terça-feira, 28 de julho de 2009

O discurso do pavor

As escolas públicas, em todos os âmbitos (municipais, estaduais e federais), estão cheias de problemas.

Classes superlotadas. Professores mal remunerados. Questões de segurança pública. Instabilidade de gestão que muda a cada eleição.

Por isso, de acordo com os inimigos da inclusão, é melhor deixar as crianças com deficiência na rede assistencialista particular.

Desde que a rede assistencialista particular continue a se manter com... verbas públicas.

Mais que isso, muitos dos profissionais que trabalham nessas instituições privadas, são funcionários públicos emprestados. Por sinal , eles odeiam quando perdem essa boquinha e tem de voltar a trabalhar em escolas de periferia, Conviver com a pobreza é muito desagradável.

Há não muito tempo escrevi que menos de 300 dessas instituições recebiam do governo do estado 33 vezes mais dinheiro que as 5 mil escolas da rede estadual, para o atendimento de alunos com deficiência.

Quem recebe tanto dinheiro precisa de argumentos para não perdê-lo. E o principal deles é que a escola pública é uma instituição falida. Para eles, quanto pior estiver a educação pública, melhor.

O discurso dessa pessoas me lembra muito um discurso feito pela atriz Regina Duarte nas eleições de 2002, tentando convencer as pessoas pelo pavor.

O pavor que se quer infundir aos pais é o da escola pública.

Mas a escola pública resiste bravamente. Especialmente onde ela compartilha a gestão da escola com a comunidade que atende.

É verdade que muitos professores da escola pública estão desmotivados. Só levam pancada de todos os lados. Da mídia, dos privatistas e, pasmem, até dos governantes que mesmo estando no poder há décadas alegam que o problema da educação não é dos seus governos.

Depois de tanto tempo privatizando a "educação" de pessoas com deficiência apenas para mantê-las eternamente deficientes chegou a hora de investir em outra lógica.

Claro que não vai funcionar da noite para o dia. Claro que surgirão dificuldades, erros, rejeição e problemas. Mas também é claro que só a rede pública é que vai ter a capacidade de atender todas as pessoas com deficiência (e não apenas alguns privilegiados que tem acesso à rede assistencialista privada).

Entre o que já sabemos que não funciona e a possibilidade daquilo que pode funcionar, eu prefiro a esperança do novo.

Ah, antes que eu esqueça. As escolas particulares também superlotam classes em nome do lucro. Seus professores vivem sob o risco de perderem o emprego. Estão cheias de problemas de segurança (drogas, bullying) e também não tem nenhuma estabilidade na gestão.

Descrição da imagem : cena de um homem apavorado por uma assombração

7 comentários:

Arimar disse...

Fábio.
De pavor falo eu:
Antes de mais nada não me escondo “por trás” da Escola Publica. Após 35 anos. ( e como diz o Nazi) antes que os reaças de plantão perguntem: E ainda não aposentou?Continuo como Educadora da Escola Pública
Tenho algo há dizer.: Só quem realmente foi excluído sabe do que fala. Uma escola pública que queima seus jovens (AI n.05/68- USP) e que como Fênix renasce. Há de se pensar...
Uma escola pública que passa a cada 4 anos por novos “plantonistas”, há que se pensar. Por quem luta por Inclusão, não interessa o espaço, a hora, o momento, as pessoas, o partido, a entidade, a “deficiência”, a “cor”, o “ sexo”, a “religião”.
Simplesmente luta porque acredita (e sem ser piegas ou alienada): Por um mundo onde exista lugar para todos.
Não é fácil! Claro que não é ! Em algumas gestões ( Naira e Cestaro sabem disso)”não haviam condições” (????????)
Entrei na rede Pública em 78, por concurso, e de concurso em concurso , sem padrinho, fui para Orientação, Direção, Supervisão, Chefia, mas nunca esqueci do que é INCLUSÂO.
O mesmo trajeto tracei com a escola particular.Hoje na universidade como Mestre.
Esse discurso não leva á nada, a não ser a “tentativa” desorganizada para contrapor interesses econômicos, políticos e até mesmo de reafirmação do “ego perdido”.
Esvreverei mais, e muito mais.
Beijos.

Vilma A. de Mello disse...

Eu também prefiro a esperança do novo... como diz a música:
" do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo"

Melhores dias virão, basta trabalhar e acreditar

Um abraço

Val disse...

Fábio,
Nós que lecionamos em escolas públicas sentimos todos os dias na pele a exclusão. Não importa a qualidade do trabalho que realizamos o que eles querem são números para o IDEB. Anunciam tantas capacitações e até agora não vi uma se quer. No início do meu trabalho com a educação especial foi tudo maravilhoso, mas agora estamos no salve-se quem puder e a quem puder. Leciono em nome da autonomia, do compromisso com a educação e inclusão, porém encontro todos os dias com pessoas que não acreditam em meus alunos e em seus filhos, pais que ao perceberem que a criança lê acham que ela apenas está reproduzindo o que ouviu em sala de aula.
Mesmo assim ainda quero "dias melhores pra sempre" e acredito que vou conseguir.

Luiz disse...

Fábio gosto muito de conviver com as suas idéias, mas também gosto muito do convívio equilibrado e respeitoso entre todos. Creio que esse seja o destino do processo civilizatório: a convivência harmoniosa entre todos.
Por isto estou escrevendo para você. Amigo, não coloque todos os profissionais e todas as instituições de Educação Especial num mesmo saco. Não é uma coisa só! Além disto, há a necessidade de se fazer uma transição entre um modelo segregado para outro realmente inclusivo. Sinceramente, não vejo com bons olhos este movimento de jogar um modelo no lixo sem que outro já esteja minimamente estabilizado para assumir o seu lugar. Neste momento que vivemos todos são necessários, sem exceção.
Com profundas esperanças, um abraço em todos.
Luiz

Fábio Adiron disse...

Luiz

Não faço a menor idéia de quem você seja. São tantos os Luizes.

Se formos esperar a estabilidade dos modelos, mais tantas gerações vão se perder nesse modelo que perpetua a segregação.

Nossas crianças não podem mais esperar.

Anônimo disse...

Boa noite!
Acho que vc esta exagerando amigo Fabio!
Tenho direito a escolha com mae DE UM DOWN.
MEU FILHO SOFREU MUITO EM ESCOLAS COMUNS E FICOU DOENTE!
Ele nao vai masi estudar em escolas comuns,e nao tenho vergonha que ele seja DOWN E COM DIFICULDADE INTELETUAIS.
EU QUERO QUE MEU FILHO CONVIVA COM OS IGUAIS A ELE!
NAO GOSTARIA AMIGO FABIO DE PASSAR PELO QUE PASSEI MAIS!
POIS A ESCOLA COMUM E PARTICULAR ESTAO ACABADAS EM TODOS OS SENTIDOS E NAO TEM MUITO MALDADE!
ESCREVEREI MAIS,NO MOMENTO ESTOU ASSUTADO COM VCS,POIS TENHO DIREITO A ESCOLHA E LIVRE EXPRESSAO!
MUITA LUZ E PAZ PARA TODOS!

Fábio Adiron disse...

Eliete

Seu comentário reflete exatamente como o discurso do pavor é eficiente.

Se você lesse o texto do documento com cuidado não precisava ter nenhum desses medos.