sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Férias coletivas


Vou tirar um mês de férias e, durante esse período os blogs não vão ter atualização

O que não significa que você não possa visitá-los e ler algum dos 1.021 textos espalhados pelos 4 blogs que eu publico





Como alguns engraçadinhos tentam usar a área de comentários dos blogs para mandar spam e eu não estarei aqui todo dia para lê-los, durante esse período os comentários serão moderados antes da publicação, quando voltar tiro a moderação.

Um abraço a todos e até a volta

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Me engana que eu gosto

Não passa uma semana em que não leia ou ouça alguém falando a respeito de incluir pessoas com a deficiência X ou Y na escola. O assunto passa por discussões em grupos, por teses de mestrado e doutorado e por infindáveis trabalhos de conclusão de curso (os TCC´s que aterrorizam nossos estudantes universitários).

Eu me lembro que nos primeiros anos do Samuel (meu filho que tem síndrome de Down) eu cheguei a flertar com essa idéia. Comecei a colecionar livros sobre matemática para crianças com SD, alfabetização para crianças com SD. Livros que, por sinal, eu nunca cheguei a usar e joguei todos fora em uma das minhas limpezas de biblioteca (não acreditava neles nem para encaminhar para outras pessoas).

Nunca usei porque, à medida que o Samuel avançava na escola, eu descobri que não existe uma coisa como matemática, português ou geografia para pessoas com síndrome de Down. A ortografia é a mesma para pessoas cegas, paraplégicas ou com síndrome de Down. Não existem tabuadas diferentes para surdos ou pessoas com autismo.

Da mesma forma que descobri que não existe um método pedagógico que atenda homogeneamente todas as pessoas que tem uma mesma deficiência. Meu filho aprendeu cedo a ler, o que não significa que todas as crianças com SD terão a mesma facilidade. Por outro lado, ele não tem a mesma habilidade visual, o que torna a geometria e as artes algo onde ele sempre sofre um pouco.

O que acontece é que os educadores acham que, da mesma forma como a educação é pasteurizada e homogênea para os alunos ditos "normais", devem existir métodos mágicos que resolvam todos os problemas educacionais daqueles que tem deficiência.

Esses educadores foram formados em escolas e universidades onde foram tratados como massa de pastel, não é para menos que repliquem o modelo. Chega a ser engraçado que, quando questionados sobre suas classes homogêneas, eles afirmem de pés juntos que não existem essas classes. Por outro lado ensinam, dão lição de casa e avaliam como se todos fossem idênticos.

A escola onde meu filho estuda teve outra aluna com SD (que saiu de lá porque a família mudou de cidade) e eles não demoraram mais que um mês para descobrir que o que tinham feito com o Samuel não servia para a outra menina. O estilo de aprendizagem das pessoas não está instalado no cromossomo 21.

Querer incluir pessoas por categorias é perpetuar o preconceito e a discriminação (preconceito e discriminação que. algumas vezes, são promovidos pelos próprios grupos excluídos). É alimentar a indústria de escolas segregadas, de livros especializados, de palestras pseudo-inclusivistas.

Enquanto escolas e educadores não perceberem que a inclusão é um assunto da educação, e não da educação das pessoas com deficiência, continuarão a trilhar o caminho errado. Educação inclusiva só existe se for boa para as pessoas com e sem deficiência, com e sem problemas sócio-econômicos, com e sem distúrbios, transtornos ou fragilidade social.

No momento que fizerem essa descoberta, certamente teremos mais gente discutindo educação de verdade e não essa nuvem de fumaça que temos hoje.

Descrição da imagem: história em quadrinhos onde dois meninos conversam. O primeiro diz: "Bolha, como é que você pode ser tão provinciano, reacionário, conservador e recalcado. Isso não te fazmal, não?". O segundo menino responde : "Não, eu tomo meus remédios" (na mão do segundo menino um frasco de pílulas de hipocrisia).
O Cartoon é de Benett

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A deficiência é uma vergonha

As notícias geralmente repetem um discurso muito parecido: "apesar da deficiência ele conseguiu fazer isso ou aquilo". "fulana supera suas limitações", "fulano trabalha como se fosse um funcionário normal"... e por aí vamos.

Que esse discurso parta de pessoas que acham normais e se surpreendam com as conquistas de pessoas com deficiência me incomoda, mas é compreensível. Afinal de contas elas não estão acostumadas com o fato de que alguém considerado subnormal tenha capacidade para realizar uma série de coisas.

O que incomoda mesmo é esse discurso na boca das pessoas com deficiência ou dos seus parentes.

Pessoas que se dizem convertidas ao credo da diversidade, que reclamam quando a diversidade não é respeitada, que xingam os leigos quando usam expressões como as que citei acima.

E são as mesmas pessoas que dariam a vida para não ser como são. Diversas.

Para elas a diversidade tem valor, mas poderia ter valor nos outros ou nos filhos dos outros, não nelas ou nas suas casas.

Pessoas que entendem que a única solução aceitável para a deficiência com as quais convivem é a busca incessante da cura (se achassem mesmo que a diversidade tem valor, para que curar?)

Pessoas que só vêem valor quando as pessoas com deficiência desempenham atividades que as iguale à normalidade em que acreditam.

Sim, são pessoas que acreditam que "deficiente bom é deficiente quase normal". Que se envergonham das suas deficiências.

Nunca vão lutar pela construção de um mundo que seja bom para todos. Acreditam que esse mundo já existe, e é o mundo dos normais.

Alguém pode me retrucar dizendo: "mas não é bom ter uma deficiência". E eu questionaria o por quê. A deficiência não faz parte da natureza daquela pessoa?

Se o objetivo é mudar a natureza das pessoas, eu poderia declarar (com o mesmo conceito) que não é bom ser negro, não é bom ser baixo, não é bom ser careca, portanto preciso "curar" essas pessoas para que elas sejam felizes.

Amanhã se comemora o dia internacional da pessoa com deficiência. Exatamente o que vamos comemorar? O reconhecimento da diversidade como valor, ou a conquista de normalidades?

Acompanhem o noticiário e depois me digam.

Descrição da imagem: foto de um homem de braços cruzados, com um saco de papel escondendo o seu rosto.