas que ela não seja padrãozona, padronizadora, sem considerar o desenvolvimento individual em relação ao conteúdo ensinado. Mas prefiro mesmo a avaliação individual, com anotações diárias. É mais justa e producente. Principalmente para a reflexão do professor quanto ao ensino.
Há um problema muito sério quanto à visão que se tem tido em relação ao que é Educação Especial. Tem gente achando que é o fim da educação especial etc e tal. Na verdade, pensar que professor de ensino de conteúdos tem que saber Libras, Braille, usar equipamentos específicos é temerário, porque se aposta numa coisa para dizer que somente após isso a inclusão acontecerá, o que é mentirinha. E mentirinha contada em cursos de graduação de professores. Claro que temos capacidade de aprender tudo isso, mas a inclusão não se dá após isso. E professor que se gradua em educação especial e se dedica a ensinar especificamente Braille, Libras etc, também não precisa aprender a ensinar conteúdos escolares, obrigatoriamente. É bom saber, conhecer, ter esta experiência para melhorar sua atuação, mas esperar conhecer tudo pra lá na frente fazer a "tal da inclusão", vai tempo. Parabéns aos profissionais que almejam inclusão total e irrestrita desde já. Mesmo achando que pouco sabem, seguem adiante em seu trabalho, enriquecendo a cada dia com novas experiências, fazendo com que a vida escolar das crianças seja rico, prazeroso.
Com certeza? Na sala de aula, o conhecimento é constante e se dá em todos os momentos, a professora aprende a ensinar de diferentes modos. E tem desafios: se o estudante está com dificuldades em aprender os conteúdos, busca novas formas, usa recursos visuais, auditivos - grava aulas, filma as experiências e passa pra turma - quando não sabe, vai atrás. Não toma somente pra si todos os problemas, bem como não joga pra cima do estudante. Faz constante reflexões a respeito do seu trabalho.
A Inclusão é desde já. Mesmo sem rampa na escola, sem máquina Braille... E na verdade eu nem precisaria estar dando ênfase nisso agora, porque está escrito: o direito ao ensino na escola comum é para todos, sem senões, nem vírgulas nem reticências. Mas é bom deixar escrito direitinho, porque ainda hoje tem gente querendo o antigo, criança, jovem com deficiência estudando conteúdos em instituições ou salas especiais.
Deslumbrada, mas nem tanto, porque veio aquele mau humorzinho meu: "ah, isso porque é centro, quero ver na periferia (que é bem diferente do que a gente entende por)". Que nada! Em todo lugar, mesmo Sydney, que tive a felicidade de conhecer, tem TUDO. Fiquei felizaça...Aqui é tudo limpo, a cidade é grande, tem ares de interiorzão, com poucos prédios altos, menos carros nas ruas como a gente costuma ver em cidades grandes. Aqui há uma preocupação do governo em manter esta "ordem" e promover a acessibilidade, bem como proteção ao meio ambiente, conscientização a respeito dos 3 Rs (Reduzir, Reutilizar, Reciclar, nesta ordem).
Uma coisa que achei hiper atraente: as pessoas, nos finais de semanas, vão aos parques públicos. Gentem, eles fazem barbecue (o churrasco deles, bem chinfrim, pra mim que sou filha de gaúchos, bah, tchê!), ficam o dia todo, e é parque mesmo, com gramado, rodeado de avenidas, carros passando etc e tal. Eles não querem nem saber, pegam seus cobertores, estendem na grama e chegam a dormir de "babar"...
No inicio do ano letivo, os pais preenchem um moooooooonte de papel e vem questões como se seu filho tem deficiências, necessidades especiais, se necessita de acompanhante, se tem outros profissionais de apoio como fonoaudiólogos etc. Achei show e tudo o mais.
Patrícia Kast Caminha é professora.
Que maravilha de reflexão!
ResponderExcluirQuero dar destaque ao trecho onde ela cita a situação escolar de um estudante com surdez no ambiente em que ninguém sabe Libras e a professora não se esforça em bem atender às dificuldades desta criança. Esta professora DETONA a vontade da criança em ir para escola e perde a oportunidade de ENSINAR a todos sobre DIVERSIDADE.
ResponderExcluirSentimos isso aqui na Australia, quando não falamos inglês e várias pessoas não se esforçam em nos entender ou ajudar. Patricia coloca muito bem esta comparação mostrando o que pode sentir uma criança ALIJADA e DISCRIMINADA.
Parabéns Patricia, lindo texto
Luttgardes, marido de Patricia
Uma pergunta a voce Patricia:
ResponderExcluir- Quando é que voce volta pro Brasil heim???
Precisamos muito de pessoas como você, com uma visão ampla e muito bem informada.
Sou fonoaudióloga, e admiro as professoras pelo mérito da aprendizagem, porém sabemos que há as deturbadoras, as acomodadas e as que não assumem nada...
Por favor venha dar uma palestra de sua experiência por aqui!!!
E quando o fizer não deixe de me convidar tah!!!
Beijosss
Marisa
Lindo, lindo e lindo...Fazer refletir, repensar contagia até aqueles que desconhecem a capacidade singular, intima, de poder contribuir mesmo no não saber fazer. E acima de tudo compromissado no aprender a fazer junto ao outro que é sempre diferente não tem como, não SER ... Obrigada Patricia pela injeção de esperanças
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