sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Yo no creo en brujas


Eu não sou um cara supersticioso. Não acredito em sorte ou azar. Nem em forças ocultas.

Mas existem dias que me lembram um ditado espanhol que diz que "eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem".

Hoje foi um dia daqueles e os supersticiosos podem me alertar que 6a feira 13 vai ser só daqui a 7 dias.

Eu participo de diversas listas de discussão sobre deficiência e inclusão. Distribuo notícias sobre esses temas. Logo, recebo muitas mensagens pedindo divulgação.

O dia começou com um seminário onde uma diretora de escola especial (daquelas bem antiquadas e segregadoras) vai falar sobre inclusão. Já fiquei com a cabeça cheia de interrogações, mas não pretendo ir assistir para saber como ela faz essa mágica.

Ainda não tinha me recuperado dessa notícia quando veio uma sobre o lançamento de um livro sobre o "Excepcional". Organizado por uma das nossas maiores universidades. A definição de excepcional, caso não saibam é todo aquele que necessita de recursos auxiliares para adaptar-se a sociedade, ou seja, um modelo baseado na integração, onde a pessoa com deficiência que precisa se adaptar ao meio e não o contrário (que seria inclusivo).

É um termo bastante moderno e atual, como todos sabem. O último livro que encontrei com essa terminologia (antes desse, é claro) é de 1986. Nada mudou em 23 anos, por isso mesmo os autores se referem a deficiência mental (ao invés de intelectual)

Por desencargo de consciência fui no site da editora. Claro, nenhuma opção de acessibilidade.

O dia ainda estava pela metade...

E chegou uma história de mãe. Legal, bonitinha, mostrando as aventuras, desventuras e conquistas. Dentre muitas, uma em relação à escola pública me chamou a atenção : "desisti claro e fui bater em outra freguesia". Claro que desistir sempre é mais cômodo. Deixar a criança em casa e pagar professores particulares é uma alternativa muito inclusiva (especialmente para quem tem dinheiro para isso). Um modelo de militância inclusiva, não acham ?

No final da tarde chegou a cereja do bolo. Inclusão através do esporte. Não que o esporte não possa ser inclusivo, mas esse não era, apesar de usar o termo inclusão em letras garrafais. Aulas de artes marciais só para pessoas com deficiência intelectual (num dos casos especialmente para pessoas com síndrome de Down). O que tem de inclusivo um tatame só de pessoas com SD?

Se alguém souber de um Todome-waza do cromossomo 21 me avise. Sou sedento de aprender coisas novas.

Ainda não são nem 7 da noite e eu já estou pensando em desligar meu computador. Se continuar assim, daqui a pouco é capaz de eu receber a propaganda de um manicômio inclusivo....

Descrição de imagem : desenho de uma bruxa típica, voando numa vassoura

8 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito, Fábio! Melhor que um manicômico inclusivo, só se chegasse na cidade um circo com muitos anões ou se o governo anunciasse a aquisição de uma ilha ou pedaço de terra, lá no centrão do Brasil (bem longe de tudo) para a criação de um cidade inclusiva para onde seriam enviados todos os aleijados (nem ao estilo do "Ensaio sobre a Cegueira" de Saramago).
Por favor, não desligue o micro e nem desista, ok? Precisamos de pessoas com clareza de pensamento e sensíveis como você.
Um beijo.

Maria disse...

Fabio, sobre as Paraolimpíadas qual tua opinião? Queria encontrar um ponto em comum entre ela e este tal "jogo inclusivo", existe?
A luta contra a discriminação seja ela qual for é ingrata, hoje mesmo vi uma moça não conseguir o emprego por ser gorda, mesmo com um curriculum espetacular e um sorriso lindo no rosto. É deprimente.
Beijo.

Fábio Adiron disse...

Sobre os jogos para qualquer coisa eu escrevi em

http://xiitadainclusao.blogspot.com/2008/07/vidas-paralelas.html

Christiane Forcinito Ashlay Silva de Oliveira disse...

Fábio

Eu te conheço e acompanho seus textos desde final de 2006 e ainda sou uma tapada!

Acho que deveria já ser uma expert em inclusão por causa das minhas duas filhas. Estou no último ano de filosofia... (pois é o tempo passa, lembra quando te falei sobre o vestibular?) e ainda agora em 2009 penso; Agora sim a inclusão vai ser feita!

Acho que sou pior que uma cega em tiroteio... Dê um desconto. Não desliga o computador não, não desista.

Meu marido tirou 9,5 no TCO dele, lembra-se que você enviou o material? (tiraram meio ponto porcausa de uma minúncia metodológica, não pelo conteúdo)...

E mesmo assim cá estou ainda engatinhando em termos de inclusão. Ri muito com o que escreveu, compactuo com a sua indignação, mas ao mesmo tempo vejo o quanto sei que nada sei meu amigo.

Grande abraço.

Christiane.

Histórias de muitas vidas disse...

Fábio Não te conheço, mas pelo que tenho lido nos seus textos, te considero uma pessoa bem intencionada em relação aos assuntos relacionados à pessoa deficiente. Contudo hoje lendo um texto seu, fiquei com uma dúvida. Porque você trata com tanto desprezo uma “antiga diretora de uma escola especial” que vai falar sobre inclusão? Não sei quem é a diretora, muito menos qual o assunto que será tratado, mas fico triste com esse tipo de comentário. Certamente deve ter realizado o trabalho dela com dedicação, responsabilidade e com as possibilidades da realidade social da época em que atuou. Se era correto ou não na visão que temos hoje, deve ter realizado um serviço possível naquele momento social. Você provavelmente não acompanhou como eram discriminadas as pessoas com deficiência há alguns anos. Eu sou da época em que certas deficiências eram discriminadas mesmo em escolas especiais. Alunos com Síndrome de Down e algumas deficiências mais graves não eram aceitos mesmo em escolas especiais. As escolas regulares não aceitavam pessoas com deficiência era um atendimento de responsabilidade das escolas especiais. Hoje as pessoas com deficiência são recebidas de forma diferente. As escolas estão aos poucos se tornando inclusivas, ainda não são todas, a sociedade acolhe as diferenças discriminando menos, temos leis que obrigam a inclusão da pessoa deficiente no trabalho, mas não são todas as empresas nem todas as deficiências. Portanto as mudanças vão acontecendo, a sociedade aos poucos toma conhecimento dos direitos iguais, das diferenças entre as pessoas, e da necessidade da igualdade de oportunidades. Como educadora que trabalha com pessoas com deficiência, comemoro esse momento, contudo acredito que não devemos desvalorizar o trabalho educacional especializado, realizado no passado.

Raphaela

Fábio Adiron disse...

Rafaela

Só uma correção, a escola que é antiga e não a diretora.

Minha crítica é a seguinte, as escolas especiais tiveram seu momento histórico e trabalharam nos paradigmas próprios de sua época.

O mundo, a sociedade, as condições de pessoas com deficiência mudaram. Portanto, não acredito que alguém possa falar dentro de um novo paradigma quanto tem sua crença arraigada no antigo.

Não é uma crítica ao passado. Mas é uma crítica sim ao fato de algumas idéias do passado quererem se perpetuar em outras situações históricas.

Também podemos voltar a escrever com penas de ganso, afinal, foram muito úteis no seu tempo.

Histórias de muitas vidas disse...

Fábio,

Sem debates, só diferentes pontos de vista.
Se o mundo mudou foi porque as pessoas o mudaram.Assim são feitas as mudanças. Pelas pessoas! Não existe idéias arraigadas no passado. As pessoas normalmente evoluem em resposta às exigencias dos novos tempos.
Se não fosse assim, ainda estariamos "com pena de ganso" e não trocando pontos de vista pela internet.

Raphaela

Fábio Adiron disse...

Rafaela

Exatamente nesse ponto que eu quero chegar.

Se temos a internet, como defender as penas de ganso?

Se temos a inclusão, como defender a segregação (e o caso que cito é de uma escola segregada mesmo...)

Ou seja, estou falando de alguém que continua no passado e, por isso a minha crítica.