Ninguém notou
Ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal
Ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal
(Chico Buarque – Notícia de jornal)
Todos os
jornais de hoje se preocuparam em noticiar que a menina atleta, além de ter se
tornado uma pessoa com deficiência também assumiu o fato de ser gay.
E eu fiquei
me perguntando: e eu com isso? Afinal de contas é uma questão de foro íntimo da
moça. Por que esse destaque todo?
Eu que sou um
homem sem deficiência, branco, cristão, heterossexual e monogâmico não sou notícia.
Se me
tornasse cego, negro, xintoísta, transgênero e poligâmico talvez merecesse uma
nota nas colunas de pessoas exóticas dos jornais.
Ou melhor,
já fui notícia porque tenho um filho com deficiência que, pasmem, estuda desde
sempre numa escola comum.
E tem gente
que acredita que o preconceito está diminuindo ou se diluindo. Pura ilusão de
quem acredita nas histórias da carochinha.
A ênfase que
as pessoas dão para esses estranhos que participam de um mundo diverso só
reforça o fato de que o preconceito é que, de fato, é amplo, geral e
irrestrito.
Se fossem
considerados comuns ou (arghhh) normais, não seriam notícia. E nem seriam alvo
dos comentários de grande parte da população.
“- Você viu?
Fulano de tal saiu do armário...”
“- Quem
diria, um negro foi o primeiro colocado no vestibular da universidade X....”
“- Aquela
moça com síndrome de Down se superou e agora até canta no You Tube...”
No dia em
que o comportamento e as conquistas corriqueiras das chamadas “minorias”
deixarem de ser notícia poderemos, talvez, acreditar que alguma coisa mudou no
mundo.
Mas não é o
que parece que vai acontecer.
Descrição de
imagem: um dos seres estranhos de Greg Petchkovsky, artista surrealista que
cria ilustrações, esculturas e animações. O bizarro e grotesco estão presentes
em suas obras. Nessa imagem o monstro são estranho
está comendo sushi
2 comentários:
Olá vim ao seu espaço pesquisando na internet sobre inclusão e me deparei com um blog reflexivo e ativo na questão de pensar a inclusão. Trabalho com equoterapia. Se quiser me visitar no blog ficarei contente. Obrigada pelo espaço e ideal. Abraço.
http://neuroequineterapic.blogspot.com.br/
Fábio, admiro suas posições e me vejo em muitos dos seus comentários, pois sou pai de Bernardo, que tem síndrome de down e que é uma criança absolutamente normal, pois vive uma vida rigorosamente igual a de qualquer outra criança. Pelo menos vive uma vida que qualquer outra criança deveria viver, brinca, frequenta escola, tem amigos e por ai vai.
Também admiro o seu "xiismo", aliás, me considero também um "xiita". Todavia, entendo que a visão diferenciada diante do que, a priori, pareça ser diferente, não é de todo ruim. Hoje temos uma gama de informações sobre a trissomia 21, seja de ordem técnica ou não, nos seguimentos da saúde, da educação, da sociabilidade, relatos pessoais, enfim. Uma gama de informações que me foram imprescindíveis e que, não fosse a visão diferenciada, talvez não florescessem.
Concordo rigorosamente com você no combate ao preconceito, mas continuo confiando em nosso processo evolutivo e acredito que a humanidade vai superar esse mal. Mas a visão diferente, atenta, preocupada, acho necessária. Até para que aquilo, que possa num primeiro momento parecer diferente, possa mais a frente se verificar perfeitamente comum.
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