sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Aos professores

“Sou professor a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra
o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a
ditadura de direita ou de esquerda.
Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação,
contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais.
Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a
miséria na fartura.
Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo.
Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza.
Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela
some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não
luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo descuidado,
corre o risco de se amofinar e já não ser testemunho que deve ser de lutador
pertinaz, que cansa mas não desiste”.
(Paulo Freire)


Ser professor não deve ser fácil. É preciso ter coragem de enfrentar o mundo, lutar contra as pressões dos alunos, dos pais dos diretores; contra a tensão dos três empregos mal remunerados; contra a falta de tempo para se dedicar mais a cada um dos alunos.

É um exercício diário e estafante de formar pessoas, formar gerações. E essa não é uma responsabilidade que seja leve aos ombros de ninguém, saber que vai formar para manter tudo como está ou para transformar o mundo.

É trabalhar sabendo os limites de cada um ( e a falta de limites de tantos outros) e fazer com que todos sejam ultrapassados. É sonhar sonhos possíveis e impossíveis.

É acreditar que o saber não tem proprietário. Que o conhecimento não tem classe social. Que a cultura não tem fronteiras.

E, ao mesmo tempo, saber-se limitado, humano, falível. Capaz de chorar e rir, de acariciar e esbravejar.

Aos professores que realmente acreditam nos seres humanos, os meus parabéns. Aqueles que não acreditam, meus votos de que, em breve, encontrem sua verdadeira vocação.

E que, cada um, à sua maneira, ajude a construir um mundo melhor.

Descrição da imagem: foto minha, aos 7 anos com Dona Dulce, minha professora do 1o. ano primário na festa de entrega do primeiro livro.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Querida excelência

Minha querida excelência

Minha primeira impressão a seu respeito, eu admito, não foi das melhores. Te conheci através de uma entrevista num jornal e, no meu melhor estilo ogro, desanquei com a sua fala (te chamei de secretária das rampas, lembra disso?). Se leu o que eu escrevi na época certamente a sua impressão a meu respeito também não foi lá essas coisas.

Nosso primeiro encontro pessoal começou de forma constrangedora. Eu sabia que você era uma pessoa com deficiência, mas não sabia exatamente qual deficiência. Estendi a mão ao te ver, o que, por motivos óbvios, você teve de recusar. De qualquer forma aquele encontro serviu para que eu começasse a descobrir que você era uma política incomum. Não tinha a arrogância habitual da classe, nem se julgava dona da verdade, pelo contrário, estava disposta a aprender sobre tudo que reconhecia não saber.

Um dia você me convidou para o seu programa de rádio. Ficamos amigos. Recorri a você quando precisei e fui procurado por você quando você precisava. Você me abriu as portas do seu gabinete e eu escrevi textos para as suas publicações sobre deficiência e inclusão.

Candidata à reeleição como vereadora, você não me pediu votos. Mas eu fiz questão de pedir material de campanha. Não devo ter sido um cabo eleitoral de peso, mesmo assim recebi agradecimentos superiores aos meus préstimos. Candidata a deputada federal, de novo fiz minha parte de campanha.

Ao contrário de outros políticos que se dizem defensores dos "portadores", você não caiu na tentação do assistencialismo. Não afagou egos nem bolsos distribuindo migalhas. Por isso que não tive dúvidas sobre apoiar sua candidatura, mesmo sendo um crítico feroz das gestões administrativas do seu partido.

De novo foi eleita. E bem eleita. Provavelmente será a primeira deputada federal tetraplégica da história do país (me corrija se estiver errado). Tenho certeza que o movimento será bem representado.

Não te dou conselhos, mas faço alguns pedidos. No Congresso você vai encontrar de tudo, tenho certeza que a experiência da Câmara Municipal te ensinou a lidar com as raposas. Seja fiel a seu partido (é a regra do jogo), mas nunca deixe que ele oblitere a sua consciência.

Continue lutando pelos direitos das pessoas com deficiência e não pelas esmolas que seus colegas vão propor para garantir seus currais eleitorais. O seu mandato é importante para todos nós, trate-o com carinho e respeito.

Não vou aceitar o seu pedido de voto no seu candidato a presidente. Os fatos demonstram que tudo que ele fez pela causa foi distribuir verba para instituições segregadoras, manter uma política excludente na rede estadual de ensino e prometer hospitais para reabilitar os coitadinhos (sim, para ele deficiência é um problema médico e não social). Enquanto isso, o governo da outra candidata foi responsável pela maior transformação em prol da educação inclusiva que esse país já viu e pela aprovação do mais importante documento em defesa dos direitos das pessoas com deficiência (que muitos dos seus colegas de partido votaram contra). Eu voto pelos fatos não pelas promessas.

Conte com o meu apoio. Continue contando com os meus textos e meu voto. Aquele café que está me devendo, acho que vou tomar lá em Brasília,

Um beijo carinhoso

Fábio Adiron

Descrição da imagem: Mara Gabrilli e Samuel, meu filho, durante as comemorações do Dia Internacional da Síndrome de Down em 2009