terça-feira, 10 de junho de 2008

Nós não queremos migalhas

...migalhas dormidas do teu pão , raspas e restos me interessam...
(Maior abandonado – Cazuza/Frejat)

O apaixonado Cazuza declarava estar satisfeito apenas com as migalhas que pudessem sobrar da mesa do objeto do seu amor, apenas um pouquinho de atenção seria suficiente para que ele deixasse de ser um maior abandonado, afinal, ter mais do que isso lhe parecia um sonho inatingível.

Infelizmente as minorias excluídas da nossa sociedade demonstram, a cada dia, que as migalhas dos serviços públicos e privados lhes tem sido satisfatórias, depois de tanto tempo sem ter acesso sequer às sobras, tudo que vem é lucro.

Alguns alegam que essa postura é apenas a cautelosa forma de comer a sopa quente pelas bordas, mas será que isso não é apenas conformismo ? Nós, que estamos envolvidos em um movimento que busca a inclusão, não deveríamos aceitar as migalhas do poder, mas dividir o pão com todos.

> Não queremos o favor e a comiseração de transporte público gratuito, queremos ônibus , trens e metrôs que sejam acessíveis a todos.

> Não queremos isenção de impostos, queremos uma distribuição de renda mais justa que permita a todos participarem do mercado de consumo.

> Não queremos cotas que nos concedam vagas em universidades, queremos uma educação de qualidade que nos dê as mesmas chances e oportunidades que as classes privilegiadas.

> Não queremos cotas que obriguem as empresas a nos empregar (coitadinhos de nós...), queremos formação profissional para nos candidatarmos de forma digna aos empregos.

> Não queremos filas especiais, queremos atendimento decente para todos.

> Não queremos educação especial que segregue aqueles que a sociedade prefere fingir que não vê. Queremos uma educação que seja especialmente qualificada para atender cada ser humano.

> Não queremos beneficência. Queremos respeito e acesso aos bens e serviços.

Enquanto continuarmos a pedir migalhas, o máximo que a sociedade vai nos conceder são exatamente elas. Pior, o poder vai continuar acreditando que está nos fazendo um grande favor.

Manter esse discurso é um problema ideológico, por que o que se esconde atrás dessa atitude é a rejeição da diversidade como valor humano e a perpetuação das diferenças entre cidadãos de primeira e segunda classes, ressaltando que suas diferenças são insuperáveis de uma forma determinista e, mesmo que dividam o mesmo ônibus, a mesma mesa e a mesma cadeira, seguem caminhos diferentes e, às vezes, opostos.

Descrição da imagem : cartoon de um pedinte dizendo : "uma esmola pelamordedeus"

4 comentários:

  1. Cuidado com a turma da migalha..., nem vou falar nada, toda vez que falo sobre isso arrumo confusão. Mas você está certo.

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  2. Não queremos migalhas nem pão dormido...
    Faço coro..

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  3. Concordo plenamente....e acho que temos que tornar comum a exigencia pelo digno...e tb a auto-exigencia em dar o digno....dependendo de tua posição.....

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"Censura é o uso pelo estado, grupo ou indivíduo de poder, no sentido de controlar e impedir a liberdade de expressão. A censura criminaliza certas ações de comunicação, ou até a tentativa de exercer essa comunicação. No sentido moderno, a censura consiste em qualquer tentativa de suprimir informação, opiniões e até formas de expressão, como certas facetas da arte"

Como bem diz a Cristiana Soares no seu ótimo "Como lidar com o anonimato nos comentários" , o processo de aceitar posts anônimos nem sempre é fácil. Eu optei por permitir que qualquer um escreva seus comentários sem censura.

Mas fica um "disclaimer", ao estilo do mencionado no artigo :
Eu me reservo o direito de excluir comentários e textos que julgar ofensivos, difamatórios, caluniosos, preconceituosos, que sejam de alguma forma prejudiciais a terceiros ou textos de caráter promocional. Baixo calão fora de contexto idem ibidem.