terça-feira, 12 de agosto de 2008

Shampoo e a educação

Experimente passear no supermercado mais próximo. Chegando lá, caminhe até a gôndola de produtos de higiene e repare na prateleira de shampoos. Agora procure um shampoo para cabelos normais. Aposto que você vai ter uma certa dificuldade em encontrá-lo.

Eu fiz isso. O que eu encontrei ? Shampoo para cabelos cacheados, para cachos leves, para cachos definidos, para cabelos normais que ficam oleosos, para cor vibrante, para cabelos mistos, para cabelos secos, para cabelos secos e danificados, para lisos extremos, para lisos e sedosos, para camadas destacadas, para cabelos crespos quimicamente tratados, para cabelos compridos, para cabelos coloridos, para controle de volume, iluminador de cabelos, anti-resíduos (imaginei que todo shampoo tivesse esse objetivo...). Anticaspa, antiqueda, anti frizz (não faço idéia do que seja isso), antiquebra...

E esses são só os que eu me lembro agora. Não vai demorar muito e vão começar os shampoos em blends (ou seja, mistura de tipos diferentes) e, quem sabe, vou chegar num local e pedir : por favor me forneça um com 40% de lisos, 30% seco, 20% antiquebra e 10% anticaspa). Até o limite em que cada pessoa vai ter o seu shampoo pessoal.

O que é interessante é que a indústria de bens de consumo, que cresceu sobre as bases da homogeneização e dos ganhos de escala, já descobriu que as pessoas são diferentes, como necessidades diferentes, comportamento diferentes e, o que interessa para eles : com padrões de consumo diferentes. A diversidade deixou de ser um discurso bonitinho para se tornar um modelo de negócio. Já que é impossível negá-la, adapta-se à ela.

Enquanto isso na educação....a minha voz continua a mesma...e os meus métodos também !

Escolas que antes tinham características, contextos e projetos pedagógicos únicos, passaram a adotar métodos apostilados que partem do princípio que todos os seres humanos foram fabricados com a mesma fórmula, a fabriqueta de robôs, todos programados para aprender da mesma forma, serem avaliados com as mesmas réguas e descartados quando não se enquadram.
Acham que a igualdade é ponto de partida e, se não for, deve ser ponto de chegada. Ou as crianças são todas iguais ou queremos que elas se tornem todas iguais.

Estranho para uma ciência que se diz pertencer ao ramo das ciências humanas, que costumava ser aquela que mais valorizava as características individuais de cada um.

A escola homogênea ou homogeneizadora sempre vai ser uma fábrica de exclusões (e nem estou entrando no mérito dos grupos tradicionalmente excluídos, mesmo porque esses nem conseguem chegar perto dessas "instituições" de ensino).

Acho que está na hora de começar a mandar engenheiros químicos das fábricas de shampoo dirigir as escolas.

4 comentários:

Rita Mendonça disse...

Adorei, como sempre.
E tive a sorte de uma das primeiras, rs.
Cheguei hoje de Recife. Foi maravilhoso. Auditório cheio, pessoas interessadas, que permaneceram até o final.
Você vai gostar muito também.
Um agraço e boa semana.

Anônimo disse...

Não manda engenheiros químicos para escola não...por favor... senão a cada problema que o aluno tiver, vão chamá-los para resolver, como já fazem com outros profissionais de outras areas.A maioria dos pedagogos esqueceram ( se é que um dia souberam...) que pedagogia é uma ciência e que educar é tarefa deles. Quanto mais mandamos profissionais de outras areas, mas eles se acomodam e reforçam o discurso do "Não dá".

Anônimo disse...

Temos que achar pedagogos que entendam a pedagogia como ciência para interferir nessa lenga-lenga das escolas e mostrar como se faz educação inclusiva.

A C L C disse...

adorei! irônico, cômico e real!