quarta-feira, 15 de julho de 2009

O fim das deficiências?

As notícias médicas recentes estão abrindo um mundo de possibilidades a respeito do futuro das deficiências.

Crianças com paralisia cerebral estão sendo operadas para solucionar problemas de espasticidade. Geneticistas conseguem mapear os genes que influenciam do déficit que pessoas com Síndrome de Down. Outro começam a identificar genes comuns das pessoas com autismo. Próteses inteligentes podem solucionar questões como a surdez e a cegueira.

Eu tenho sérias resistências às chamadas curas milagrosas que nunca foram testadas, gente que aparece na televisão dizendo que o filho ficou mais inteligente tomando suco pancreático de cavalos marinhos, ou promessas vazias.

Também sou radicalmente contra os métodos eugênicos de controle de natalidade baseados em presença ou não de deficiência no feto. Quem gostava disso eram os médicos do III Reich, acreditando que podiam gerar uma raça pura (além de pessoas com deficiência, também pretendiam eliminar negros, judeus, homossexuais...)

Mas vamos supor que o desenvolvimento da ciência permita que os efeitos deficitários sejam resolvidos de forma séria. Teríamos um mundo sem deficiências.

Qual seriam as consequências disso?

A primeira, com certeza, seria uma qualidade de vida melhor para as próprias pessoas com deficiência que lutam cotidianamente contra o preconceito e contras as barreiras que a sociedade interpõe entre elas e o mundo.

Talvez, com isso, perderíamos muito da diversidade humana e a riqueza que ela gera. Certamente a consciência a respeito das diferenças seria quase que varrida da face da Terra e voltaríamos, até nós do movimento em defesa das pessoas com deficiência, a supor que somos seres homogêneos.

Mas poderia acontecer o contrário. Uma vez não tendo mais as deficiências para carregar as culpas do mundo, as pessoas passariam a criar novos fatores de discriminação, afinal o ser humano tem uma necessidade doentia de querer ser melhor do que outros seres, que ele considera menos humanos.

Aí a medicina passaria a buscar a solução para joelhos feios, cabelos arrepiados ou dificuldades com a física quântica.

Afinal o nosso modelo de relação com a diferença é essencialmente um modelo médico. Achamos que todo aquele que não se enquadra nos padrões que a sociedade impõe precisam de cura. Seja do ponto de vista físico, seja psicológico/psiquiátrico, seja moral.

Não sou um ludita a ponto de desprezar os avanços da área médica mas, enquanto a nossa visão estiver obstruída pela crença de que essa é a única saída, não vamos chegar nem perto de uma sociedade que valorize a diversidade.

E sem respeito à diversidade, não existe inclusão.

Descrição de imagem: panfleto racista alemão do período da II Guerra mostrando pessoas de outras raças com o título escrito em alemão que diz: Raças populares servem para serem fregueses.

2 comentários:

CYBELLE VARONOS disse...

Olá Fábio! Gostei desse post, sabe que me fez pensar?
Qdo lutamos pela inclusão social, às vezes, podemos de algum modo discriminar, temos que tomar muito cuidado com as palavras e com as abordagens.
Eu também não acredito em curas milagrosas, tenho muita fé, mas acrdito que com muita luta, estudo e comprometimento é que vamos conseguir...
Um abraço

Anônimo disse...

salamu alaikum irmão vc bem que poderia postar ai também em seu blog os sinais em arabe para surdos seria legal