quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Por um mundo menos humano



Algumas manchetes dessa semana, extraídas de jornais tradicionais (e não de tabloides sensacionalistas):

 Ambientalistas denunciam recompensa a quem matar tubarões em Ubatuba

Jovem denuncia estupro dentro de camarote de rodeio em SP

Mulher descongela geladeira e encontra corpo de bebê escondido

 Explosão em Munique deixa feridos

 Atentado em escola de 2º grau em Michigan deixa 4 mortos e 8 feridos

Não sei exatamente em que universo você vive, nem qual é a sua relação com a realidade, mas eu vivo em um universo e em uma realidade em que as pessoas vivem pedindo atitudes mais humanas.

Querem relacionamentos mais humanos, gestões humanizadas, atendimento humano e, pasmem, alguns até esperam que os robôs possam ser mais humanos.

Como se o ser humano fosse um ideal de perfeição ou humanizar algo fosse o nirvana a ser alcançado por uma espécie que nesses últimos 10 mil anos demonstrou ser um retumbante desastre (ainda que, como diz o mestre Mariotti, possa ter tido surtos intermitentes de lucidez).

Humanidade que, desde as suas origens mitológicas, teológicas ou históricas se pautou pela violência, pelo homicídio, pelas guerras, pela destruição do seu entorno.

Animais que evoluíram, dizem alguns. Se isso é evolução, teria sido melhor se não tivéssemos ultrapassado a fase dos aminoácidos (tudo bem, eu concordo, vários outros seres vivos ultrapassaram essa fase sem terem se tornado o que somos, alguns são até bichos bem simpáticos).

Humanos que somos arrogantes, vaidosos, egoístas, manipuladores, agressivos, interesseiros...e o restante da lista eu deixo por conta da sua imaginação.

As chamadas virtudes morais, éticas, teologais ou filosóficas não passam daquilo que os falantes da língua inglesa chamam de wishful thinking, um pensamento desejável, mas ilusório, como se a humanidade fosse uma legião de anjinhos carinhosos.

Não conheço outros seres vivos que agridam ou matem seus semelhantes por prazer. Nem que destruam seu habitat.

Portanto, na próxima vez que for defender mudanças, refira-se a elas como um mundo menos desigual, uma liderança mais respeitosa, uma gestão menos exploradora. Mas não como algo mais “humano”.

De humanista já basta a estupidez.


Descrição de imagem: crianças fugindo da guerra em uma paisagem de seca