quinta-feira, 9 de junho de 2011

Senzala 2.0

Se eu falasse para uma famíla negra que seus filhos deveriam ser encaminhados para escolas ou atividades sociais só com outras pessoas negras, eu seria imediatamente taxado de racista e, muito provavelmente processado por tamanha besteira.

Não seria diferente se disser para algum conhecido gay que ele deveria procurar a sua turma, mesmo sem lei anti-homofobia eu seria exacrado publicamente.

No entanto, pais, professores, amigos e inimigos das pessoas com deficiência sempre estão em busca de guetos exclusivos.

Bailes para pessoas com síndrome de Down, aulas de judô para cegos, escolas para autistas...e o pior é que a própria comunidade das pessoas com deficiência acha que isso é ser normal.

Além de serem pseudo-defensores da diversidade essas pessoas acabam reforçando as superestruturas discriminatórias dominantes.

Acham que estão conscientizando o mundo sobre os direitos de todos com manifestações públicas quando estão apenas ressaltando a percepção de que "esses estranhos" devem viver apenas entre eles mesmos.

Defendem a perenização da senzala, do gueto, do manicômio em moldes mais moderninhos (versão 2.0 ou será 4G?), travestidos de clubes, redes sociais e até sites de namoro para pessoas com deficiência.

A alegação conceitual é que pessoas com mesmas características biológicas podem construir sua identidade no contato com os seus iguais. Que identidade, cara pálida? (ou de qualquer outra coloração).

A minha identidade é a de ser humano e é no contato com outros seres humanos que ela vai se construir. Minha humanidade não se define pela cor da minha pele, pelo número de cromossomos ou pela minha capacidade de ver ou ouvir.

Homem, ser social, realiza o desenvolvimento da sua identidade através da interação que mantém com o meio em que vive. A cada experiência vivida, a cada problema enfrentado, se está alimentando o processo de construção da identidade.

Se o meio for segregado é esse tipo de identidade que um indivíduo terá. Uma identidade pobre e limitada.

Certa estava a Cláudia Werneck quando lançou em 1992 o livro "Quem cabe no seu todos?" mostrando que preconceito e discriminação só mudavam de nome e endereço, mas estavam em todas as mentes e corações (inclusive daqueles que são excluídos)

Se, ao invés de defendermos a inclusão de todos, defendermos a inclusão ou os direitos de pessoas do tipo X, Y ou Z, deixamos de lutar contra a discriminação. Viramos parceiros dela.

Descrição da imagem : propaganda de uma empresa italiana de roupas dividida em 3 quadros: um só com mulheres loiras, outro só com morenas e o outro só com mulheres negras.

5 comentários:

  1. Fabio
    Obrigada por escrever o que penso.
    Beijos

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  2. Fábio,
    De acordo com o início do seu texto, se vc observar bem, há um grande equívoco da sua parte, quando tenta colocar em um só contexto as questões racial e homossexual, no mesmo patamar de discussão de um portador de cegueira, surdez, síndrome de Down ou de um cadeirante, por exemplo.
    Os dois primeiros, no caso o negro e o homossexual não têm nenhuma deficiência de qualquer ordem, não sei o porquê de sua comparação a casos de patologia clínica!
    Enquanto que o cego, surdo, cadeirante e portador de síndrome de Down, têm cientificamente comprovadas as suas deficiências!
    E reconhecer essa condição e tratá-la adequadamente não significa nenhuma discriminação preconceituosa.
    Do contrário, lamento, mas é a tentativa de um discurso tremendamente hipócrita!
    Na realidade, temos que lutar sim, para que estes sejam contemplados por políticas públicas decentes, que os insira na sociedade, respeitando as suas limitações!
    Isso não quer dizer que acabaram-se os problemas de limitação de seus portadores

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  3. Silvia

    Você comprova a minha tese de que muitas pessoas acreditam que a discriminação se justifique pela deficiência.

    Aliás como muitos também acreditam que homossexualidade seja uma patologia...

    Enquanto as pessoas forem discriminadas e segregadas por qualquer motivo, a hipocrisia vai reinar

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"Censura é o uso pelo estado, grupo ou indivíduo de poder, no sentido de controlar e impedir a liberdade de expressão. A censura criminaliza certas ações de comunicação, ou até a tentativa de exercer essa comunicação. No sentido moderno, a censura consiste em qualquer tentativa de suprimir informação, opiniões e até formas de expressão, como certas facetas da arte"

Como bem diz a Cristiana Soares no seu ótimo "Como lidar com o anonimato nos comentários" , o processo de aceitar posts anônimos nem sempre é fácil. Eu optei por permitir que qualquer um escreva seus comentários sem censura.

Mas fica um "disclaimer", ao estilo do mencionado no artigo :
Eu me reservo o direito de excluir comentários e textos que julgar ofensivos, difamatórios, caluniosos, preconceituosos, que sejam de alguma forma prejudiciais a terceiros ou textos de caráter promocional. Baixo calão fora de contexto idem ibidem.