sexta-feira, 12 de março de 2010

Não existe educação inclusiva

Questionado sobre a existência de algum bom curso de especialização em educação inclusiva fui obrigado a responder ao meu interlocutor que não conhecia nenhum, mesmo porque eu não acreditava na existência de nenhum curso sobre esse assunto.

Diante da surpresa da pessoa à essa minha afirmação expliquei que o mercado está cheio de cursos que se batizaram com esse título, mas nenhum deles é um curso de educação inclusiva, são cursos para a integração de pessoas com deficiência na escola regular. Não estão preocupados em como tornar a escola um local de qualidade para todos mas, apenas e tão somente, querendo preparar pessoas para receber alunos com deficiência.

E se estamos falando de inserção de um grupo específico de pessoas isso não é inclusão.

Também não se trata de inclusão quando esses cursos focam parte do seu currículo nas características fisiológicas das deficiências. Como se para um professor fizesse alguma diferença saber se a cegueira do seu aluno foi provocada por glaucoma, diabetes ou por algum acidente.

E, mesmo se fizesse, nem por isso duas pessoas cegas pelas mesmas causas poderiam ser educadas da mesma forma. As pessoas com deficiência não são pacotes homogêneos de acordo a deficiência que possuem.

O modelo deficitário ressaltado nesses cursos leva as pessoas que o fazem a acreditar que especialistas médicos vão resolver o problema da educação. Isso apenas reforça a idéia de que é o aluno com deficiência é que precisa se preparar para ser aceito na escola. Se fosse inclusão estariam discutindo o que a escola precisa fazer para atender todos os alunos.

Nenhum desses cursos deixa de falar em legislação, pena que sejam apenas os artigos das leis que garantem a educação para as pessoas com deficiência, deveriam estar lendo a LDB inteira e não só um pedaço. Aí sim descobririam que avaliação é algo decidido pela escola e que ninguém é obrigado a dar prova em 50 minutos e notas de 0 a 10.

Um curso que ensine seus alunos a respeito de como educar todas as crianças. Um curso que ensine a explorar o potencial de cada uma. Um curso que fale de escolas que atendam, com qualidade todo mundo. Um curso que ensine as leis e diretrizes da educação do país. Isso sim seria um curso inclusivo.

Para não deixar a pessoa que me questionava na mão, fui ver se descobria algum curso com esse perfil. E descobri. Atende pelo nome de pedagogia.

Educação inclusiva não é uma modalidade de ensino é a própria educação. Não é uma especialidade, se for, deixa de ser inclusiva.

Precisamos de escolas que preparem os professores a serem educadores de todos? Claro que sim. As nossas faculdades de pedagogia hoje preparam seus alunos para serem educadores dos alunos "médios", uma aberração estatística inexistente na vida real. Precisamos de pedagogos que estejam preparados para educar pessoas. Todas as pessoas.

Quando a formação dos professores for inclusiva ninguém vai precisar correr atrás de pseudo-especializações.

O que todos nós precisamos mesmo é de boa educação.

Descrição da imagem: desenho de adultos e crianças formando uma roda. São pessoas de várias etnias, cores, religião e condição física.

10 comentários:

Tchela. disse...

Nossa! Parece que você leu meus pensamentos! Eu sempre digo que nunca fui incluída na escola, porque nunca me senti excluída, porém sei que eu tive sorte. Eu bem sei que a escola não é pra todos como deveria ser, pois, tendo filhos, vejo a dificuldade dos professores em lidar com alunos fora da "média", independentemente de possuírem deficiência. A gente segue em frente, batalhando por essa escola "preparada" a aceitar e entender que todos somos diferentes e não existe aluno padrão.
Beijo

Consciência Nutricional disse...

O que falta é boa educação em todos os setores, a escola é um reflexo da "falta de educação" que assola a sociedade!
E sem querer você acaba de dar uma grande idéia às "casas de comércio educacional": "Curso de Especialização em Boa Educação", ha, ha, ha...

Unknown disse...

Fabio!!!
É isso!Tão obvio,e me parece tão distante. Uma utopia possível.

Anônimo disse...

Fabio, mais uma vez eu agradeço o seu texto isso facilita bastante as minhas aulas....
Espero quando crescer saber escrever como vc...
Mas faço uma pergunta e espero ser provocativa...como fazer para que a grande maioria das pessoas e especialmente os professores tenham essa compreensão? A possibilidade de um curso com apoio de textos como os seus e debates não podem despertar para a abrangencia do que é educação?

ricali@terra.com.br disse...

o comentário não era para ser anonimo não e a falta de habilidade mesmo....
Sou eu Eliane Andreoli

eliane disse...

não era para sair como anonimo o comentário esta assinado por mim
Eliane Andreoli

Priscila Felix disse...

Isso mesmo!

Sempre me questionei: "Por que as pessoas ainda discutem sobre a inclusão?"

Na minha opinião, não deveríamos nem discutir sobre o assunto, a inclusão deveria simplesmente acontecer! Um processo natural do ser humano, respeito às diferenças.

Parabéns pelo texto!

Priscila Felix

Vilma A. de Mello disse...

È exatamente isso que precisamos, professores formados para ensinar com qualidade todas as pessoas. Quanto aos tais cursos, até neurologista vai dar aula, pode? o que professor precisa saber de neurologia?

Regina Heidrich disse...

Caro Fabio

Trabalho com educação inclusiva há 12 anos e vejo que falta formação de professores e cidadãos em todos os níveis no nosso país e nas melhores cidades do mundo. Tenho um blog que aborda estas questões http://www.inclusodepneesnaescola.blogspot.com/.
Mas gostaria de contribuir afirmando que no RS,onde trabalho temos um mestrado em inclusão social e acessibilidade que pensa a inclusão em todos os níveis .http://aplicweb.feevale.br/site/hotsite/default.asp?intIdHotSite=32&intIdSecao=1522&intIdConteudo=21345&intIdPai=18848&intmenu=3
Abç
Regina

EC disse...

Não sei como aqui vim parar mas gostei do seu ponto de vista!!