Eu não quero falar sobre inclusão, esse negócio é muito desagradável. Imagine só você, tem gente que acredita que as pessoas são iguais em direitos e deveres ! Tem gente que acha que todo mundo deve ir para a escola, que todo mundo precisa de cuidados médicos, de transporte, de lazer. Acreditam até que é preciso ter trabalho para todos...
Se essa idéia pega, como é que vão ficar as nossas relações de poder e dominação ?? Ficam colocando na cabeça das pessoas essas idéias subversivas de autonomia, de autodeterminação, desse jeito todo mundo vai querer ser auto-alguma-coisa. E aí acaba a sinecura, não vamos mais poder receber verbas públicas para cuidar delas, nem vamos poder mais pedir dinheiro para as empresas, para as pessoas. Nós vamos viver do que ? Não esqueçam que muita gente depende disso. E não estou falando desse povinho que nós assistimos, mas de toda essa massa de gente que vive às custas da exclusão.
Outro dia eu ouvi um cara dizendo que o governo deveria pegar toda sua verba da educação e investir em escolas públicas. Como se a escola pública prestasse para alguma coisa. Um lugar que só tem pobres. Onde os professores ainda são idealistas. Se começarem a jogar dinheiro lá é até capaz desses professores trabalharem felizes, dos alunos aprenderem e começarem a questionar nosso modelo sócio-econômico.
Não tenho muita certeza disso, mas dizem que esses professores ainda lêem Paulo Freire, que acreditam que a aprendizagem se dá na comunhão entre estudantes e mestres. Será que eles não sabem o que significa ser um “aluno” ? Não devem ter estudado latim, aluno quer dizer aquele que não tem luz. Só a luz dos grandes mestres é que pode iluminar essas mentes corrompidas pela ilusão da igualdade. E luz é um produto caro, não pode ser dada sem critérios para qualquer um.
Mas o pior de tudo é que de uns tempos para cá, além da inclusão social e da inclusão digital (outra besteira perigosa, deixar que todos tenham acesso à informação, se bem que isso pode render uns bons trocados para os fabricantes de computadores), andam falando em colocar pessoas com deficiência nas escolas.
Para que isso ? Afinal, não existe uma infinidade de locais onde esses inválidos possam ser atendidos ? Onde eles possam ser felizes com os seus semelhantes ? Se forem para as escolas comuns eles vão atrapalhar os demais alunos que serão obrigados a andar no mesmo ritmo lento deles. Como seremos uma nação competitiva nesse mundo globalizado se os nossos filhos tiverem de tolerar esse tipo de situação ? Além do que os professores não estão preparados para receber essas aberrações.
Tudo bem, se não tiver outro jeito, pode-se até colocar esses deficientes na escola pública, essa já recebe a escória mesmo, um pouco mais um pouco menos não vai fazer diferença. Agora, obrigar as nossas brilhantes escolas particulares a aceitá-los, o que vai ser desse mundo ? Ainda acho que paralíticos, os disformes, os surdo-mudos, os ceguinhos e os retardados precisam mesmo é de locais próprios para eles – claro, subvencionados de forma a manter nossa economia da tutela em movimento.
Precisamos continuar lutando para que os deficientes fiquem felizes com seu salário-esmola (viram como funcionou ? muitas famílias nem deixam os filhos deficientes estudar ou trabalhar com medo de perder esse dinheirinho). Que achem o máximo andarem de ônibus de graça (mesmo que os ônibus não sejam acessíveis). E até que se iludam com a lei de cotas de emprego – desde que nenhuma escola permita que eles se qualifiquem para conseguir qualquer emprego. Não é muito melhor quando eles fazem aquelas exposições de artesanato ? Podem até vender...
Ah...você acha que eu estou sendo muito cruel ? Não concorda comigo ? Essa é a vida como ela é. Você está pensando em se aliar a esses inconsequentes da inclusão ? Acredita que isso vai fazer do mundo um lugar melhor para se viver ?
Bem, nesse caso, acho melhor você ler a Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência com bastante atenção. Esses caras tem um monte de argumentos que contrariam tudo que eu escrevi aí em cima (e o pior, eles tem razão, mas eu preciso defender a minha “turma”)
Um aviso importante : se você não entendeu esse texto, continue lendo os demais textos do blog para saber do que exatamente tratamos aqui.
Eu sei que eu corro o enorme risco das pessoas levarem esse texto a sério... e concluirem que eu enlouqueci de vez.
ResponderExcluirMas acho que o final de semana me deixou um pouco mais mordaz do que de costume
Fábio.
ResponderExcluirLi a dedicatória.
Mas com todo respeito:
Esse texto é mesmo de sua autoria? Pois já ouvi isso por aqui.
Outra pergunta:
Por um acaso você andou por aqui e fez alguma ata e registrou esse depoimento?
Beijos.
Que pena que ainda precisamos ler isso,e o pior, conviver quase que diariamente com pessoas que pensam assim. Mas saber como as pessoas pensam é muito válido em qualquer luta, com a inclusão não poderia ser diferente.
ResponderExcluirLeio, sempre que posso, seus textos, confesso que suas verdades são as minhas também.
ResponderExcluirO modelo de sociedade inclusiva é uma opção de cada pessoa que somente será construído com a descronstrução do modelo de sociedade excludente.
O apontar a exclusão em seus diversos mecanismos de ação / omissão é uma tarefa árdua e necessária.
Costumo dizer que um cerne da questão sobre o incluir ou excluir refere-se a entender (ou não entender) que somos ao mesmo tempo iguais e diferentes.
Iguais enquanto seres que pertencem a espécie humana e a exigir o atendimento por igual de suas necessidades básicas (alimentar-se com comida e água, habitar local seguro, afeto, educação, etc.). Diferentes por ser o humano dotado de algo chamado de "individualidade". Algo que cada pessoa tem como seu e único no universo. Nesta dimensão cada pessoa constitui o que é e nunca será repetido em nossa natureza essa individualidade.
A diversidade da individualida humana revela que cada pessoa é uma riqueza da marca (no sentido de características) humana.
Devemos, portanto, reconhecer e respeitar cada uma das infinitas marcas da individualidade humana.
Um dia espero te conhecer pessoalmente e ter o prazer de melhor conhecer a marca da individualidade humana do Fábio.
Um forte abraço,
Gustavo Estevão.
Depois de ouvi-lo no Sábado no papo comos pais do rjdown, d´para entender PLENAMENTE o texto que acabei de ler. É o tipo de litratura que dá vontade de imprimir e distribuir entre as escolas que EDUCADAMENTE tentam nos convencer que nossos filhos são exatamente como vc descreveu.
ResponderExcluirApesar de achar deprimente infelizmente é a realidade da sociedade em que vivemos, basta olhar para o lado.
Fábio, perfeitamente compreensível essa sua reação. Lembrei de quando era pequena e minha mãe argumentava e argumentava sobre algo que não deveria fazer. Eu irredutível. Até que ela mandava "então vai" aí eu parava e pensava. Tomara que esse seu "então vai" sirva pra alguma coisa.
ResponderExcluirLembrei de um texto do Rubem Alves: Carta aos pais, acho fantástico.
Caso não conheça: http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/r_alves/id120203.htm
Abraço.