Existem alguns discursos recorrentes na comunidade das pessoas com deficiência, alguns próprios das pessoas com deficiência, outros de pais e profissionais que circulam no meio. Um deles é o discurso do desprezo pelas conquistas alcançadas.
Explico melhor.
Sou pai de um menino com síndrome de Down, uma alteração genética do cromossomo 21, provavelmente a mais comum das síndromes genéticas, que provoca uma série de limitações, especialmente ligadas às questões musculares e cognitivas (se bem que essas, muito mais decorrentes do contexto social preconceituoso do que da genética)
O Samuel, desde que nasceu foi muito estimulado, seja com as terapias adequadas para ele mas, principalmente, pelo fato de ter tido a oportunidade de estudar numa escola comum, fazer atividades esportivas, culturais e religiosas em meio a pessoas com e sem deficiência. Além do que, o moleque é um cara esforçado e persistente.
O resultado é que ele foi alfabetizado nas mesma idade que os seus colegas de classe, continua na mesma série escolar que eles, com um desempenho muito próximo dos seus companheiros (e, em alguns casos, até melhor).
Mas não é só o meu Samuel que tem alcançado vitórias expressivas. O Samuel Sestaro e a Priscila entraram na faculdade, e não foram as primeiras pessoas com síndrome de Down a chegar nesse ponto. A Débora é professora, o Cláudio, o Guto, a Ana, a Mariana e tantos outros estão trabalhando em empregos sérios. Todos chegaram lá porque as pessoas acreditaram neles e eles correponderam a esse estímulo.
Aí me vem algumas pessoas e dizem que síndrome de Down nem é deficiência, no também velho discurso que a deficiência do meu filho/aluno/paciente sempre é mais séria que a sua. Ou seja, essas conquistas não tem mérito nenhum.
No fundo estão dizendo que o trabalho dos terapeutas não valeu nada, ou era desnecessário. Que o trabalho dos professores não foi nada mais que o feijão com arroz. Que a dedicação dos pais deve ter sido só uma overdose de estimulação, mas não tem valor algum.
Pior. Desprezam o próprio esforço que essas pessoas com Síndrome de Down fizeram para ultrapassar limites, naturais e impostos pela sociedade, para superar preconceitos e para conquistar seus espaços como cidadãos.
Ora bolas, se Síndrome de Down não é deficiência por que é então que 90% dos americanos que recebem diagnóstico precoce da mesma optam pelo aborto? Por que os pais, quando recebem a notícias entram em estado de choque?
Se não faz diferença nenhuma por que será que as escolas continuam a recusar alunos com a síndrome? Por que muitos professores alegam que não sabem lidar com "isso"? Por que juízes insistem em interditar essas pessoas?
Fingir que a deficiência não está presente também é uma forma de exclusão. É negar o valor da própria pessoa, como se ela fosse um ser que não é. É um atentado contra a sua identidade.
Eu espero que num futuro não muito distante, as conquistas das pessoas com síndrome de Down possam passar desapercebidas, mas não porque elas deixaram de ter alguma deficiência, mas pelo reconhecimento de que essa deficiência não lhes tira os direitos equivalentes aos de qualquer outro ser humano.
Quanto a esse discurso deixo a mesma frase que o Samuel me fala, de vez em quando : "me poupe".
Descrição da imagem : foto do Samuel sorrindo
Explico melhor.
Sou pai de um menino com síndrome de Down, uma alteração genética do cromossomo 21, provavelmente a mais comum das síndromes genéticas, que provoca uma série de limitações, especialmente ligadas às questões musculares e cognitivas (se bem que essas, muito mais decorrentes do contexto social preconceituoso do que da genética)
O Samuel, desde que nasceu foi muito estimulado, seja com as terapias adequadas para ele mas, principalmente, pelo fato de ter tido a oportunidade de estudar numa escola comum, fazer atividades esportivas, culturais e religiosas em meio a pessoas com e sem deficiência. Além do que, o moleque é um cara esforçado e persistente.
O resultado é que ele foi alfabetizado nas mesma idade que os seus colegas de classe, continua na mesma série escolar que eles, com um desempenho muito próximo dos seus companheiros (e, em alguns casos, até melhor).
Mas não é só o meu Samuel que tem alcançado vitórias expressivas. O Samuel Sestaro e a Priscila entraram na faculdade, e não foram as primeiras pessoas com síndrome de Down a chegar nesse ponto. A Débora é professora, o Cláudio, o Guto, a Ana, a Mariana e tantos outros estão trabalhando em empregos sérios. Todos chegaram lá porque as pessoas acreditaram neles e eles correponderam a esse estímulo.
Aí me vem algumas pessoas e dizem que síndrome de Down nem é deficiência, no também velho discurso que a deficiência do meu filho/aluno/paciente sempre é mais séria que a sua. Ou seja, essas conquistas não tem mérito nenhum.
No fundo estão dizendo que o trabalho dos terapeutas não valeu nada, ou era desnecessário. Que o trabalho dos professores não foi nada mais que o feijão com arroz. Que a dedicação dos pais deve ter sido só uma overdose de estimulação, mas não tem valor algum.
Pior. Desprezam o próprio esforço que essas pessoas com Síndrome de Down fizeram para ultrapassar limites, naturais e impostos pela sociedade, para superar preconceitos e para conquistar seus espaços como cidadãos.
Ora bolas, se Síndrome de Down não é deficiência por que é então que 90% dos americanos que recebem diagnóstico precoce da mesma optam pelo aborto? Por que os pais, quando recebem a notícias entram em estado de choque?
Se não faz diferença nenhuma por que será que as escolas continuam a recusar alunos com a síndrome? Por que muitos professores alegam que não sabem lidar com "isso"? Por que juízes insistem em interditar essas pessoas?
Fingir que a deficiência não está presente também é uma forma de exclusão. É negar o valor da própria pessoa, como se ela fosse um ser que não é. É um atentado contra a sua identidade.
Eu espero que num futuro não muito distante, as conquistas das pessoas com síndrome de Down possam passar desapercebidas, mas não porque elas deixaram de ter alguma deficiência, mas pelo reconhecimento de que essa deficiência não lhes tira os direitos equivalentes aos de qualquer outro ser humano.
Quanto a esse discurso deixo a mesma frase que o Samuel me fala, de vez em quando : "me poupe".
Descrição da imagem : foto do Samuel sorrindo