sábado, 3 de março de 2018

Mudança de rota, mesmo destino



Em 2009, num texto a respeito de retenção de alunos com deficiência na pré-escola, eu escrevi o seguinte:

“Essas escolas não estão preocupadas em ensinar. Entregam uma inclusão de araque, ao exigirem que as crianças se preparem para a escola e não o contrário. Escolas que não querem questionar seus dogmas imortais. Nem enfrentar o preconceito que negam de pés juntos.

Essas mesmas escolas são as que estão preparando as crianças sem deficiência a serem cidadãos dos séculos XIX e XX com sua pedagogia caduca e seus métodos arqueológicos. Escolas assim mereceriam ser fechadas. Educadores assim, requalificados para outras profissões que não necessitem conhecimento do ser humano.

Para isso é necessário que os pais deixem de acreditar nesse tipo de absurdo e exijam educação de verdade para os seus filhos. Com ou sem deficiência. ”

Em 2017, meu filho de 19 anos, foi aprovado em dois vestibulares de duas grandes universidades particulares, para o curso de pedagogia (sim, ele quer ser professor e professor de crianças).
Numa delas passou na 1ª chamada, na outra em chamadas subsequentes e, como o resultado da segunda saiu depois do início das aulas da primeira, ele acabou optando por ficar onde já estava se adaptando.

Escolha dele, sem pressão dos pais. Eu apenas dei a ele as vantagens e desvantagens de cada uma.
Durante todo o ano ele lutou contra o sistema acadêmico dessa universidade que, em nada difere do meu texto acima.

Uma faculdade de pedagogia que não estava preocupada em ensinar, com uma área de inclusão (sim, a universidade tem um departamento especializado nisso...) de araque pois pouco sabe a respeito do assunto. Com seus dogmas imortais, métodos arqueológicos e pedagogia caduca.

Pior, uma faculdade que está preparando os futuros professores do país, para replicarem esses dogmas, métodos e pedagogia.

Ele foi o primeiro aluno com síndrome de Down dessa universidade. Pensei eu, ingenuamente, uma faculdade de pedagogia vai aproveitar esse fato para criar um “caso de sucesso” e mostrar como eles são bons.

Doce ilusão. Os professores esperavam que ele se “superasse” sem que eles tivessem que fazer nenhum esforço. Nas matérias que repetiu e foi refazer no segundo semestre, os professores fizeram exatamente a mesma coisa do primeiro, esperando resultados diferentes.

O cúmulo foi, numa reunião com a coordenação do curso, depois de ouvir que o garoto estava com dificuldade em relacionar ideias, eu ter perguntado como se ensinava a relacionar ideias e, com cara de tacho, o coordenador e outros professores presentes disseram que não sabiam.

Perfeito. Agora, como eu cobro algo que admito que não sei ensinar?

As únicas atitudes inclusivas da escola foram propostas pelos alunos, colegas do meu filho.
Resolvemos não perder mais tempo. Em 2018 ele foi para uma faculdade menor e, provavelmente menos conceituada, mas que está disposta a enfrentar o desafio, até porque já tem um monte de outros desafios com a qual ela lida diariamente e sabe que inclusão não se limita às pessoas com deficiência (alunos de baixa renda, egressos de EJA, etc).

Ele foi matriculado no 2º semestre, vai aproveitar os resultados da outra faculdade. As aulas começaram na última 5ª feira.

Curiosamente, a matéria das 5as feira é Educação Inclusiva.

É um recomeço, faz parte do jogo, mas ele mantém sua meta inabalável: vai ser um professor.