Muito se fala sobre políticas de diversidade e inclusão. Antes de mais nada, preciso fazer uma discriminação entre esses conceitos, ainda que o último termo possa soar estranho num primeiro momento.
Diversidade
é algo incontrolável. Ela está por todas as partes. Basta caminhar pela rua e
você estará cercado dela.
Negar a
diversidade seria como entrar nos grotões da floresta amazônica e dizer que,
para você, é tudo igual, enquanto está cercado do bioma mais diversamente
complexo do planeta. É possível? Claro. Inteligente? Nem um pouco.
Isso não
significa que muitas pessoas não rejeitem a diversidade (qualquer diversidade)
e procurem restringir sua existência a espaços segregados. Quando isso não é
possível, segregam a si próprias para ficar longe dela.
A essa
atitude dá-se o nome de exclusão. Ela pode variar das formas mais sutis às mais
violentas, como as tentativas de eliminação de determinados grupos excluídos.
Não é à toa
que, em defesa própria, muitos grupos de excluídos acabem se auto segregando
quando saem em defesa da sua inclusão como grupo. Defender a inclusão de
pessoas com as características X, Y ou Z é, na sua raiz, uma forma de
segregação. Irônico? Muito. Compreensível? Talvez.
Por isso
inclusão ainda é um sonho distante em muitos contextos. Inclusão de verdade é
onde todos participam de tudo com todos os demais. Não é apenas ter o direito
de participar (o que não deixa de ser importante), mas onde cada ser humano
seja bem-vindo sem condições prévias.
É uma
questão de mudança sociocultural que, sabemos, não se constrói da noite para o
dia. Também nunca se construirá se não começarmos.
E aqui
chegamos ao x da questão: estamos realmente começando?
Enquanto
nossas políticas de diversidade e inclusão forem apenas decorrentes de ações
afirmativas para grupos específicos (portanto, uma obrigação legal), não
passarão de cumprimento de tabela.
Enquanto não
passarem de "greenwashing" corporativo para aparecer na mídia,
continuarão sendo maquiagem.
Enquanto
forem direcionadas para esse ou aquele público, permanecerão sendo uma
enganação bem-intencionada.
Vou ser mais
direto: a maioria das políticas de diversidade e inclusão que vemos por aí não
passam de teatro. Um teatro bem montado, com roteiro bonito e atores
convincentes, mas ainda assim teatro.
O problema
não está apenas nas empresas que fazem esse teatro. O problema está numa
sociedade cada vez menos preocupada com o coletivo, que todo dia mata um pouco
mais a alteridade.
Como esperar
inclusão real de uma sociedade que não consegue nem incluir a si mesma numa
reflexão honesta sobre suas próprias contradições?
A inclusão
real exige coragem para sair da zona de conforto. Exige reconhecer que talvez
sejamos nós mesmos os primeiros a precisar ser incluídos numa nova forma de
pensar e agir.
Enquanto não
tivermos essa coragem, continuaremos apenas mudando a decoração da sala
enquanto o teto desaba.