sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Os meus desiguais

Mais uma vez, durante essa semana, fui confrontado com a tese de que as pessoas precisam conviver com os seus iguais para desenvolver a sua identidade.

Eu não entendo nada de psicologia e de psicanálise. Também não entendo porque esse tema de identificação com os iguais só surge quando se refere a pessoas com deficiência ou com aquelas que são consideradas desviantes da normalidade.

Nunca ouço que os gordos barbados como eu precisam formar um grupo de encontros para que possam exercitar suas identidades. Nem que mulheres morenas de olhos verdes deveriam criar uma associação para garantir os seus direitos.
Se eu preciso ver quem eu sou um espelho não é suficiente? Por que preciso me enxergar em outro? Além do que, nem mesmo entre gêmeos, dito idênticos, existe essa "igualdade" preconizada pelos defensores de grupetes segregados.

E aí eu me pergunto: que, afinal de contas é o meu desigual?

A Marta que é mulher enquanto eu sou homem?

O MAQ ou o Paulo que não enxergam?

A Anahi que precisa de um implante para escutar? Ou será a Flávia que não anda?

Será que meu desigual é o Nathan que é negro? Será o Richard que é homossexual? O filho autista da Valéria?

Na verdade são todos e nenhum deles. Todos são meus iguais enquanto seres humanos detentores de direitos e deveres. Todos são meus desiguais enquanto seres humanos únicos e insubstituíveis.

Mesmo o ser humano mais parecido comigo ainda será meu desigual e é nesse ponto que as pessoas não conseguem compreender o que é, efetivamente, o conceito de diversidade.

Meu diferente é qualquer um e não um grupo específico vítima da exclusão. Meu diferente é você que está me lendo.

Diversidade não é defender os interesses de coletivos de gênero, de etnia, de condição física ou de orientação sexual. Ou entendemos que todos são diversos, ou admitimos que todos são iguais, não existe meio termo (ainda que muita gente acredite que "nós somos iguais e eles diferentes")

Ainda assim, muita gente vai continuar procurando criar guetos de seres supostamente iguais. Vai colocar os filhos em encontros de pessoas com as mesmas deficiências que eles tem, educando-os para acreditarem que são seres de um planeta diferente, que só podem conviver com seus espelhos fenotípicos.

Essa é a identidade que eles vão construir, a identidade que a sociedade quer que eles tenham, a identidade que os rotula e os exclui da convivência com todos os demais seres humanos.

Descrição da imagem: uma caixa de botões de roupa de diversas formas e cores

8 comentários:

Vilma A. de Mello disse...

A beleza está na diversidade, perde muito e faz os outros sofrerem quem pensa e classifica as pessoas como iguais

Um abraço diferente

Deumas disse...

É assim mesmo Fabio....também sinto, vejo e convivo com esses rótulos. As vezes até pessoas que ostentam a fama de liberais, formam esses grupos...Ainda bem que você consegue expressar, e muito bem, em palavras esses degraus que acredito eu, vamos subindo como seres velhos e fora de forma degrau por degrau....

Abraço.

INCLUSÃO NO BAIRRO disse...

Inteligentíssimo Fábio.

Nossa! você foi astuto nas palavras, para colocar as questões de forma bem clara. Muitas vezes nós pessoas com deficiencia sentimos ser de outro planeta mesmo. Na atribuição de aulas de professores com deficiencia, quando da utilização de nossa grande luta, reserva de 5% para professores com deficiencia, quando vamos escolher a aula uma supervisora sempre fala: Ha coitadinho, ele não tem uma perna deixa ele passar na frente.
Nunca passamos na frente, nunca não nós permitiram, passamos na frente por umna liminar obrigando o cumprimento da lei.
Este texto nos remetem a várias reflexões.
Excelente,
warley - Movimento de educação inclusiva da Apeoesp - MEIAP

Fábio Henrique disse...

Reconheçamos que o caminho para o entendimento de que somos todos iguais e por isso não há motivos para segregar ninguém é longo, íngreme e cheio de cascas de banana, que às vezes nos faz retroceder em alguns conceitos. Porém, ao alcançarmos o altiplano estável da consciência e aceitação da diversidade, deixamos de entender o porquê de que não pensávamos sempre assim!

Arimar disse...

Fábio.
Muito bom ,MESMO.
Fiquei ainda pensando nos textos de Mantoan, Ligia Assunpção e Boaventura.( Somos diferentes...)
Fiquei também pensando como as coisas ocorrem no dia a dia das escolas e em diferentes espaços e situações.
Ainda temos muito por fazer e lutar.
Beijos.

Tchela. disse...

Se estar entre "iguais" fosse determinante à felicidade, eu estaria perdida. A diversidade me fez crescer e não me sentir um ET. A "segurança" dos grupos de iguais é que gera tantas pessoas inseguras e, sim, preconceituosas e discrinadoras.
Muito bom te ler.
Beijo
Tchela

Rita Mendonça disse...

Adorei!
Já estou divulgando nas terras alagoanas.
Um forte abraço.

Rita

Wellingtonmab disse...

Parabéns Fabio, esse sempre foi o meu sentimento desde que nasceu meu filho. E até hoje meus olhos e o meu coração vivem nesse embalo comum do dia a dia. As diferenças está apenas dentro de nós! Abraços!