sábado, 6 de outubro de 2018

Meu posicionamento eleitoral



Intencionalmente não fiz comentários políticos até agora, mas acompanhei muitos que andaram circulando nas redes que eu sigo. Abaixo seguem algumas conclusões e as minhas recomendações (que não são de candidatos) para meus amigos eleitores.

a)     Nunca estivemos tão mal do ponto de vista de alternativas. Eu voto desde 1982 (não pude votar em 1978 pois quando completei 18 anos os cartórios já tinham encerrado as listas eleitorais para novembro), apesar disso já atuava politicamente desde 1977. Fui nos comícios das diretas, em comícios do MDB em 1982, 1985 e 1986. Apoiei o PSDB na sua criação em 1988. Fiz campanha por candidatos. Tínhamos nessa época uma profusão de políticos notáveis tanto da esquerda quanto da direita (claro, também tínhamos os picaretas de plantão, sobejamente conhecidos como tal). Eleger os constituintes em 1986 foi uma tarefa difícil, tantos eram os candidatos merecedores de confiança e de voto. 
O tempo foi levando embora esses políticos, muitos já morreram, outros tantos se aposentaram. A renovação foi um processo de deterioração contínuo. Não só não surgiram novas lideranças expressivas, como aumentou exponencialmente a quantidade de gente ruim, mal-intencionada e despreparada. Claro que isso me levou para bem longe de qualquer política partidária. Há anos não apoio e nem voto em ninguém.
Não sei se chegamos ao fundo do poço, se ainda não chegamos, estamos bem próximos dele.

b)     Nunca fomos tão antidemocráticos: as pessoas perderam totalmente a noção de como funciona o jogo democrático. Como em qualquer jogo, alguns ganham, outros perdem. E ninguém mais sabe perder. Achamos que precisamos ganhar na marra e, para isso, vale tudo, inclusive jogar sujo (muito sujo) e fora das regras. Agredir, ofender, distribuir notícias falsas, atribuir eventual derrota a teorias de conspiração ou, como no futebol, dizer que a culpa foi do juiz.
Ninguém se iluda achando que isso é coisa da extrema direita ou da extrema esquerda. Gente de todo o espectro político entrou na onda de agredir os candidatos, os apoiadores e simpatizantes dos candidatos e os que não apoiam nenhum candidato.
Não é à toa que temos os candidatos que temos, eles representam bem o que somos como povo.

c)     Minhas recomendações, se é que isso vale alguma coisa:
a.     Vote de acordo com sua consciência, não de acordo com o seu fígado: se você acredita na proposta de alguém, vote nessa pessoa e durma tranquilo por ter votado naquilo que acredita e não simplesmente contra H, B ou C. Para o fígado eu recomendo Epatovis.
b.     Ignore solenemente quem te agredir pela sua escolha eleitoral, mesmo que sua escolha seja anular o seu voto. Se alguém quer se irritar que seja o outro, não você.
c.      Perder é uma consequência da democracia, aceite isso: se seu candidato não for eleito ou não for para o segundo turno, reconheça que os demais tiveram mais eleitores, é simples assim.
d.     Onde tivermos segundo turno você vai ter uma nova chance de escolher: é para isso que existe segundo turno, adotar o chamado voto útil é apenas uma manobra de ilusão política que tentam nos impingir. Não seja tão inocente.
e.     Não perca amigos divergentes, se afaste dos agressivos: você pode conviver muito bem com quem pensa diferente de você e te respeita apesar disso. Você não deve admitir que as pessoas te agridam (por nenhuma das suas escolhas, por mais exóticas que elas sejam).

Pensei em falar também a respeito da incompetência da nossa centro/direita esclarecida e da nossa centro/esquerda competente para se unir contra os extremos, mas isso fugiria do tema que me propus.

Bom domingo e bom voto.

Descrição da imagem: tira de quadrinhos do Armandinho, de Alexandre Beck. Nela o garoto Armandinho está olhando para cima, para adultos que lhe dizem:"Ela foi maltratada e está toda estropiada, mas nem por isso deve ser sacrificada. E todos somos responsáveis por ela estar assim, distraídos com o próprio umbigo não lhe demos o devido valor, mas ela é jovem e, com a nossa ajuda, pode se recuperar e se tornar plena! E ser digna do nome que tem: democracia.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Uma profissão educadora



Eu confesso, num primeiro momento o que me fez ir ao lançamento do livro “Lucy – Uma vida professora” foi o fato de ter sido escrito pelo Jayme Serva, amigo de longa data e, na minha experiência marqueteira, um dos dois melhores redatores que conheci (o outro é o Robson Henriques, que também deixou o métier).

Eu não fui aluno da Lucy. Sequer fui aluno do Santa Cruz, apesar da escola ter passado rapidamente pela cabeça da minha mãe quando eu estava no final do ginásio, ela concluiu que não fazia sentido para uma família calvinista como a nossa eu estudar numa escola confessional católica – ou iria para uma confessional protestante ou para uma escola laica.  Fui para o laico Colégio Rio Branco.

Comecei a ler o livro me deliciando com o texto sempre fluido e inteligente do Jayme e me identificando geograficamente com as andanças da família Wendel em São Paulo.

De repente, um nome salta aos olhos: o do professor de química da Lucy no Colégio Perdizes na segunda metade da década de 30 – Max Gevertz. O mesmo que, 40 anos depois seria meu professor de química no Rio Branco, de quem tenho as melhores lembranças como pessoa e como professor.

Claro que, desde o começo o sobrenome Wendel me soava familiar, mas minha memória não identificava o porquê.

Fui descobrir muitas páginas adiante, quando ele menciona que a irmã de Lucy, Nícia Wendel de Magalhães tivera uma escolinha de inglês na Lapa. Fui confirmar com minha mãe e realmente era o que eu pensava, a Play School da rua Gomes Freire, minha primeira escola de inglês.

Mais que isso, a Profa. Nícia também tinha sido professora de biologia da minha mãe no Campos Salles!

De qualquer forma, independentemente das afinidades geográficas e pessoais, o livro é uma delícia, especialmente para quem ama a educação. Lucy não foi uma professora qualquer, deixou marcas indeléveis na memória dos seus alunos, como professora e como pessoa.

A Profa. Lucy Sayão Wendel ainda é viva, com os seus 94 anos. Tive a oportunidade de vê-la na noite de autógrafos do livro. Uma referência para quem é ou quer ser professor.

O Jayme encerra o livro com um capítulo sobre sua visão da importância da educação para o país. Concordo totalmente com ele: “se a educação não estiver introjetada no composto cultural da sociedade, não há projeto que vingue.”
Como o otimismo faz parte da essência do Jayme Serva, ele acredita que essa introjeção possa ser algo factível, talvez a minha única discordância do texto. 

Diferente dele eu sou um cético e não tenho muita esperança que a sociedade melhore.

O que não me impede de recomendar muito a leitura do livro. Não sei se está à venda nas melhores livrarias, mas certamente pode ser pedido pelo site da Laranja Original.

Descrição da imagem: foto da capa do livro com a imagem da Profa. Lucy em traje de formatura.

sábado, 3 de março de 2018

Mudança de rota, mesmo destino



Em 2009, num texto a respeito de retenção de alunos com deficiência na pré-escola, eu escrevi o seguinte:

“Essas escolas não estão preocupadas em ensinar. Entregam uma inclusão de araque, ao exigirem que as crianças se preparem para a escola e não o contrário. Escolas que não querem questionar seus dogmas imortais. Nem enfrentar o preconceito que negam de pés juntos.

Essas mesmas escolas são as que estão preparando as crianças sem deficiência a serem cidadãos dos séculos XIX e XX com sua pedagogia caduca e seus métodos arqueológicos. Escolas assim mereceriam ser fechadas. Educadores assim, requalificados para outras profissões que não necessitem conhecimento do ser humano.

Para isso é necessário que os pais deixem de acreditar nesse tipo de absurdo e exijam educação de verdade para os seus filhos. Com ou sem deficiência. ”

Em 2017, meu filho de 19 anos, foi aprovado em dois vestibulares de duas grandes universidades particulares, para o curso de pedagogia (sim, ele quer ser professor e professor de crianças).
Numa delas passou na 1ª chamada, na outra em chamadas subsequentes e, como o resultado da segunda saiu depois do início das aulas da primeira, ele acabou optando por ficar onde já estava se adaptando.

Escolha dele, sem pressão dos pais. Eu apenas dei a ele as vantagens e desvantagens de cada uma.
Durante todo o ano ele lutou contra o sistema acadêmico dessa universidade que, em nada difere do meu texto acima.

Uma faculdade de pedagogia que não estava preocupada em ensinar, com uma área de inclusão (sim, a universidade tem um departamento especializado nisso...) de araque pois pouco sabe a respeito do assunto. Com seus dogmas imortais, métodos arqueológicos e pedagogia caduca.

Pior, uma faculdade que está preparando os futuros professores do país, para replicarem esses dogmas, métodos e pedagogia.

Ele foi o primeiro aluno com síndrome de Down dessa universidade. Pensei eu, ingenuamente, uma faculdade de pedagogia vai aproveitar esse fato para criar um “caso de sucesso” e mostrar como eles são bons.

Doce ilusão. Os professores esperavam que ele se “superasse” sem que eles tivessem que fazer nenhum esforço. Nas matérias que repetiu e foi refazer no segundo semestre, os professores fizeram exatamente a mesma coisa do primeiro, esperando resultados diferentes.

O cúmulo foi, numa reunião com a coordenação do curso, depois de ouvir que o garoto estava com dificuldade em relacionar ideias, eu ter perguntado como se ensinava a relacionar ideias e, com cara de tacho, o coordenador e outros professores presentes disseram que não sabiam.

Perfeito. Agora, como eu cobro algo que admito que não sei ensinar?

As únicas atitudes inclusivas da escola foram propostas pelos alunos, colegas do meu filho.
Resolvemos não perder mais tempo. Em 2018 ele foi para uma faculdade menor e, provavelmente menos conceituada, mas que está disposta a enfrentar o desafio, até porque já tem um monte de outros desafios com a qual ela lida diariamente e sabe que inclusão não se limita às pessoas com deficiência (alunos de baixa renda, egressos de EJA, etc).

Ele foi matriculado no 2º semestre, vai aproveitar os resultados da outra faculdade. As aulas começaram na última 5ª feira.

Curiosamente, a matéria das 5as feira é Educação Inclusiva.

É um recomeço, faz parte do jogo, mas ele mantém sua meta inabalável: vai ser um professor.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Xiita convidada - Qual é o papel da escola?


Letícia Ribeiro*

Hoje, em pleno século XXI, ainda temos que nos deparar com perguntas que poderiam ter respostas simples e claras, mas são praticamente impossíveis de responder, de crer, ou de praticar.

Desde a Grécia antiga, e grandes outras civilizações, nos deparamos com a necessidade de educar. Nós mesmos, e uns aos outros.

A educação grega era voltada para uma individualidade perfeita e independente. Grandes e importantíssimos filósofos daqueles tempos são base, até hoje, de nossas sociedades e ciências. A preparação para o desenvolvimento intelectual da personalidade e da cidadania era muito valorizada e necessária para o ser humano, sua virtude e moral.

A educação romana dependia de quem estivesse em casa. Pais e mães eram os principais responsáveis pela educação de seus filhos. A escola organizada ainda não existia, logo, a diferença de escolaridade entre pessoas era grande.

Se você pesquisar no Google, uma grande e útil ferramenta usada por estudantes de hoje em dia, encontraremos a seguinte definição de qual seria o papel da escola: "A escola traz junto de seus objetivos a formação do caráter, valores e princípios morais, que direcionará o aluno a utilizar os conhecimentos aprendidos de maneira eficaz, para que sejam aplicados em favor da sociedade e de uma realidade melhor para todos."

Me parece irônico a citação "a utilizar os conhecimentos aprendidos de maneira eficaz" uma vez que não aprendemos, de fato, coisa alguma.

Somos tratados como máquinas, pessoas que devem decorar em tempo recorde coisas que jamais usarão na vida. O objetivo não é mais a melhora da sociedade, e sim o vestibular X, Y, Z.

"Os melhores anos da vida de seu filho" - slogan da escola. Uma mentira. Várias mentiras.

Por muito tempo defendi minha escola como minha casa. Lugar onde muitas coisas foram criadas, transformadas. Novas coisas aprendidas, novas paixões descobertas, novas pessoas para se conhecer e, quem sabe, amar. Mas hoje, e não só hoje, me vejo cercada de hipocrisia.

Seria o papel da escola escolher nossos amigos? Seria o papel da escola dizer quem é bom para você, quem te desvia do caminho, quem atrapalha? Seria o papel da escola julgar as pessoas por suas escolhas? Puni-las e tornar a vida delas um inferno só por que uma ou duas pessoas acham que estão certas? Seria papel da escola dizer quem amar ou em que medida amar?

Seria papel da escola “escolher por nós ou nos ensinar a escolher? ”

Afinal, onde foi parar a individualidade perfeita e “independente? ”

* Letícia Ribeiro é estudante do 3º ano do ensino médio em São Paulo