Reflexões de um "xiita" da inclusão que acredita no seguinte "Credo Inclusivo" Os textos desse blog podem ser livremente usados e reproduzidos, citada a fonte.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
A deficiência é uma vergonha
Que esse discurso parta de pessoas que acham normais e se surpreendam com as conquistas de pessoas com deficiência me incomoda, mas é compreensível. Afinal de contas elas não estão acostumadas com o fato de que alguém considerado subnormal tenha capacidade para realizar uma série de coisas.
O que incomoda mesmo é esse discurso na boca das pessoas com deficiência ou dos seus parentes.
Pessoas que se dizem convertidas ao credo da diversidade, que reclamam quando a diversidade não é respeitada, que xingam os leigos quando usam expressões como as que citei acima.
E são as mesmas pessoas que dariam a vida para não ser como são. Diversas.
Para elas a diversidade tem valor, mas poderia ter valor nos outros ou nos filhos dos outros, não nelas ou nas suas casas.
Pessoas que entendem que a única solução aceitável para a deficiência com as quais convivem é a busca incessante da cura (se achassem mesmo que a diversidade tem valor, para que curar?)
Pessoas que só vêem valor quando as pessoas com deficiência desempenham atividades que as iguale à normalidade em que acreditam.
Sim, são pessoas que acreditam que "deficiente bom é deficiente quase normal". Que se envergonham das suas deficiências.
Nunca vão lutar pela construção de um mundo que seja bom para todos. Acreditam que esse mundo já existe, e é o mundo dos normais.
Alguém pode me retrucar dizendo: "mas não é bom ter uma deficiência". E eu questionaria o por quê. A deficiência não faz parte da natureza daquela pessoa?
Se o objetivo é mudar a natureza das pessoas, eu poderia declarar (com o mesmo conceito) que não é bom ser negro, não é bom ser baixo, não é bom ser careca, portanto preciso "curar" essas pessoas para que elas sejam felizes.
Amanhã se comemora o dia internacional da pessoa com deficiência. Exatamente o que vamos comemorar? O reconhecimento da diversidade como valor, ou a conquista de normalidades?
Acompanhem o noticiário e depois me digam.
Descrição da imagem: foto de um homem de braços cruzados, com um saco de papel escondendo o seu rosto.
16 comentários:
"Censura é o uso pelo estado, grupo ou indivíduo de poder, no sentido de controlar e impedir a liberdade de expressão. A censura criminaliza certas ações de comunicação, ou até a tentativa de exercer essa comunicação. No sentido moderno, a censura consiste em qualquer tentativa de suprimir informação, opiniões e até formas de expressão, como certas facetas da arte"
Como bem diz a Cristiana Soares no seu ótimo "Como lidar com o anonimato nos comentários" , o processo de aceitar posts anônimos nem sempre é fácil. Eu optei por permitir que qualquer um escreva seus comentários sem censura.
Mas fica um "disclaimer", ao estilo do mencionado no artigo :
Eu me reservo o direito de excluir comentários e textos que julgar ofensivos, difamatórios, caluniosos, preconceituosos, que sejam de alguma forma prejudiciais a terceiros ou textos de caráter promocional. Baixo calão fora de contexto idem ibidem.
uuuhhh! soco no estômago!
ResponderExcluirFábio, excelente texto!
ResponderExcluirDe fato, amanhã não faltarão exemplos de "superação" na nossa mídia!
Abraços,
Vinicius - CVI-Campinas.
Não quero ser normal nem anormal, quero ser EU, será que deixam???
ResponderExcluirEm Londrina, no Congresso Sobre Síndrome de Down onde nos conhecemos, uma das grande autoridades médicas do país sobre a síndrome de Down, o Dr. Zan Mustacchi repetiu essa frase 5 vezes seguidamente para um público de cerca de 1000 pessoas, entre pais, profissionais e etc: "não é bom ter uma deficiência" Nunca engoli isso, com todo o respeito que o Dr. Zan merece. Nem nunca li uma linha a respeito disso também. Bom, está dito. Na oportunidade fiquei aturdido, deveria ter levantado e ido embora. Estranho encontrar a mesma frase no seu texto.. Você lembra disso?
ResponderExcluirLúcio
ResponderExcluirO Melero tem um quadrinho que mostra as visões do modelo deficitário e a mudança para o enfoque competencial.
A visão médica, dentro do enfoque deficitário é que a deficiência (qualquer uma), é uma doença que precisa ser curada. Doença é "do mal".
Não ouvi a frase. Desde que eu me converti ao modelo competencial eu só ouço um médico (que é o Zé Moacir) que não fala de medicina, mas de normoses.
Certamente é uma frase que devia estar latejando no meu inconsciente.
Texto claro como a água, uma beleza,
ResponderExcluirbeijos
Fábio, mais uma vez voce acerta na mosca. Nunca tinha parado para pensar, pois sempre vi meu filho como ele é nunca como deveria ser....aliás deveria ser por que??? afinal ser diferente é normal
ResponderExcluirUm abraço - Narli mãe do José
Narli
ResponderExcluirDiscordo. Ser diferente não é ser normal.
Ser diferente é ser.
Justamente essa preocupação em ser normaç que me incomoda e sou totalmente contra esse slogan
Fábio:
ResponderExcluirAcompanho seu blog diariamente e mais uma vez me impressionei com seus textos.Parabéns!
Algumas vezes discordo,mas mesmo discordando sei lá concordo de alguma forma, seus textos me fazem refletir.
Obrigado pelas contribuições, seu blog sempre é assunto nas reuniões que coordeno!!
Fábio, sou repórter do site de Empregos do iG (http://empregos.ig.com.br) e estou fazendo uma matéria sobre o teletrabalho como inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
ResponderExcluirGostaria de fazer uma entrevista com você por telefone ou e.mail sobre o assunto.
As perguntas são:
- Você acha que o teletrabalho pode ser uma solução para incluir as pessoas com deficiência no mercado de trabalho?
- Que tipo de estrutura (financeira, educacional, da própria casa) essas pessoas devem ter para realizarem bem o trabalho?
É isso. Eu fecho a matéria amanhã, quarta-feira, dia 9/12.
Meu e.mail é:
mcnomura@hotmail.com
Obrigada e um abraço,
Carolina Nomura
Oi Fabio,
ResponderExcluirVocê pode me informar seu email para que eu possa entrar em contato contigo?
Obrigado!
Gosto muito de vir aqui ler exatamente o que desejo ler,pensamentos que vêm ao encontro dos meus...
ResponderExcluirQuando saio com a minha filha, mesmo para a casa de parentes e pessoas "amigas",eu, que esqueço como a rotulam, me vejo surpresa com exclamações:-Que lindo ela usa os talheres direitinho...ela sabe como se comportar...Que lindo!ela conversa...e por aí vai.
Minha filha não tem rótulos, ela é uma pessoa com características como meus outros filhos:o mais velho é careca e a outra se cura de síndrome do pânico.Será que devo apresentá-los assim?
Todos nós somos pessoas!!!
Um abraço!
Sonia Regina.
Fabio,
ResponderExcluirApesar de não me pronunciar frequentemente, acho que já te pedi para eternizar este blog. Estou sempre lendo seus textos, e às vezes os encaminho a algumas pessoas e escolas, citando o blog.
Mas confesso que fiquei confusa ao ler este texto, e ora concordava, ora discordava com o que você escreveu.
Embora concorde com sua visão de que "ser diferente é ser", pois detesto o termo normalidade, fico feliz com alguns progressos que acompanho na clínica onde o Bernardo faz terapias, e sinceramente acho que isso é um estímulo para que a pessoa melhore ada vez mais sua qualidade de vida em vários aspectos, afinal, ir bem em uma prova, conseguir completar um circuito depois de suar a camisa, conseguir completar uma frase para se fazer entender e alcançar o que se deseja é gratificante para todos nós. Tendo em vista que a pessoa com deficiência tem a deficiência e isso não tem como ignorar, acredito que se ela vence um obstáculo que para ela foi bem mais difícil, com certeza isso deve ser comemorado. O conformismo não é bom para ninguém, na minha opinião. Ao mesmo tempo que também acredito que essa inansável luta pelo alcance da normalidade do deficiente é ridícula. Por isso comemoro as vitórias dos meus dois filhos (que você já conhece) da mesma forma. E acredito também que a mídia mostra os incontáveis exemplos de "superações" porque graças a pessoas como você unem forás para que as pessoas com deficiência sejam mais notadas como "pessoas" na sociedade e no mundo.
E se me permite, aquele vídeo do Samuel que está no youtube falando sobre o "bem estar" é fantástico e tenho certeza de que você se orgulha disso e quis dividir esse momento com todo mundo.
Grande beijo, te admiro muito!
Cristiane Zamari Diogo.
Cris
ResponderExcluirAs conquistas dos nossos filhos são deles em relação a eles mesmos. O problema é quando as pessoas querem mostrar essas conquistas como prova da "inexistência" da deficiência, como se essa fosse um pecado mortal.
Claro que cada um precisa ir em busca das suas potencialidades e investir nelas. É isso que fazemos.
O Samuel e o Bernardo tem méritos pelo que eles alcançam. Mas isso não quer dizer que valham menos pelo que não alcançam.
Por outro lado, o excesso de exposição midiática de algumas pessoas com deficiência, ás vezes me soa como "olha só o que esse coitado conseguiu fazer, apesar da deficiência"....
Possuo deficiência decorrente de paralisia cerebral. Minhas limitações só me levaram a superá-las, bem como o estabelecimento de metas e as conseqüentes conquistas em minha vida. Na verdade, creio que se não houvessem estas pedras em meu caminho não teria alcançado aquilo que já alcancei, pois não há vitória sem luta. Sou apenas uma pessoa normal, com minhas limitações e características que me favorecem em determinados campos. Já sofri e sofro preconceito, entretanto, nosso sucesso é a nossa resposta a estas pessoas e à sociedade.
ResponderExcluirVisitem meu blog, o TRIBUNA DO RIO, ok?
www.tribunadorio.blogspot.com
Fábio...não sei..cada vez que leio os teus textos sou obrigada a buscar uma cadeira bem confortável, para não cair no chão.
ResponderExcluirnão são minhas convicções, mas a necessidade de pensar em coisas q para mim eram tranquilas.
Já escrevi aqui sobre meu filho, ele é deficiente auditivo - e este é ele - mas sim eu preferia que ele tivesse uma audição perfeita.
Porque? Eu não preferia outro filho, mas eu não gostaria que ele passasse pelas dificuldades que passa. E olha que entre todas as deficiências, considero a auditiva com muito bom atendimento. Mas, penso nas insensibilidades que meu filho tem que passar, no custo do aparelho auditivo, na manutenção do mesmo, fonoaudiologia, etc...