sexta-feira, 13 de março de 2009

Duas faces da educação especial

Tenho de admitir que a educação especial anda me surpreendendo. Para o bem e para o mal

De uma lado vejo escolas que se dizem democráticas, modernas e sem preconceitos perpetrando barbaridades que fariam os próceres da educação especial corarem de vergonha.

De outro, com muita satisfação, tenho recebido notícias frequentes de entidades que foram construídas com base na segregação e estão andando em ritmo de fórmula 1 na defesa do direito à educação das pessoas com deficiência.

Uma mãe me copiou um diálogo que teve com a escola onde está a sua filha. A menina está há três anos na escola e até o momento teve desenvolvimento pedagógico igual a zero. Alguém pode alegar que ela tem uma deficiência "severa" o que dificultaria o aprendizado. Isso não deveria servir como desculpa, afinal, para que serve a dita educação especial se não é para lidar com os casos mais complexos ?

No entanto, o que realmente tem dificultado o seu aprendizado é o fato de que a escola não ensina nada. A menina poderia estar alfabetizada, usando o computador como tecnologia assistiva, tendo acesso a conteúdos curriculares. Mas, ah...a coitadinha é "deficiente severa" e, a escola, que se diz especialmente qualificada para atender esse público, funciona apenas como um espaço de ocupação de tempo das crianças que estão por lá.

Se não bastasse todo esse circo de horrores, questionada pela mãe, a coordenadora se disse "a favor da inclusão. Mas que a decisão de incluir é dos pais e não da escola..." (e torcendo para que pais esclarecidos não tomem essa atitude, senão a escola vai fechar).

Nem todas as notícias são ruins. Tem muita gente grande por aí que entendeu que educação especial não é depositar crianças em salas com massinha e material de pintura. Aliás, descobriu que educação especial não é ter uma escola, mas dar apoio especializado às escolas comuns.

Literalmente estão fechando as portas das escolas. Não das instituições (que, aliás, prestam uma série de outros serviços, especialmente de saúde), como alguém poderia imaginar.

Num primeiro momento têm de enfrentar a fúria de muitos pais que preferiam seus "filhinhos especiais" num lugar onde eles pudessem passar o dia sem dar trabalho para eles, pais.

Também estão ouvindo toda a choradeira dos professores municipais que estavam alocados na escola especial em bairros agradáveis e que agora vão ter de trabalhar até em escolas da periferia...

Apesar disso, estão trabalhando seriamente na colocação de seus ex-alunos em escolas comuns (algumas já colocaram todos). E não pense que essas entidades estão oferecendo atendimento educacional especializado no contraturno dos alunos, o que elas estão fazendo é dar apoio para que as próprias escolas comuns dêem conta do recado.

As pseudo-escolas especiais não vão desaparecer, é verdade, afinal sempre teremos pseudo-pais que se valerão desse tipo de serviço de empurra-empurra.

Por outro lado, quem leva a educação à sério só vai se fortalecer. E ajudar a criar seres humanos com direitos humanos e autônomos.

Descrição imagem : jovem com paralisia cerebral (encefalopatia) séria, na seu cerimônia de formatura numa escola comum.

5 comentários:

Arimar disse...

Fábio.
Em nome do "Somos a favor da Inclusão", tenho visto algumas aberrações pedagógica e sociais.
Não é um mandamento: Não usar seu nome em vão?

Christiane Forcinito Ashlay Silva de Oliveira disse...

Fábio

Sabe, você tem toda razão! Melhor, sempre teve toda razão! Não importa qual a deficiência ou dificuldade, a escola especial atrasa!

Em muitos lugares é lugar ou depósito de "crianças" para as mães terem onde deixar e em outros algum trabalho é feito, porém sem muito esforço.

Eu mesma me enganei a este respeito e mais uma vez perdi um ano com uma de minhas filhas pedagógicamente falando, enquanto para outra foi de enorme progresso.

Estou esperta agora, mas ainda sim me acho uma burra por não ter percebido antes. Por não ter brigado mais quando necessário.

A briga inclusive começa em casa também... Tudo foi parte de uma evolução e aprendizado da minha parte, mesmo com o coração aberto à inclusão fui fazendo tudo meio sem saber com quem me aconselhar e depois, enfim...

Cometi muitos erros e me sinto muito culpada. Não tenho como voltar atrás, porém isso também não me desanima apenas me mostra o quanto tenho muito a aprender, o quanto tenho muito que lutar para ganhar minha autonomia para mesmo que ter que lutar sozinha se for necessário...

É um caminho longo, posso não conseguir muita coisa agora mas quem sabe para as próximas gerações...

Desculpe o longo desabafo há ainda muito que ser refletido a este respeito.

Chris

Elis Zampieri disse...

Oi Fábio...Apesar de conhecer a história das escolas especiais, penso que corremos o risco de entrar num discurso generalizante e reducionista quando falamos delas. Acho que mais segregadoras que as escolas são as pessoas, que podem estar aqui ou lá. Dessa forma, penso como você. Podemos falar de pessoas que estão na escola especial com posturas inclusivas e pessoas que estão na escola regular que segregam. Ou o contrário.

Faço parte da educação especial, trabalho dentro de uma instituição especializada que me orgulho de fazer parte e sou feliz pelo que faço, mas com certeza ficarei muito mais feliz no dia em que for transferida para uma outra escola, que agora ainda chamam regular, mas que daqui há alguns anos será simplesmente escola (espero).

Muito bom te ler, este em especial hoje.

Carla Braga Penha disse...

Fabio
Nao gostei muito do comentario da no amiga Cristiane mas até "tento" compreender.Uma escola de educaçao especial jamais "atrasou" os nossos deficientes, pelo contrario...possibilitamos à eles a independencia... a socializaçao. Realmente a inclusão é fato, mas devemos observar o meio físico ao qual as cças são incluidas. As escolas de educaçao inclusivas precisam ser preparadas para receber nosas crianças com tutoras, tradutoras, pajens...etc.´precisamos de uma equipe que atue.A inclusão sim, esta sendo tomada com erros, pois existem cças jogadas em sala de aula simplesmente pelo fato da família aceitar e achar a inclusão bonita.Precisamos respeitar regras e apresentar aos pais a inclusão de fato como deve ser feita, respeitando o limite de cada criança e respeitando tbm socialização que deve ser preservada.

Carla Braga Penha disse...

Fabio
Nao gostei muito do comentario da no amiga Cristiane mas até "tento" compreender.Uma escola de educaçao especial jamais "atrasou" os nossos deficientes, pelo contrario...possibilitamos à eles a independencia... a socializaçao. Realmente a inclusão é fato, mas devemos observar o meio físico ao qual as cças são incluidas. As escolas de educaçao inclusivas precisam ser preparadas para receber nosas crianças com tutoras, tradutoras, pajens...etc.´precisamos de uma equipe que atue.A inclusão sim, esta sendo tomada com erros, pois existem cças jogadas em sala de aula simplesmente pelo fato da família aceitar e achar a inclusão bonita.Precisamos respeitar regras e apresentar aos pais a inclusão de fato como deve ser feita, respeitando o limite de cada criança e respeitando tbm socialização que deve ser preservada.Abraços.