domingo, 15 de abril de 2012

A cor da alma


Meu café é preto, normalmente muito preto. O que lhe dá corpo é o pó. No meu caso, extra-forte.

Meu leite é branco, como deve ser todo leite. O que lhe dá corpo é a lactose.

Nem um, nem outro existiriam sem água que lhes dá fluidez e vida. Desidratados são apenas poeira inerte.

Mesmo o mulato pingado, mais ou menos escuro ao gosto de cada um, não seria nada se não fosse composto essencialmente de água.

E a água é transparente. Incolor dizem os químicos.

Eu sou branco, palidamente branco, quando muito avermelhado se exposto excessivamente ao sol.

Meu amigo Nivaldo é negro. Bastante negro, exposto ou não aos raios ultra-violeta.

Branca é só a minha casca, como é negra a casca do Nivaldo. Humanos, como somos, nossas almas, como a água, são transparentes.

Dão vida ao corpo, como a água dá vida ao café e ao leite. Alma não tem cor, sua qualidade não se define pela cor da pele, invólucro perecível da existência.

O que não significa que muitos brancos ainda insistam em atribuir almas brancas aos negros que eles consideram de melhor qualidade.

Como se a cor da pele e, nesse caso, da alma, definisse a qualidade ou a humanidade de um ser.

Pior ainda se considerarmos que são justamente as mesmas pessoas que se dizem igualitárias e sem preconceitos que falam essas bobagens.

E, ao falar tamanha asneira, acabam por condenar humanos de outras fisiologias e anatomias que não às suas, à exclusão da sociedade que dizem ser de todos.

Humanos somos. Uma só raça, uma só identidade, um único conjunto de deveres e direitos éticos.

Diversos na apresentação, nas necessidades, nas habilidades.

O que passar disso é discriminação.


Descrição da imagem: uma série de pequenas fotos de mãos negras e brancas realizando diferentes movimentos em conjunto.

7 comentários:

Andrea Tikhomiroff disse...

Maravilhoso, Fábio!!!

Beijos!

Fátima Fernandes disse...

Fabuloso texto!

aldrey disse...

Muito bom teu blog!!E o pior de tudo que vamos sempre sofrer discriminação!!bjs

Claudia Conte disse...

Muito bom o texto, poético e profundo!

Lisabeth Aleoni Arruda disse...

Ola Fabio
Nào precisaria aqui falar da admiracào por suas sábias palavras e profundos Textos..
Textos estes que nos fazem refletir sempre sobre causas que pensamos estarem resolvidas.. mas que na verdade a realidade é outra..
Como o Títilo de Cego Honorário ja lhe foi concedido por um grande homem que mesmo a
Morte tendo lhe Roubado a vida.. esta sempre vivo e presente.. em nossos desafios diários..
Este texto Café com Leite
lhe concede a Mensao Honrosa da expressào... Bravo.. 3 vezes Bravo!
abracos inclusivos
Lisabeth

Roberto de Avillez disse...

Muito bom. Tantas são as cores da alma que não podem ser pintadas com nenhuma paleta de pintor.

Rita Mendonça disse...

Como sempre, adorei!