Reflexões de um "xiita" da inclusão que acredita no seguinte "Credo Inclusivo" Os textos desse blog podem ser livremente usados e reproduzidos, citada a fonte.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Mariazinha tomou pau no maternal
Apesar da escola se dizer sócio-construtivista-interacional moderninha os professores e a coordenação, usando de métodos de avaliação que já preparam a criança desde a mais tenra idade para o vestibular da Fuvest, concluíram que ela não aprendeu todos os conteúdos para ser promovida ao jardim de infância.
Mariazinha não foi aprovada no teste de corre cotia uma vez que ela não conseguiu captar o conceito do que é um cipó, até porque na casa da sua avó não tem cipó nenhum. A mãe deu essa explicação, mas a coordenadora alegou que essa é uma visão freireana da educação, coisa de comunista.
Além disso, mesmo que desconsiderassem a questão do corre cotia, a escola concluiu que a petiz ainda não estava madura para mudar de ano, já que, apesar de saber o nome de todas as cores, ela se recusava a copiar uma tela de Kandinsky. A mãe perguntou quem era esse mas só recebeu um olhar de comiseração da coordenadora.
Segundo a escola, o Jardim I incluírá temas bem mais complexos, como o jogo de amarelinha, que demandará conhecimento de matemática complexa (contar até 10) e também de filosofia da religião (para distinguir entre o céu e o inferno).
A essa altura você deve estar em dúvida se meu texto se refere a esse blog mesmo, ou deveria estar publicado junto com as minhas Insanidades.
Sem dúvida é um absurdo, mas é um absurdo que está ocorrendo todos os dias em escolas espalhadas pelo país. Se a criança ainda tiver alguma deficiência a situação se agrava, pois a escola acha que quem vai resolver essa situação é o geneticista ou a fonoaudióloga da criança.
Geralmente em escolas que se dizem Vygotskyanas, sem nunca sequer terem passado perto de um texto do autor russo. Se tivessem lido alguma coisa saberiam que para Vygotsky é o próprio processo de aprender que gera e promove o desenvolvimento das estruturas mentais superiores.
Ou seja, a criança não precisa de desenvolver para aprender. Precisa aprender para se desenvolver.
Essas escolas não estão preocupadas em ensinar. Entregam uma inclusão de araque, ao exigirem que as crianças se preparem para a escola e não o contrário. Escolas que não querem questionar seus dogmas imortais. Nem enfrentar o preconceito que negam de pés juntos.
Essas mesmas escolas são as que estão preparando as crianças sem deficiência a serem cidadãos dos séculos XIX e XX com sua pedagogia caduca e seus métodos arqueológicos. Escolas assim mereceriam ser fechadas. Educadores assim, requalificados para outras profissões que não necessitem conhecimento do ser humano.
Para isso é necessário que os pais deixem de acreditar nesse tipo de absurdo e exijam educação de verdade para os seus filhos. Com ou sem deficiência.
Descrição da imagem: desenho de duas meninas brincando de amarelinha, um jogo de casas riscadas e numeradas no chão, cujo objetivo e pular os números e sair do inferno para chegar ao céu.
11 comentários:
"Censura é o uso pelo estado, grupo ou indivíduo de poder, no sentido de controlar e impedir a liberdade de expressão. A censura criminaliza certas ações de comunicação, ou até a tentativa de exercer essa comunicação. No sentido moderno, a censura consiste em qualquer tentativa de suprimir informação, opiniões e até formas de expressão, como certas facetas da arte"
Como bem diz a Cristiana Soares no seu ótimo "Como lidar com o anonimato nos comentários" , o processo de aceitar posts anônimos nem sempre é fácil. Eu optei por permitir que qualquer um escreva seus comentários sem censura.
Mas fica um "disclaimer", ao estilo do mencionado no artigo :
Eu me reservo o direito de excluir comentários e textos que julgar ofensivos, difamatórios, caluniosos, preconceituosos, que sejam de alguma forma prejudiciais a terceiros ou textos de caráter promocional. Baixo calão fora de contexto idem ibidem.
Vixi Fabio!!
ResponderExcluirEu sabia que suas presas estavam em forma.. Tudo é uma questão de oportunidade de (bem) usá-las.. :)
Abraço
Lucio
Casos como esse tem sido comuns por aqui, é uma lástima. Retém as crianças no jardim de infância com colegas de menor idade, quer dizer: para eles essa criança deve ser sempre tratada como um bebê.Eles ainda alegam que estão "muito" preocupados com o aprendizado da criança. Quem precisa "amadurecer" são eles.
ResponderExcluirADOREI! Bom, só para variar, né? Maravilhoso, Fábio! É bem por aí mesmo!!! Todos os dias vejo pais pedindo ajuda nos grupos por causa desta questão, o que mostra que ela é mais do que comum. Absurdo total!
ResponderExcluirBeijo!
Bom dia Fábio!
ResponderExcluirExcelente texto! Na verdade, me vez lembrar um pedagogo/pai que ao se referir a escolas com práticas semelhantes as qualificou de: "Escolas adeptas à Pedagogia do Tacape".
Irônico não?!
Se pensarmos que estamos preparando nossas crianças para este século, onde o tacape já foi abolido...
O será que não?
Estou começando a achar que as professoras é que tinham que voltar para o maternal e fazer tudo de novo, vocês não acham???
ResponderExcluirEssa questão é mais comum do que parece. Se deixarmos, as nossas crianças nunca passarão para a 1ª série!
Isso mesmo, Fábio.
ResponderExcluirUma das falhas nas propostas "educacionais" é a avaliação, que em geral segue moldes completamente arcaicos, baseados em conceitos ultrapassados e fragmentados do desenvolvimento humano.
De nada adianta anunciar uma metodologia moderna se as cabeças -e ações- não acompanham.
Mas, pode haver uma luz no fim do túnel, começando a despontar em algumas discussões. Sou cursista de uma pós Ead, em educação, e um dos fóruns recentes justamente levantou essa questão: a da avaliação. Pelo menos, há gente preocupada em rever isso. Menos mal, né.
Abraços,
Vera ~ Arte Brasilis
Fabio, o Lou vai amar esse texto...
ResponderExcluirSó hoje pude ler o Blog...pelo menos essa situação tão absurda, que alguns de nós estamos passando, contribuiu prá você, como diz a Liliane, ir direto na jugular...rsrs.
ResponderExcluirObrigada Fábio pelo texto e pela força...
Beijos Kiki ( que conhece kandinsky, só que nunca sabe qual é a parte de cima do quadro,rsrs)
Muito bom o texto, Fábio. Ele reforça a ideia de que cada vez mais cedo vem ocorrendo o estímulo a competitividade. As crianças, pressionadas, aprendem a responder de forma mecanizada, sem sentido. E os pais, acham que seus filhos são troféis para serem expostos e vangloriados. Pobres crianças, que diante de tanta pressão, acabam por fracassarem na vida escolar, quando não, tendem a se tornarem adultos problemáticos e frustrados.
ResponderExcluirAmei esse texto nos últimos dias estou lendo muito e me interessando bastante sobre a inclusão ,mas a verdadeira como deve ser e não a que vi em alguns lugares que trabalhei no último mês.Tenho dois filhos eles não tem necessidades especiais mas tem um primo,que tem deficiência visual e quando eles brincam não há diferença entre o que ver e o que não ver,eles brincam da mesma forma e se divertem bastante e meu filho diz:mãe ele parece que ver tudo,e eu falo pra ele que o primo enxerga só um pouco diferente usando as mãos.As pessoas precisam parar de enxergar a criança especial como um alienígena incapaz de fazer as coisas,pois eles conseguem aprender se divertir, fazer birra,enfim ser normal,o preconceito é que é anormal.
ResponderExcluirLi somente agora e estou pasmo. Questiono todas as escolas que "preparam seu filho desde o berçário para o vestibular". Vão todos à merda! Quem é que sabe se meus filhos vão querer prestar vestibular?
ResponderExcluirCom essa mesma metodologia, Samuel, downzinho e filho de uma querida amiga foi avaliado. Disseram que "ele não consegue acompanhar a turma". Ué? Ele tinha obrigação de acompanhar? Pra onde?
Bando de incompetentes e preconceituosos usam a avaliação tradicionalista para a exclusão, isto sim.