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Assista o Vídeo aqui, basta clicar!
Compartilhando o afeto é o primeiro capítulo da série Vida em Movimento, este kit foi realizado pelo Departamento Nacional do SESI e pelo Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas. É composto por 25 vídeos e um encarte, com informações complementares.
Os vídeos têm todos os recursos de acessibilidade: audio descrição, Libras, legendas, Libras e legendas e apenas vídeo. Infelizmente a primeira edição está esgotada. É possível assistir e/ou baixar vídeos também no site Bengala Legal
Reflexões de um "xiita" da inclusão que acredita no seguinte "Credo Inclusivo" Os textos desse blog podem ser livremente usados e reproduzidos, citada a fonte.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Xiita convidada - Reflexões de uma professora
Reflexões de uma professora
A visão médico-patológica da deficiência ainda está na cabeça de muitos profissionais da Educação e pior: tem curso de psicologia que ainda trata a educação especial como sendo propriedade exclusiva. Não tenho outra coisa contra o curso de psicologia, ao contrário: tem muita coisa boa. Mas a Inclusão na escola precisa ficar a cargo da Educação, dos Cursos de Pedagogia e em todas as disciplinas, não apenas na disciplina de Psicologia da Educação.
E não estudar "deficiência" mas o ensinar a turma toda e a cada um. Parar com este negócio de caracterizar, categorizar.
Muito legal professor universitário debater o nome de disciplina que continua a conter termos como "excepcionais", que é um absurdo. Mas o nome continua aí... Além de outros vícios, como abordar "características da deficiência dentro da Inclusão". Sabe aquela coisa "eu sou tão bonzinho porque falo da Inclusão...” E descreve o que causa cada deficiência, como é. E muitas vezes aborda "uma Inclusão responsável", com data e hora para acontecer, mas nunca já.
É preocupante quem "trata" o "deficiente" na sala de aula, a "deficiência", a "adequação" da pessoa com deficiência a tudo o que é "normal". É tratar temas tipo: "o deficiente mental na sala de aula". Infelizmente vivi no meu tempo de faculdade, se falava assim, a tal da "uma inclusão" (e o "por favor, não me venha com mais do que isso" muitas vezes dito, sem pudor).
Tive a felicidade de conhecer profissionais super conscientes, atualizados, focando as pessoas, a turma toda, sem misturar jeito de ser com "características da deficiência", tratando a inclusão como a de todos a tudo, o que é maravilhoso.
É estranho, no mínimo, acontecer ainda nos dias de hoje, com tanta informação disponível. É o velho e o novo vivendo no mesmo tempo e espaço. Ainda chegamos lá, no tempo e espaço onde o novo se fixará e o mais novo estará nascendo.
Procuro me manter atualizada, não creio conhecer tudo e tudo o que conheço não considero como pronto, acabado. Tudo evolui e a nossa parte é evoluir junto. Atuando na área da Educação, isso, antes de tudo, é uma obrigação. Procuro saber o que o MEC traz em seu site, bibliografias atuais, Fórum de discussões, notícias em geral, vivendo o cotidiano da escola e muito mais...Quanto a diagnósticos, me arrepio com este papo, porque já vivi situações desagradáveis, de professoras que acham que "aquele" estudante não aprende “porque deve ter tal coisa porque já viu algo assim muito parecido e deve ser mesmo porque ele tem umas coisas assim assado... Tudo a boca pequena, pra depois serem endossadas por outras pessoas porque também já viram isso assim assado... E toma encaminhamento, e toma remédio, e lesa criança, entristece pais... Porque em nome de uma suposta boa ação se faz atrocidades. Entre os que realmente precisam, encontram-se os que não, de maneira alguma, não. Há uma mania generalizada em achar que criança que não pára quieta na cadeira tem alguma coisa errada, não é a aula que está hiiiiper chata, porque, afinal de contas, a vida lá fora da escola é muito mais dinâmica, mais atraente. ”.
A questão de professor ter em mãos testes pra identificar possíveis problemas - e isso é diagnosticar - seja pré diagnóstico como adoram chamar, é preocupante. Professor conhece os estudantes a quem ensina? Sim, mas não tão bem a ponto de sair fazendo diagnóstico e ser endossado nisso. Pra ser otimista, há casos em que o professor percebeu maus tratos ao estudante, denunciou. Percebeu agressividade, questionou pais, conversou com a equipe da escola, todos procuraram observar. Percebeu que o estudante não está enxergando bem, conversou com os pais, que encaminharam. Percebeu que o estudante não está aprendendo, mudou sua atuação - pedagógica - apostou.Os exageros: estudante se diferencia quanto a comportamento, deve ser "algo muito errado", pensa em algo "muito grave", sendo que pode ser algo momentâneo, por uma dificuldade na aprendizagem que a equipe escolar tem toda condição de investir no estudante. Não, muitas vezes já tem os diagnósticos prontos, porque preenchem todas as questões da lista: dislexia e outras "ias", distúrbios tais...
Quanto aos casos já diagnosticados, que precisam de atenção especializada, tomar remédios, não tenho muito que comentar. É comunicação constante entre os profissionais. Mas professor não tem que dar remédio na escola... Nem estudante levar ao ambiente escolar. A medicação é em casa, com a atenção dos pais.
Diagnóstico é pra médico, e ponto final.
Diagnóstico é pra médico, e ponto final.
Imaginam-se todos os professores como pessoas hiper conscientes, bem resolvidas, esclarecidas, que irão responsavelmente fazer encaminhamentos. Não sou a favor de corporativismos... Infelizmente tem muita gente que faz encaminhamento, passando adiante tudo o que considera "problemas de aprendizagem", mas que na verdade são "problemas de ensinagem". Não considero, absolutamente, que seja uma questão de caça as bruxas nem desanimar, achando que se é assim não tem jeito, porque não teremos colaboração... Pelo contrário!!!! Tem muita gente afim que acaba levando consigo pessoas nem tão afim, que se contagiam etc e tal, com o movimento pró-inclusão, com a questão de ensino, se sensibilizando. Mas é preciso, ainda, falar MUUUUITO sobre isso é preciso muita discussão, muita palestra, muita reunião, muita gente contando suas experiências.
Sempre é bom falarmos MUITO sobre Inclusão. Sinto muito quando vejo que as pessoas se calam, evitam discussão, envolvimento. Em nome de uma suposta paz, uma concessão que não faz bem a ninguém. Epa deixo bem claro aqui que para evoluirmos há várias formas de atuação, todas ao mesmo tempo já!!!!
É preciso discutir os absurdos, o que não pode mais acontecer, a falta de consciência, o corporativismo entre os profissionais de educação, que infelizmente, muitas vezes, se unem pra falar bobagem e defender coisa errada, mas errada mesmo, não o que eu acho errado. Infelizmente ainda acontece. Considero importante as pessoas falarem sobre as boas experiências, mas também precisamos brigar pela mudança, pelo cumprimento da Lei.
Não adianta falar de Inclusão e ter na escola o horário específico de recreio em nome de ser "o melhor" porque podem se machucar e por aí a fora... Ter uma sala separada pra ensinar conteúdos... Salinha pra levar e ficar um tempo fazendo testes e mais testes. Os profissionais da área médica, e viva todos com certeza, precisam atender em ambiente próprio, postos de saúde, e precisam estar lá e atender as pessoas. Mas na escola, o que é da escola: salas especiais, ok, para trazer a acessibilidade e promover a inclusão a todos - todos!!! Tipo: sala de informática, biblioteca com equipamento acessível para pessoas com deficiência visual, por exemplo, sala para ensinar Libras, Braille, a usar lupa e etc, comunicação alternativa e quetais - e com profissionais que existem para isso - os professores de educação especial, que há muitos, muitos anos tem ensinado conteúdos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! E tem muito professor de conteúdos escolares que encaminha, dá seu "diagnóstico" pra tal "sala de recursos" que de recursos fica a desejar. Mas precisamos modificar isso, é a tal mudança de olhar da e para a Educação Especial. Professora de conteúdos escolares precisa saber ensinar e bem, conhecer diferentes modos de atuação, estudar bastante. A professora de educação especial e a de conteúdos juntas, mas cada uma com diferente atuação. Como o estudante que não sabe Braille, e precisa saber, vai acompanhar os estudos com seus colegas na sala de aula? Tendo seu horário extra classe para aprender Braille, usar a máquina, reglete e etc.
É preciso discutir os absurdos, o que não pode mais acontecer, a falta de consciência, o corporativismo entre os profissionais de educação, que infelizmente, muitas vezes, se unem pra falar bobagem e defender coisa errada, mas errada mesmo, não o que eu acho errado. Infelizmente ainda acontece. Considero importante as pessoas falarem sobre as boas experiências, mas também precisamos brigar pela mudança, pelo cumprimento da Lei.
Não adianta falar de Inclusão e ter na escola o horário específico de recreio em nome de ser "o melhor" porque podem se machucar e por aí a fora... Ter uma sala separada pra ensinar conteúdos... Salinha pra levar e ficar um tempo fazendo testes e mais testes. Os profissionais da área médica, e viva todos com certeza, precisam atender em ambiente próprio, postos de saúde, e precisam estar lá e atender as pessoas. Mas na escola, o que é da escola: salas especiais, ok, para trazer a acessibilidade e promover a inclusão a todos - todos!!! Tipo: sala de informática, biblioteca com equipamento acessível para pessoas com deficiência visual, por exemplo, sala para ensinar Libras, Braille, a usar lupa e etc, comunicação alternativa e quetais - e com profissionais que existem para isso - os professores de educação especial, que há muitos, muitos anos tem ensinado conteúdos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! E tem muito professor de conteúdos escolares que encaminha, dá seu "diagnóstico" pra tal "sala de recursos" que de recursos fica a desejar. Mas precisamos modificar isso, é a tal mudança de olhar da e para a Educação Especial. Professora de conteúdos escolares precisa saber ensinar e bem, conhecer diferentes modos de atuação, estudar bastante. A professora de educação especial e a de conteúdos juntas, mas cada uma com diferente atuação. Como o estudante que não sabe Braille, e precisa saber, vai acompanhar os estudos com seus colegas na sala de aula? Tendo seu horário extra classe para aprender Braille, usar a máquina, reglete e etc.
Importante destacar que adequações arquitetônicas (edificações, mobiliários, materiais de apoio específicos para trazer a inclusão, como pranchas de comunicação etc) são fundamentais, mas não são matérias de ensino para quem vai dar aula, e demanda trabalho em equipe - escolas e profissionais como fisioterapeutas, psicólogos, arquitetos e outros tão importantes quanto.
Avaliação: a da escola precisa ser muito bem pensada. Mesmo quem opta por não fazer a avaliação de conteúdos tem que prestar muita atenção no desenvolvimento do estudante, fazer sempre anotações, sempre. Não sou contra a avaliação, mas que ela não seja padrãozona, padronizadora, sem considerar o desenvolvimento individual em relação ao conteúdo ensinado. Mas prefiro mesmo a avaliação individual, com anotações diárias. É mais justa e producente. Principalmente para a reflexão do professor quanto ao ensino.
Há um problema muito sério quanto à visão que se tem tido em relação ao que é Educação Especial. Tem gente achando que é o fim da educação especial etc e tal. Na verdade, pensar que professor de ensino de conteúdos tem que saber Libras, Braille, usar equipamentos específicos é temerário, porque se aposta numa coisa para dizer que somente após isso a inclusão acontecerá, o que é mentirinha. E mentirinha contada em cursos de graduação de professores. Claro que temos capacidade de aprender tudo isso, mas a inclusão não se dá após isso. E professor que se gradua em educação especial e se dedica a ensinar especificamente Braille, Libras etc, também não precisa aprender a ensinar conteúdos escolares, obrigatoriamente. É bom saber, conhecer, ter esta experiência para melhorar sua atuação, mas esperar conhecer tudo pra lá na frente fazer a "tal da inclusão", vai tempo. Parabéns aos profissionais que almejam inclusão total e irrestrita desde já. Mesmo achando que pouco sabem, seguem adiante em seu trabalho, enriquecendo a cada dia com novas experiências, fazendo com que a vida escolar das crianças seja rico, prazeroso.
Avaliação: a da escola precisa ser muito bem pensada. Mesmo quem opta por não fazer a avaliação de conteúdos tem que prestar muita atenção no desenvolvimento do estudante, fazer sempre anotações, sempre. Não sou contra a avaliação, mas que ela não seja padrãozona, padronizadora, sem considerar o desenvolvimento individual em relação ao conteúdo ensinado. Mas prefiro mesmo a avaliação individual, com anotações diárias. É mais justa e producente. Principalmente para a reflexão do professor quanto ao ensino.
Há um problema muito sério quanto à visão que se tem tido em relação ao que é Educação Especial. Tem gente achando que é o fim da educação especial etc e tal. Na verdade, pensar que professor de ensino de conteúdos tem que saber Libras, Braille, usar equipamentos específicos é temerário, porque se aposta numa coisa para dizer que somente após isso a inclusão acontecerá, o que é mentirinha. E mentirinha contada em cursos de graduação de professores. Claro que temos capacidade de aprender tudo isso, mas a inclusão não se dá após isso. E professor que se gradua em educação especial e se dedica a ensinar especificamente Braille, Libras etc, também não precisa aprender a ensinar conteúdos escolares, obrigatoriamente. É bom saber, conhecer, ter esta experiência para melhorar sua atuação, mas esperar conhecer tudo pra lá na frente fazer a "tal da inclusão", vai tempo. Parabéns aos profissionais que almejam inclusão total e irrestrita desde já. Mesmo achando que pouco sabem, seguem adiante em seu trabalho, enriquecendo a cada dia com novas experiências, fazendo com que a vida escolar das crianças seja rico, prazeroso.
Tem professor que "mata" a vontade inicial da criança em ir pra escola. Porque é tanta dificuldade que ela passa... Sua aposta sempre é a de que na escola vai APRENDER. Fico triste que só quando vejo professor reclamando de estudante, diagnosticando, fazendo juízos... E a criança? Quais serão seus sentimentos quando se vê num turbilhão de acontecimentos que muitas vezes não compreende? Sendo categorizada, colocada pra aprender conteúdos das salas longe dos seus colegas? Sofrendo o bolem a partir disto? E A CRIANÇA OU JOVEM? COMO ELE FICA COM ESSE AFÃ EM DIAGNÓSTICO? Como se sentem?Agora, como se sente uma criança ou jovem, na escola, quando em dificuldades pra compreender conteúdos, vê valorizados seus esforços, se vê diante de novas oportunidades, e vê que há coerência porque o professor tem o mesmo olhar em relação aos demais?
Estou eu aqui pensando na minha época de escola, quando tive uma puxa dificuldade pra aprender a ler, adoraria que a professora me desse oportunidades sem salientar meus erros. Não desse tanta ênfase ao que eu não conseguia, mas em seus atos me levasse a novos desafios e eu visse o mesmo em relação aos demais no mesmo pé: nem condecorar os estudantes conceito A, nem rebaixar os de conceito C ou D.
Com certeza? Na sala de aula, o conhecimento é constante e se dá em todos os momentos, a professora aprende a ensinar de diferentes modos. E tem desafios: se o estudante está com dificuldades em aprender os conteúdos, busca novas formas, usa recursos visuais, auditivos - grava aulas, filma as experiências e passa pra turma - quando não sabe, vai atrás. Não toma somente pra si todos os problemas, bem como não joga pra cima do estudante. Faz constante reflexões a respeito do seu trabalho.
A Inclusão é desde já. Mesmo sem rampa na escola, sem máquina Braille... E na verdade eu nem precisaria estar dando ênfase nisso agora, porque está escrito: o direito ao ensino na escola comum é para todos, sem senões, nem vírgulas nem reticências. Mas é bom deixar escrito direitinho, porque ainda hoje tem gente querendo o antigo, criança, jovem com deficiência estudando conteúdos em instituições ou salas especiais.
Com certeza? Na sala de aula, o conhecimento é constante e se dá em todos os momentos, a professora aprende a ensinar de diferentes modos. E tem desafios: se o estudante está com dificuldades em aprender os conteúdos, busca novas formas, usa recursos visuais, auditivos - grava aulas, filma as experiências e passa pra turma - quando não sabe, vai atrás. Não toma somente pra si todos os problemas, bem como não joga pra cima do estudante. Faz constante reflexões a respeito do seu trabalho.
A Inclusão é desde já. Mesmo sem rampa na escola, sem máquina Braille... E na verdade eu nem precisaria estar dando ênfase nisso agora, porque está escrito: o direito ao ensino na escola comum é para todos, sem senões, nem vírgulas nem reticências. Mas é bom deixar escrito direitinho, porque ainda hoje tem gente querendo o antigo, criança, jovem com deficiência estudando conteúdos em instituições ou salas especiais.
Aqui onde estou morando temporariamente (Brasiiiiiiiiiiiiil, que saudades do meu povo, das alegrias e tristezas, da vida, do trabalho, de falar com pessoas na minha língua pátria, de me expressar em Português...), quando cheguei, fiquei deslumbrada porque na primeira saída pra conhecer a city (Newcastle/Austrália), vi que todas as calçadas - TODAS - são rebaixadas, os semáforos - TODOS - sonoros, os ônibus - TODOS (ai, gente, cansei, TODOS em tudo, vai...) os ônibus rebaixam na frente na altura da calçada, os trens tem aparelho pra pessoa apertar o botão e ouvir próxima parada e tal.
Deslumbrada, mas nem tanto, porque veio aquele mau humorzinho meu: "ah, isso porque é centro, quero ver na periferia (que é bem diferente do que a gente entende por)". Que nada! Em todo lugar, mesmo Sydney, que tive a felicidade de conhecer, tem TUDO. Fiquei felizaça...Aqui é tudo limpo, a cidade é grande, tem ares de interiorzão, com poucos prédios altos, menos carros nas ruas como a gente costuma ver em cidades grandes. Aqui há uma preocupação do governo em manter esta "ordem" e promover a acessibilidade, bem como proteção ao meio ambiente, conscientização a respeito dos 3 Rs (Reduzir, Reutilizar, Reciclar, nesta ordem).
Uma coisa que achei hiper atraente: as pessoas, nos finais de semanas, vão aos parques públicos. Gentem, eles fazem barbecue (o churrasco deles, bem chinfrim, pra mim que sou filha de gaúchos, bah, tchê!), ficam o dia todo, e é parque mesmo, com gramado, rodeado de avenidas, carros passando etc e tal. Eles não querem nem saber, pegam seus cobertores, estendem na grama e chegam a dormir de "babar"...
Deslumbrada, mas nem tanto, porque veio aquele mau humorzinho meu: "ah, isso porque é centro, quero ver na periferia (que é bem diferente do que a gente entende por)". Que nada! Em todo lugar, mesmo Sydney, que tive a felicidade de conhecer, tem TUDO. Fiquei felizaça...Aqui é tudo limpo, a cidade é grande, tem ares de interiorzão, com poucos prédios altos, menos carros nas ruas como a gente costuma ver em cidades grandes. Aqui há uma preocupação do governo em manter esta "ordem" e promover a acessibilidade, bem como proteção ao meio ambiente, conscientização a respeito dos 3 Rs (Reduzir, Reutilizar, Reciclar, nesta ordem).
Uma coisa que achei hiper atraente: as pessoas, nos finais de semanas, vão aos parques públicos. Gentem, eles fazem barbecue (o churrasco deles, bem chinfrim, pra mim que sou filha de gaúchos, bah, tchê!), ficam o dia todo, e é parque mesmo, com gramado, rodeado de avenidas, carros passando etc e tal. Eles não querem nem saber, pegam seus cobertores, estendem na grama e chegam a dormir de "babar"...
Obviamente tem coisa chatérrima, mas não estou a fim de colocar aqui, porque é tudo o que uma brasileira não está acostumada, choques culturais, digamos assim, vá... Mas vale destacar as agruras a respeito da linguagem: muita gente boa, que tem paciência, speak slowly, please... Mas quando dá de pegarmos gente mal educada... É de chorar. É a mesma coisa quando se pensa na situação escolar, de um estudante com surdez no ambiente em que ninguém sabe Libras, a professora não tem a mínima vontade de aprender, nem andar com uma "colinha", nem promover atividades acessíveis, que, inclusive, a turma toda iria simplesmente a-m-a-r, além de promover uma aproximação maior entre todos. Bom, já comecei de novo...
Observei que aqui a acessibilidade é pra todos, pras pessoas com deficiência, idosos, gestantes etc e tal.
A Inclusão nas escolas, não posso afirmar em todas, me parece estar no mesmo pé que aí, uma vez que aqui também tem instituições... Minha filhinha está numa escola pública (aiiiiiiiiiiiii, gente, que show...), lá tem UMA menina com Síndrome de Down. Bom a escola é pequena, vai desde o que seria uma pré-escola pra cinco anos, até quarta série, uma sala de cada. Perguntei para uma mãe, quando fiz mais amizades, como era a questão de pessoas com deficiência nas escolas e ela me disse que só ia quem tinha o mínimo de condições. Ai, que bão que não dominava o inglês na época, senão ia eu me meter a falar...
No inicio do ano letivo, os pais preenchem um moooooooonte de papel e vem questões como se seu filho tem deficiências, necessidades especiais, se necessita de acompanhante, se tem outros profissionais de apoio como fonoaudiólogos etc. Achei show e tudo o mais.
No inicio do ano letivo, os pais preenchem um moooooooonte de papel e vem questões como se seu filho tem deficiências, necessidades especiais, se necessita de acompanhante, se tem outros profissionais de apoio como fonoaudiólogos etc. Achei show e tudo o mais.
A professora alfabetiza pelo método fonético, ela é superultra preparada pra isso. Profissional com atitudes profissionais o que pode passar como frieza ou algo negativo, mas ela faz seu trabalho hiper bem. Ela não se derrete em sorrisos para os pais, nem tem atitudes infantis ou infantilizadoras (qualquer dia, falo bastante sobre o que penso sobre isso). É que, penso, que a gente está acostumado com a "tia", aqui não tem nadica disso. O duro é quando a pessoa não tem preparo, acha que tem e não busca se informar, já acha que aprendeu tudo no curso de pedagogia, faz uns cursos aqui e ali pra melhorar pontuação pra salário... Lembrando também que quando os pais perguntam o método de alfabetização, tem como resposta "ah, uso de tudo um pouco" ou "ah, é Construtivismo". Aí se você pergunta, "ah, Emilia Ferreiro, Telma Weiz e tal?" E a resposta é "Ããã"???????
Aqui os pais são chamados REALMENTE a participar. Não é fake, brincadeira de faz-de-conta de diretor de escola. A professora faz até calendário para os pais que puderem estar na sala ajudando nos projetos. E em casa, de segunda a quinta (porque final de semana não tem lição) a gente "toma" leitura dos filhos e anota num caderno que ela manda, se leu bem, etc e tal. Gente, meus primeiros anos de escola tinha isso, minha mãe tomava tabuada, leitura em voz alta... hehehehehheehehehheheheh! Hoje, aí, noooossa, uma com medo de mandar lição porque vão considerá-la tradicionalista, outra, enche a turma de lição de casa, adorando ser tradicionalista, aquele monte, que enerva pais. Precisa equilíbrio nénão?
Aqui, os pais estão dentro da escola o tempo todo, mas de maneira organizada, claro né, não pode ficar atrapalhando, mas estão lá, trabalhando na cantina da escola, que funciona com alimentos doados pelos pais, vendendo os uniformes, participando do Conselho Escolar ATIVAMENTE. MESMO. SERIAMENTE. Quase que profissionalmente.
Os pais recebem uma graninha do governo, por filho, pra ajudar no material e uniforme, no primeiro trimestre. TODO material de escola é cedido, eles pedem pra quem puder ajudar, dar um dinheiro pros livros, pra ajudar a escola porque o dinheiro que recebem é curto, e isso a gente conhece aí.
Aqui, nas escolas e parques (alguns) tem trepa-trepa, escorregador, barra pra se pendurar, já vi até uma mini parede de escalada. A gente aboliu tudo isso aí, quando vemos em escolas ficamos logo pensando nos nossos pimpolhos que podem cair... Aqui, eles estimulam muito os filhos a subir e escalar. Se vocês acham que os pais ficam com os olhos super abertos, temerosos, "ai, vai cair...” Que nada, e é interessante, porque passa segurança pras crianças. E a bobalhona aqui quando a filhota (5 anos) começou a fazer o mesmo, ficou toda apavorada, com o tal do olhão etc... Na verdade, esqueci que quando era pequena, pulava o muro da Dona Maria e subia naquela baita mangueira e "roubava" manga até... Cara de pau, às vezes chupava lá em cima, essa é a verdade. Dona Maria me amava... Ai...
Tem uma coisa que achei um horror, mas acho que sou a única a achar isso: os casais recebem uns 2.000 dólares australianos (cerca de 1,70 reais o dólar) por filho que nasce. Eles estimulam isso, "vamos povoar isso aqui, gente". E toma filho. Tem feminista aqui falando pras paredes, porque a grana é boa... (gentem é minha opinião..).
Porque escrevi tanto assim... Ah... Por saudades mesmo...
O Brasil é o que há, gente!!!!!! Maravilhoso. E estamos caminhando muito bem, com garra, disposição pela Inclusão. Muuuuuuuuuuita gente boa...
Patrícia Kast Caminha é professora.
Patrícia Kast Caminha é professora.
Descrição da imagem : foto de Doris Day como professora, na frente do quadro negro, do filme Teacher´s Pet
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sábado, 24 de maio de 2008
Por uma educação especial
A diferença entre homens e mulheres é exatamente de um gene, existente apenas no homem, chamado TDF (em português, Fator Determinante de Testículos). No embrião do sexo masculino, o TDF se manifesta na sétima semana; até então, segundo os geneticistas, o embrião é "sexualmente indiferente".
O que isso quer dizer ? Que uma diferença genética deve mudar toda a forma como são tratados homens e mulheres, a começar na educação formal.
Afinal de contas, se tantas pessoas defendem uma educação diferenciada para pessoas com diferenças géneticas, por que não uma educação especial para mulheres? ou para homens? Certos estavam os nossos antepassados que defendiam escolas separadas por gênero. O que eles não sabiam é que também era necessária uma metodologia específica. Descoberta que revolucionará toda a pedagogia.
Proponho que a questão de gênero passe a ser contemplada pelas secretarias de educação especial em todos os níveis. Desde a definição de currículos (ou será que basta fazer adequações curriculares ?), passando pelas avaliações (o ENEM passaria a ter a versão ENEMM e a versão ENEMF, como as portas de banheiros) até chegar em terminalidades específicas para cada um dos lados. Homens poderão ir só até a livre docência, mulheres serão titulares (para que ninguém me acuse de machismo)
A didática deve ser toda reformada. A partir dessa definição precisamos que os pesquisadores desenvolvam cartilhas de alfabetização diferentes para machos e fêmeas. Isso vai gerar um boom do mercado editorial de livros didáticos, já imaginaram os lucros ?
Matemática para mulheres. Geografia para homens. Podemos segmentar também por etnias (não uso o termo raça porque acredito que somos todos da mesma raça, a humana). Química para mulheres negras deve ser diferente da química para mulheres caucasianas, afinal o projeto genoma vai provar, mais hora, menos hora, que existem diferenças, ainda que mínimas entre essas duas origens.
Pensando bem, as mulheres, caucasianas, também podem ter outras diferenças genéticas. Quem sabe um método de ensino de história para mulheres caucasianas de olhos verdes, diferente do que for usando para as que tem olhos castanhos ?
Claro, as mulheres caucasianas de olhos verdes, podem ter cabelos de cor diferente, nesse caso, mais uma especialização educacional. Se além de diferirem em gênero, etnia, cor dos olhos e de cabelos, elas podem ter pesos e alturas diferenciadas. Acho que vou abrir uma escola especial para mulheres caucasianas de olhos castanhos, cabelos ruivos, altas e de compleição mediana. Vai ser um sucesso.
A grande vantagem disso, é que se conseguirmos segmentar o bastante, teremos certeza de que todos os indivíduos daquele segmento poderão ser tratadas de maneira absolutamente homogênea. Não ? Podem existir formas diferentes de aprender mesmo entre os idênticos ?
Nesse caso, o limite da segmentação será uma didática e uma pedagogia para cada indivíduo, o que talvez transforme a produção de livros didáticos em algo inviável em termos de custos. Que pena.
Claro, que homogeneizar o que é heterogêneo é uma estupidez, isso é óbvio para qualquer educador, nem preciso me deter nessa questão. Acho que preciso pensar um pouco mais em como viabilizar esse ensino em meio à diversidade, será que seres tão constrastantes entre si conseguem aprender juntos num mesmo espaço educacional ?
Você tem razão, acho que a escola não tem futuro se não souber lidar com a questão da diversidade. Não vou ficar rico imprimindo livros didáticos especiais, nem vou conseguir público suficiente para minha escola de ruivas.
A menos que comecem rapidamente a clonar seres humanos.
O que isso quer dizer ? Que uma diferença genética deve mudar toda a forma como são tratados homens e mulheres, a começar na educação formal.
Afinal de contas, se tantas pessoas defendem uma educação diferenciada para pessoas com diferenças géneticas, por que não uma educação especial para mulheres? ou para homens? Certos estavam os nossos antepassados que defendiam escolas separadas por gênero. O que eles não sabiam é que também era necessária uma metodologia específica. Descoberta que revolucionará toda a pedagogia.
Proponho que a questão de gênero passe a ser contemplada pelas secretarias de educação especial em todos os níveis. Desde a definição de currículos (ou será que basta fazer adequações curriculares ?), passando pelas avaliações (o ENEM passaria a ter a versão ENEMM e a versão ENEMF, como as portas de banheiros) até chegar em terminalidades específicas para cada um dos lados. Homens poderão ir só até a livre docência, mulheres serão titulares (para que ninguém me acuse de machismo)
A didática deve ser toda reformada. A partir dessa definição precisamos que os pesquisadores desenvolvam cartilhas de alfabetização diferentes para machos e fêmeas. Isso vai gerar um boom do mercado editorial de livros didáticos, já imaginaram os lucros ?
Matemática para mulheres. Geografia para homens. Podemos segmentar também por etnias (não uso o termo raça porque acredito que somos todos da mesma raça, a humana). Química para mulheres negras deve ser diferente da química para mulheres caucasianas, afinal o projeto genoma vai provar, mais hora, menos hora, que existem diferenças, ainda que mínimas entre essas duas origens.
Pensando bem, as mulheres, caucasianas, também podem ter outras diferenças genéticas. Quem sabe um método de ensino de história para mulheres caucasianas de olhos verdes, diferente do que for usando para as que tem olhos castanhos ?
Claro, as mulheres caucasianas de olhos verdes, podem ter cabelos de cor diferente, nesse caso, mais uma especialização educacional. Se além de diferirem em gênero, etnia, cor dos olhos e de cabelos, elas podem ter pesos e alturas diferenciadas. Acho que vou abrir uma escola especial para mulheres caucasianas de olhos castanhos, cabelos ruivos, altas e de compleição mediana. Vai ser um sucesso.
A grande vantagem disso, é que se conseguirmos segmentar o bastante, teremos certeza de que todos os indivíduos daquele segmento poderão ser tratadas de maneira absolutamente homogênea. Não ? Podem existir formas diferentes de aprender mesmo entre os idênticos ?
Nesse caso, o limite da segmentação será uma didática e uma pedagogia para cada indivíduo, o que talvez transforme a produção de livros didáticos em algo inviável em termos de custos. Que pena.
Claro, que homogeneizar o que é heterogêneo é uma estupidez, isso é óbvio para qualquer educador, nem preciso me deter nessa questão. Acho que preciso pensar um pouco mais em como viabilizar esse ensino em meio à diversidade, será que seres tão constrastantes entre si conseguem aprender juntos num mesmo espaço educacional ?
Você tem razão, acho que a escola não tem futuro se não souber lidar com a questão da diversidade. Não vou ficar rico imprimindo livros didáticos especiais, nem vou conseguir público suficiente para minha escola de ruivas.
A menos que comecem rapidamente a clonar seres humanos.
Descrição da imagem : desenho de Homer Simpson junto a um monte de clones seus
quarta-feira, 21 de maio de 2008
A volta da palmatória
Existem momentos que eu não sei se choro de tristeza ou gargalho com as manifestações grotescas dos nossos governantes.
Como vocês todos sabem, nosso sistema de ensino (em todos os níveis) beira a perfeição. As escolas são modernas, os professores são régiamente remunerados e permanente qualificados. Isso, sem contar o fato de que desde a sua formação os professores contam com que existe de melhor no mundo. Não posso deixar de lembrar que os investimentos em educação são volumosos e crescem ano a ano.
Dentro dessa realidade, é óbvio que se os alunos vão mal nas avaliações nacionais, é porque são um bando de vagabundos e desleixados. E , justamente por serem assim, é que não funciona o sistema de progressão continuada, sabendo que vão passar de ano essas crianças maliciosas e mal intencionadas, propositadamente não aprendem nada do que a escola-maravilha lhes oferece.
Ou será que não é bem assim ? Ou será que a progressão continuada não funciona bem porque os governos não investem mais naqueles que tem maior dificuldade. Ou será que o problema não é de aprendizagem mas de ensinagem ? Afinal, quando olhamos para uma avaliação ela reflete a situação do aluno, mas também a qualidade da escola.
O nosso governador, deve acreditar piamente no absurdo que escrevi aí acima. Recentemente ele saiu em defesa do 'memorex' e prova, afinal ele concluiu que o problema do ensino é que é preciso instituir mais avaliações, aumentar as retenções (e, claro, com isso aumentar a evasão escolar....que só vai favorecer os que estudam em escolas "fortes" que vão ter menos competidores no mercado de trabalho), e excluir mais gente do sistema educacional (oba....vai sobrar mais dinheiro para construir pontes e túneis).
Mesmo porque, de acordo com a secretaria da educação, o problema das baixas avaliações do ensino publico é essa história de universalização da educação. É verdade, quando só as classes médias e alta podiam usufruir da escola pública, tudo parecia melhor. Deixaram os pobres entrar, e deu no que deu.
Podem ir se preparando, em breve deve ser enviado um projeto de lei para reinstituir a palmatória.... (professores, podem já começar sua qualificação em academias de musculação)
Descrição da imagem : uma gravura antiga de um professor chamando o aluno para receber os golpes da palmatória
Descrição da imagem : uma gravura antiga de um professor chamando o aluno para receber os golpes da palmatória
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Um movimento sem proprietários
Toda relação política é uma relação de poder. Quem tem não quer largar, quem não tem fica o tempo todo tentando pegá-lo.
Não é diferente nos movimentos sociais. Alguns se julgam donos do movimento. Outros querem tomar o brinquedo dos outros.
O movimento pela Ratificação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que culminou com uma expressiva votação a favor do mesmo, em primeiro turno, na Câmara Federal, mostrou dois lados dessa questão.
Um dos lados é daqueles que procuram se capitalizar com o resultado, como se fossem eles os únicos responsáveis pelo sucesso. São pessoas e organizações que se avocam a posse dos ideais inclusivos. Que fazem questão de auto citar nominalmente em todas as suas manifestações.
Acreditam que, com isso, vão garantir a liderança que acreditam ter. Certamente muitos serão candidatos a algum cargo público e usarão suas próprias notícias para mostrar como são paladinos da justiça e da liberdade.
Quando contrariados se tornam ferozes. No momento em que o movimento andou mais rápido que seus cronogramas alguns ficaram inconformados. Como se os direitos das pessoas só pudesse ser conquistado de acordo com as suas agendas.
Sem contar aqueles que depois de se calarem durante muito tempo apareceram de última hora, quando a vitória já parecia certa, e tentaram agarrar os louros. Heróis só aos seus próprios olhos.
No entanto, o movimento pela ratificação mostrou uma face muito mais valiosa para todos que participaram dela : o poder que existe na participação de todos, como indivíduos ou coletivos.
Espalhados pela internet e pelas calçadas, nos parques e nas feiras, centenas de indivíduos se mobilizaram. Coletaram assinaturas, mandaram mensagens e telefonaram para os deputados, provocaram a mídia, foram para o corpo a corpo com os parlamentares.
Descobriram que são cidadãos e, como tal, não podem ficar esperando que alguém faça alguma coisa por eles. Direitos são conquistados, não caem do céu.
Principalmente, mostraram aqueles que querem assumir a liderança na base da imposição, que esse também é um direito que se conquista com trabalho, não com discurso vazio ou com elogio em boca própria.
A luta não tem donos porque pessoas não têm donos. Esse é o espírito da convenção : que cada um seja valorizado como um ser humano pleno, autônomo e independente.
Luta que continua, temos mais um turno na Câmara e dois no Senado, depois começa a batalha diária para que as regras da Convenção sejam efetivamente implementadas.
Descrição da imagem : desenho mostrando o rosto de diversas pessoas diferentes
Não é diferente nos movimentos sociais. Alguns se julgam donos do movimento. Outros querem tomar o brinquedo dos outros.
O movimento pela Ratificação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que culminou com uma expressiva votação a favor do mesmo, em primeiro turno, na Câmara Federal, mostrou dois lados dessa questão.
Um dos lados é daqueles que procuram se capitalizar com o resultado, como se fossem eles os únicos responsáveis pelo sucesso. São pessoas e organizações que se avocam a posse dos ideais inclusivos. Que fazem questão de auto citar nominalmente em todas as suas manifestações.
Acreditam que, com isso, vão garantir a liderança que acreditam ter. Certamente muitos serão candidatos a algum cargo público e usarão suas próprias notícias para mostrar como são paladinos da justiça e da liberdade.
Quando contrariados se tornam ferozes. No momento em que o movimento andou mais rápido que seus cronogramas alguns ficaram inconformados. Como se os direitos das pessoas só pudesse ser conquistado de acordo com as suas agendas.
Sem contar aqueles que depois de se calarem durante muito tempo apareceram de última hora, quando a vitória já parecia certa, e tentaram agarrar os louros. Heróis só aos seus próprios olhos.
No entanto, o movimento pela ratificação mostrou uma face muito mais valiosa para todos que participaram dela : o poder que existe na participação de todos, como indivíduos ou coletivos.
Espalhados pela internet e pelas calçadas, nos parques e nas feiras, centenas de indivíduos se mobilizaram. Coletaram assinaturas, mandaram mensagens e telefonaram para os deputados, provocaram a mídia, foram para o corpo a corpo com os parlamentares.
Descobriram que são cidadãos e, como tal, não podem ficar esperando que alguém faça alguma coisa por eles. Direitos são conquistados, não caem do céu.
Principalmente, mostraram aqueles que querem assumir a liderança na base da imposição, que esse também é um direito que se conquista com trabalho, não com discurso vazio ou com elogio em boca própria.
A luta não tem donos porque pessoas não têm donos. Esse é o espírito da convenção : que cada um seja valorizado como um ser humano pleno, autônomo e independente.
Luta que continua, temos mais um turno na Câmara e dois no Senado, depois começa a batalha diária para que as regras da Convenção sejam efetivamente implementadas.
Descrição da imagem : desenho mostrando o rosto de diversas pessoas diferentes
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Vaticínios trissômicos
"O homem nasceu para aprender, aprender tanto quanto a vida lhe permita." João Guimarães Rosa, escritor mineiro (1908 - 1967)
Caríssimos e inominados coetâneos
Desde o Olimpo mégalo paulistano aqui vos fala o oráculo supremo da sabedoria para vos transmitir os insondáveis vaticínios trissômicos.
Não se permitam avaliar ou questionar nenhuma dessas recomendações sob pena de ofender o direito legítimo do proprietário de todas as verdades e fundamentos lejêunicos, além de apostatar do decálogo abúlico :
1. Utilizem sem nenhum critério e sem nenhum filtro de bom senso todas as recomendações que encontrarem nos livros ancestrais, nas páginas de internet, nas mensagens de pânico de e-mail, nas lendas virtuais. Experimentem, experimentem tudo , especialmente as coisas que não foram comprovadas cientificamente, se a ciência não acha respostas para seus questionamentos, ouse ir além da ciência. A vida é uma aventura e mais vale a satisfação de hoje que a expectativa do amanhã.
2. Busquem incessantemente todas as promessas de cura, minerais, vegetais, animais, xamânicas ou não, alopáticas, homeopáticas, idiossincráticas. Suplemente tudo aquilo que você acredita que deva ser suplementado. Essas histórias de hipervitaminose, de overdose, de efeitos colaterais não passam de delírios dos médicos que estão conspirando contra o desenvolvimento da indústria química.
3. Estimulem indefinidamente seus filhos, 4, 6, 8 horas por dia. Se a família for grande e puder se revezar para atingir o perfeito limite de 24 horas por dia, 7 dias por semana, estimulação é mais importante que sono. Não limitem a variedade de estímulos, todos são válidos e quanto mais misturados em termos de conceitos e aplicação, melhor, o segredo é nunca estar preso a uma filosofia e a nenhum modelo. Não seja teimoso e inflexível como soem agir esses iconoclastas.
4. Não aceite nada que não seja especial. Só compre chicletes especiais, só frequente cinemas que passem filmes especiais. Nunca, jamais, em tempo algum, cometa a heresia de ouvir uma música que não seja especial para crianças trissômicas.
5. Principalmente e, acima de todas as especialidades. Nunca permita que seu filho conviva com crianças defeituosas que possuem apenas 46 cromossomos. Esses subtipos de gênero humano podem provocar reações incomuns no seu filho e podem fazê-lo acreditar que existe um mundo lá fora. Fuja dos xiitas inclusivos, são uns nefelibatas, vendedores de ilusões, ao passarem ao lado de algum desses clame em alto e bom som "vade retro...."
6. Medicalize tudo que puder ser medicalizado. Se ele for mexer no computador que seja através de apoio terapêutico, se ele quiser olhar para o céu, que seja só através de lentes préviamente prescritas. Se você acha que essa recomendação contradiz o ítem 2, essa é a intenção, abuse de todos os serviços de saúde e não siga nada do que eles recomendam. Você é pai, você é mãe, só você realmente sabe o que é bom para o seu filho.
7. Não caiam na ilusão de que seus filhos possam ter deveres. Eles são especiais e só tem direitos. Resmungue a respeito de todos os direitos que eles precisam, desde que para isso você não precise se mobilizar para alcançá-los. Direitos precisam cair do céu ou da esplanada dos ministérios. Seja voraz. Queira sempre mais, mais, mais, mais, mais...
8. Nenhum direito é pequeno demais para ser recusado. Aceite as migalhas do poder e as esmolas da população. Aceite a caridade das instituições. Aceite a comiseração, a dó, a peninha....seu filho é diferente, merece tudo isso.
9. Não aceite nada que te ofenda (e sempre se ofenda, especialmente com a má utilização do ponto-e-vírgula e com a falta dos tremas). Queime os livros mal escritos, se possível junto com seus autores (se já estiverem mortos, exume-os para humilhá-los em praça pública), dilacere as revistas, mostre os raivosos dentes nas imagens de TV. Desconsidere que existiu história até o nascimento do seu filho. Nunca tente educar esses insensíveis apócrifos. Eles não merecem piedade nem educação. Só punição severa, exemplar e dolorosa.
10. Abandone todos os grupos, todas as associações (mesmo as ditas especiais), todas as comunidades. Esses lugares estão cheios de gente que adora dar palpite na sua vida. Pensar coletivamente é uma ilusão dos sociólogos. Ouvir os mais velhos é se coadunar à caduquice. Seja você mesmo, egocêntrico, individualista, seja um vencedor por conta própria. Gaste o máximo do seu tempo com as causas menos relevantes e jamais se envolva em movimentos que defendam o direito e a justiça para todos (isso é coisa de comunista que come criancinha, não de um moderno neoliberal globalizado competitivo como você)
Se você chegou até aqui, das duas uma, ou já chamou uma ambulância para mandar me internar (o que me remeterá a luta anti-manicomial), ou percebeu que o texto todo é uma enorme ironia (e, mesmo assim, vai me mandar internar também).
O que não significa que, nos últimos 10 anos (idade do meu filho) eu não tenha ouvido ou lido várias vezes recomendações não muito diferentes dessas. Não se surpreenda se você for um pai ou mãe recém chegado à comunidade de pessoas com deficiência, mas fica uma dica, pegue esses "10 mandamentos" e faça tudo ao contrário do que está escrito.
Não vai ser fácil, mas tenho certeza que seu filho estará muito bem preparado para ser um cidadão autônomo e independente.Também não se surpreenda com o fato de que muitas pessoas não vão ler o texto até o fim e já começarão o apedrejamento. É mais uma das lições que eu aprendi nos últimos tempos, muitas pessoas adoram a sublime arte do monólogo.
Descrição da imagem : gravura mostrando o encontro de Odisseu (Ulisses) com Tirésias, oráculo de Delfos.
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Quem são os normais ?
A discussão semântica nas comunidades que lidam com pessoas com deficiência sempre é apaixonada. Algumas vezes chega a ser radical e rancorosa. Se de um lado temos os adeptos dos eufemismo ou, como preferem alguns, do politicamente correto, do outro temos aqueles que querem ressaltar as diferenças e as deficiências, seja como preconceito, seja como forma de chocar os outros.
Uma dessas discussões gira em torno do conceito da normalidade. Afinal de contas, o que exatamente significa ser normal ? Será que é normal ser diferente, ou é diferente ser normal? Será que o Caetano Veloso estava certo ao afirmar que “de perto, ninguém é normal” ?
A palavra normal vem do latim norma que era um esquadro usado por carpinteiros para traçar ângulos retos, em algumas línguas anglo-saxônicas continua tendo o sentido de perpendicular.
No campo da conduta humana, a diretriz de um comportamento socialmente estabelecido. Por isso, o adjetivo normal refere-se a tudo que seja permitido ou proibido no mundo humano, no mundo ético; e refere-se, também, a tudo que, no mundo da natureza, no mundo físico, ocorre, necessariamente, como descrito num enunciado físico. Anormal é a qualidade daquilo que se mostra contrário às concepções admitidas num dado momento histórico.
Quando olhamos para a questão da deficiência, o uso da palavra normal tem uma origem médica, baseada na ocorrência de determinadas patologias, logo, é uma visão estatística. Ora, uma distribuição normal é uma distribuição contínua que pode variar de mais a menos infinito, ou seja, qualquer ocorrência está debaixo de uma curva normal (já que a área debaixo da curva sempre corresponde a 100% das ocorrências). Pensando estatisticamente, não existe a anormalidade, o que existe são pontos mais próximos ou mais distantes da média.
A primeira definição mostra que é a sociedade (no aspecto ético ou no aspecto de teorização das leis físicas) quem determina os limites da normalidade. Na segunda, desaparece a exclusão, uma vez que todos são normais.
Neste sentido, desejo esclarecer o que entendo por diversidade, o que entendo por diferença e o que entendo por desigualdade. A diversidade faz referência à identificação da pessoa, por que cada um é como é, e não como gostaríamos que fosse. Esse reconhecimento é precisamente o que configura a dignidade humana. A diferença é a valoração (portanto, algo subjetivo) da diversidade, e é exatamente essa valoração que abriga várias manifestações, sejam de rejeição ou de reconhecimento. É a consideração da diversidade como valor.
Como nos diz Maturana, cada homem se diferencia singularmente de outro homem não por razões biológicas, mas sim por que há diferentes crenças, comportamentos e pontos de vista distintos. O respeito à diferença implica o reconhecimento de ser diferente, e a tolerância é o valor essencial de que a cultura da diversidade necessita.
Em uma sociedade sem exclusões sabe-se, desde o princípio, que as pessoas que participam têm diferenças cognitivas, afetivas e/ou sociais, de gênero, étnicas, culturais etc. Por isso, há que organizar a sociedade pensando-se nessas diferenças e não em pessoas hipotéticas. Uma organização cujo epicentro seja a diversidade e não a normalidade.
Viver na diversidade não se baseia, como pensam alguns, na adoção de medidas excepcionais para as pessoas com necessidades específicas, mas na adoção de um modelo de sociedade que facilite a vida de todas as pessoas em sua diversidade. Se isso não é entendido adequada e corretamente, corre-se o risco de confundir "adaptação à diversidade" (que supera a deficiência) com "adaptação à desigualdade" (que ressalta a deficiência).
A imagem é um cartoon de uma vaca de ponta cabeça em cima de uma árvore, perguntando para outra vaca que, no chão, olha assustada : "define normal" !
Uma dessas discussões gira em torno do conceito da normalidade. Afinal de contas, o que exatamente significa ser normal ? Será que é normal ser diferente, ou é diferente ser normal? Será que o Caetano Veloso estava certo ao afirmar que “de perto, ninguém é normal” ?
A palavra normal vem do latim norma que era um esquadro usado por carpinteiros para traçar ângulos retos, em algumas línguas anglo-saxônicas continua tendo o sentido de perpendicular.
No campo da conduta humana, a diretriz de um comportamento socialmente estabelecido. Por isso, o adjetivo normal refere-se a tudo que seja permitido ou proibido no mundo humano, no mundo ético; e refere-se, também, a tudo que, no mundo da natureza, no mundo físico, ocorre, necessariamente, como descrito num enunciado físico. Anormal é a qualidade daquilo que se mostra contrário às concepções admitidas num dado momento histórico.
Quando olhamos para a questão da deficiência, o uso da palavra normal tem uma origem médica, baseada na ocorrência de determinadas patologias, logo, é uma visão estatística. Ora, uma distribuição normal é uma distribuição contínua que pode variar de mais a menos infinito, ou seja, qualquer ocorrência está debaixo de uma curva normal (já que a área debaixo da curva sempre corresponde a 100% das ocorrências). Pensando estatisticamente, não existe a anormalidade, o que existe são pontos mais próximos ou mais distantes da média.
A primeira definição mostra que é a sociedade (no aspecto ético ou no aspecto de teorização das leis físicas) quem determina os limites da normalidade. Na segunda, desaparece a exclusão, uma vez que todos são normais.
Neste sentido, desejo esclarecer o que entendo por diversidade, o que entendo por diferença e o que entendo por desigualdade. A diversidade faz referência à identificação da pessoa, por que cada um é como é, e não como gostaríamos que fosse. Esse reconhecimento é precisamente o que configura a dignidade humana. A diferença é a valoração (portanto, algo subjetivo) da diversidade, e é exatamente essa valoração que abriga várias manifestações, sejam de rejeição ou de reconhecimento. É a consideração da diversidade como valor.
Como nos diz Maturana, cada homem se diferencia singularmente de outro homem não por razões biológicas, mas sim por que há diferentes crenças, comportamentos e pontos de vista distintos. O respeito à diferença implica o reconhecimento de ser diferente, e a tolerância é o valor essencial de que a cultura da diversidade necessita.
Em uma sociedade sem exclusões sabe-se, desde o princípio, que as pessoas que participam têm diferenças cognitivas, afetivas e/ou sociais, de gênero, étnicas, culturais etc. Por isso, há que organizar a sociedade pensando-se nessas diferenças e não em pessoas hipotéticas. Uma organização cujo epicentro seja a diversidade e não a normalidade.
Viver na diversidade não se baseia, como pensam alguns, na adoção de medidas excepcionais para as pessoas com necessidades específicas, mas na adoção de um modelo de sociedade que facilite a vida de todas as pessoas em sua diversidade. Se isso não é entendido adequada e corretamente, corre-se o risco de confundir "adaptação à diversidade" (que supera a deficiência) com "adaptação à desigualdade" (que ressalta a deficiência).
A imagem é um cartoon de uma vaca de ponta cabeça em cima de uma árvore, perguntando para outra vaca que, no chão, olha assustada : "define normal" !
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