terça-feira, 30 de junho de 2009

Por quê sou contra um estatuto


"Triste não é mudar de idéias... Triste é não ter idéias para mudar!" Barão de Itararé


Ressurgiu essa semana a discussão sobre a necessidade ou não de um estatuto especial para as pessoas com deficiência. O motivo é um projeto de lei (na verdade vários projetos que foram apensados) com essa proposta. O projeto que está em discussão é um lixo. Quanto a isso há consenso geral em todo o movimento em defesa das pessoas com deficiência. Ele apenas serve aos interesses daqueles que vivem da exclusão e da segregação. Por isso, nem vou entrar no mérito do mesmo.

Acredito que a discussão de fato é, mesmo que o projeto fosse bom, seria necessário um estatuto? (seria necessário qualquer estatuto?)

Do ponto de vista legal, temos uma infinidade de leis específicas para pessoas com deficiência. Algumas boas, muitas ruins ou antiquadas. Algumas garantidoras de direitos, outras apenas concessão de privilégios. O problema não é a falta de leis, mas a falta do cumprimento delas. Temos muitas leis que nunca foram regulamentadas. Outras tantas que, apesar de regulamentadas, não são fiscalizadas. Pior, uma grande parte das leis não tem mecanismos de punição para quem as descumpre, o que as torna completamente inóquas.

No ano passado conseguimos a ratificação da Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência, com status de norma constitucional. Certamente é uma convenção discriminatória (lembrando que discriminar significa "fazer distinção") pois assume a existência de uma categoria diferente de seres humanos que não estariam cobertos pela declaração universal do direitos humanos. Mesmo assim foi um grande passo para uma população que, antes, não só não era considerada humana, como também não tinha acesso a direitos.

Nesse contexto a convenção passa a ser a diretriz para qualquer lei que venha a ser criada e para a revisão das leis que a contrariem.

Os defensores do estatuto entendem que existe a necessidade de se fazer uma consolidação das leis a respeito das pessoas com deficiência, e o estatuto seria o instrumento para isso. Durante um tempo eu também acreditei nisso.

Um estatuto é uma lei orgânica ou regulamento especial por que se rege um Estado, corporação, associação, companhia, etc. Ele serve para regular questões essenciais, questões referentes a comportamentos, atitudes das pessoas dentro de uma sociedade comum.Oras, se a sociedade é comum a todos, para que uma lei que proteja especialmente alguns? Ah, dirão alguns, porque são grupos historicamente discriminados, porque são cidadãos em estado de maior fragilidade.

Nesse caso não seria o suficiente aplicar a lei que serve para todos? Os direitos de todos não são válidos para as crianças, para os idosos, para qualquer cor ou etnia? Não serão bons inclusive para as pessoas com deficiência? Uma sociedade que não precise ser dividida em castas não é o nosso sonho de sociedade inclusiva?

Como o próprio Estado não cumpre as leis que tem, passa a inventar novas leis (que também não são cumpridas). Isso não passa de estratégia caça-votos (claro, se não fosse, porque então os legisladores se pegam de tapas para ter seu nome na lei?) ou estratégia diversionista - enquanto a gente fica anos discutindo a lei, ganha-se tempo para não cumprir as que existem.

Pergunta-se então: a quem serve uma sociedade que o estatuto quer edificar? Um país dividido em “castas” promoveria justiça para todos os excluídos das oportunidades econômicas, políticas, sociais e culturais? Seria a promoção da “casta” o melhor remédio contra a discriminação?

O que a sociedade precisa não é de mais leis, mas de criar e reforçar os instrumentos de controle para que as leis sejam de fato cumpridas. Isso está longe de acontecer. Numa sociedade em que cada um está preocupado só com o seu quintal não vai acontecer nunca.

Controle social dá trabalho, exige comprometimento, visão comunitária e isenta de preconceitos. Impossível numa sociedade em que todo mundo pratica alguns tipo de discriminação social.

É mais cômodo se deixar envolver pelas nuvens de fumaça.

Descrição da imagem : desenho cômico de um poleiro de pássaros em vários andares, quanto mais embaixo no poleiro, mais cocô os pássaros debaixo recebem na cabeça.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Eu quero ser deficiente*

Mais uma vez somos confrontados com uma série de projetos de lei, decisões jurídicas e debates sobre o que define deficiência ou não. De uma hora para outra todo mundo quer ser deficiente*. E não é só aqui no Brasil, em outros países também. Nesse mesmo momento debate-se nos Estados Unidos se obesidade é deficiência ou não.

O que leva pessoas que não tem deficiência a quererem ser deficientes? Pessoas com deficiência sofrem preconceito por sua condição, têm restrições de acesso a comunicação, mobilidade, aprendizado. São tratados de forma pejorativa (ou alguém gosta de ser chamado de deficiente?) e, na maior parte das vezes, o máximo que recebem do mundo é comiseração.

A questão que está sendo posta em jogo não é a condição funcional que define ou não as deficiências, mas o acesso a muitos dos privilégios que foram concedidos às pessoas com deficiência.

Por isso, nós, dos movimentos em defesa das pessoas com deficiência, deveríamos refletir seriamente sobre o que queremos: direitos ou privilégios ? O resultado da conquista de tantos privilégios (e tão poucos direitos) é que atrai a horda de pseudo deficientes em busca de uma fatia do bolo.

Façamos uma suposição básica : se todas as pessoas com deficiência tivessem acesso efetivo à saude e à educação desde a sua infância elas teriam a chance, como qualquer um , de serem qualificadas. Sendo qualificadas poderiam disputar vagas no mercado de trabalho em condições de igualdade. Mas esse direito não é garantido de fato (apesar de sê-lo de direito), logo criam-se compensações em forma de privilégios.

Como essas pessoas não tem acesso à educação e, consequentemente ao trabalho, acabam não tendo renda. Surgem outras compensações em forma de auxílios assistenciais, benefícios fiscais, redução de tempo de trabalho.

Privilégios ou direitos?

A palavra "direito" vem do latim directus: "que segue regras pré-determinadas ou um dado preceito. O que podemos exigir em conformidade com as leis ou a justiça de forma equalitária para todas as pessoas. Alguns direitos, mesmo que não tranformados em lei são considerados como sendo inalienáveis aos seres humanos, o direito à vida é o mais significativo deles. Mas também se incluem entre eles os direitos à liberdade, de opinião, à educação, ao trabalho digno.
Nem todas as leis ou preceitos legais garantem direitos similares para todos. Quando isso acontece temos um privilégio que é um direito ou vantagem concedida a alguém com exclusão de outros.

Privilégio é uma coisa tentadora. Quem é que não quer comprar carro sem imposto? Quem não gostaria de competir por empregos com vantagens sobre os demais? Quem não gostaria de poder se aposentar mais cedo? Quem não quer receber uma renda fixa mensal pelo resto da vida, mesmo quando o valor é ridículo.
Eu mesmo já fui questionado muitas vezes porque não uso a vaga reservada a pessoas com deficiência. Por que o faria se meu filho não tem dificuldades de locomoção? Por que eu pediria passe livre para o meu filho se eu tenho condições financeiras de pagar a passagem de ônibus ou de metrô?

Agora, alguém conhece alguém que não seja surdo que queira aprender Libras ou ter a garantia de intérprete? Alguém conhece alguém que não seja cego que queira aprender Braille? Alguém que não tenha deficiência física que prefira enfrentar as nossas calçadas numa cadeira de rodas?
Será que algum dos candidatos à deficiente gostaria de ser rotulado de deficiente intelectual?

O momento não é o de nos queixarmos em relação aqueles que querem uma boquinha nessa festa, mas de revermos nossa postura em relação ao que buscamos.

Se continuarmos a lutar por privilégios, daqui a pouco eu também vou me candidatar a um rótulo qualquer que me garanta. Acho que posso me enquadrar na categoria de obesos.

* uso a palavra "deficiente" de forma intencionalmente jocosa, uma vez que os candidatos à qualificação como pessoas com deficiência são apenas interesseiros em busca de privilégios, mas não querem ser confundidos de fato com as pessoas com deficiência.

Descrição de imagem : um homem estaciona na vaga reservada às pessoas com deficiência e sai andando com cara de "esperto"

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Em direção à Bastilha

Não tem cabimento o pediatra dizer ao educador como ensinar (Dr Fernando Colli - Lugar de Gente)


Lendo o texto da Flávia (pode olhar logo depois desse), os comentários e dúvidas que surgiram, me veio uma questão recorrrente : porque é que as pessoas têm tanta dificuldade em aceitar um mundo em que outras pessoas também possam participar?

Outros eventos reforçaram a minha dúvida. No Fórum de Educação Inclusiva a discussão sobre os livros acessíveis. No telefone, uma mãe me contando que a escola da filha insiste em que ela faça igual aos demais alunos, quando poderia estar aprendendo mais rapidamente com uma tecnologia assistiva.

Eu poderia chegar a uma conclusão simplista e atribuir ao fato de que tudo é uma questão de atitude, o que não deixa de ser uma grande verdade pois, sem atitude, não se dá o primeiro passo rumo à inclusão.

Mas ainda ficaria sem a resposta pois, afinal, o que é que gera esse tipo de atitude? Quais são as intenções e sentimento que erguem essas grandes muralhas que impedem que um veja o outro como um ser humano com o mesmo valor e direitos?

Avento hipóteses.

A primeira delas é a mais cética. Interesse pessoal ou de grupos que detém privilégios. Impedir o acesso a um edifício ou a uma obra cultural impede as pessoas com deficiência de alcançar conhecimento suficiente que as tornem cidadãos críticos da realidade. Uma vez alienados é mais fácil controlá-los e explorá-los através da oferta de óbulos de pseudo-realidade.

Assim dito pode parecer que estou sendo apenas cruel. Quando ouço um familiar dizer que o filho adulto com deficiência está feliz da vida porque trabalha numa cooperativa abrigada (mantida por uma empresa que utiliza a cooperativa como uma forma de trabalho escravo) e ganha um dinheirinho, como se as pessoas pudessem viver uma vida digna apenas com um "dinheirinho", isso deixa de ser uma hipótese e passa a ser uma constatação de quem realmente faz a crueldade.

Claro que essas mesmas pessoas, se tivessem acesso à cultura e ao conhecimento não se prestariam a esse tipo de exploração, o que redundaria em menos lucro para quem as explora.

Digamos que a questão não é só dinheiro. Aí penso numa segunda hipótese : a de que a atitude excludente possa ser falta de foco no que realmente é importante. As pessoas passaram tanto tempo sendo doutrinadas sobre o que é certo e o que é errado, que perderam a noção dos seus reais objetivos.

Qual é a função da escola, alfabetizar ou treinar coordenação motora? Qualquer professor me responderia que é alfabetizar, mas não é o que acontece na prática. Se a escola estivesse preocupada em ensinar a ler e escrever, não faria a menor diferença se o instrumento fosse um lápis, um teclado de computador ou um graveto na areia. Quando insiste no lápis a escola apenas está apenas negando ao aluno o que lhe é de direito, ter acesso ao conhecimento.

A terceira hipótese tem um cunho quase teológico: muitos profissionais, ditos especialistas, se arrogam o direito de serem deuses, de determinar o destino das pessoas (muitas vezes determinam mesmo, condenando-as à miséria), são médicos "renomados" prescrevendo retenção de alunos em determinadas séries, outros vaticinando aos pais que o filho não vai conseguir ir além de determinados limites que eles decretaram. Essa atitude não se restringe à classe médica, mas se estende a muitos terapeutas, diretores ou coordenadores pedagógicos ou quaisquer outras profissões que se considerem estar acima da humanidade.

Claro que essa atitude não está restrita ao contexto escolar. O "deus" da cultura acha que é dono do patrimônio, mesmo quando esse é declarado como sendo de toda a humanidade. O autor ou editor dos livros só quer que esse seja lido pelos seus escolhidos.

Certamente devem existir muitas outras hipóteses, mas todas elas me levam de volta ao mesmo ponto. Enquanto alguns seres humanos acharem que são melhores que outros, as atitudes preconceituosas e discriminatórias reinarão.

A menos que nós tomemos uma atitude marchemos em direção à Bastilha.

Descrição da imagem: quadro retratando a derrubada da Bastilha (uma fortaleza que era usada como prisão) durante a revolução Francesa. No quadro vê-se a fortaleza sendo atacada.

sábado, 13 de junho de 2009

Xiita convidade - Acessibilidade e patrimônio histórico

ACESSIBILIDADE E PATRIMÔNIO HISTÓRICO: UM CASAMENTO IMPOSSÍVEL?

arquiteta Flavia Boni Licht*

Quando se pensa em acessibilidade, tudo é possível.Até 'toparmos' com as exigências do patrimônio histórico...Quando se pensa em patrimônio histórico, tudo é possível.Até 'toparmos' com as exigências da acessibilidade...

Não acreditam? Então, pensemos juntos.

Uma Prefeitura decide tombar a Casa do Barão, datada do século 19. As pesquisas feitas justificam a decisão.A legislação encaminhada à Câmara é aprovada por unanimidade.E a residência é tombada.

Depois de alguns debates, decide-se transformar a Casa do Barão em Centro Cultural. Afinal, qualquer município precisa de um Centro Cultural. Discute-se o programa de necessidades. E iniciam-se os projetos.

Com alguma habilidade, o hall de entrada é transformado em recepção; a sala de visitas passa a ser a sala do diretor; os quartos reunidos convertem-se no necessário auditório. Certamente, o banheiro dos finais do século 19, mesmo na residência de um Barão, não contempla as exigências do tempo presente. Porque não atualizá-lo, trocando tubulações e todo o resto?

Da mesma forma, a instalação elétrica dos finais do século 19, mesmo na residência de um Barão, não condiz com o que necessitamos hoje. Porque não atualizá-la – até por medidas de segurança e de conforto –, trocando fiação e todo o resto?

E os cupins que atacaram, sem dó nem piedade, as portas, as janelas, o piso e todo o madeiramento do telhado? Troca-se tudo, sem pestanejar. De preferência, refazendo detalhes sem que ninguém perceba, depois da obra concluída...

E o mobiliário, cortinas e tapetes? Tudo novo! Afinal, agora estamos num Centro Cultural e não mais numa residência. Precisamos, portanto, de móveis para os escritórios e poltronas confortáveis para o auditório.

E na imponente escadaria de mármore branco que marca a entrada principal da Casa do Barão, como faremos para contemplar as exigências da acessibilidade?, pergunta alguém; como faremos para que esse Centro Cultural reconheça e respeite a diversidade física e sensorial de todos os cidadãos – afinal, usando ou não uma cadeira de rodas, todos pagamos impostos, todos temos – ou deveríamos ter – os mesmos direitos. E a resposta vem imediata: Ah, nisso não dá pra tocar, pois, além de caro (e o custo torna-se, instantânea e magicamente, um impedimento decisivo) qualquer interferência na fachada vai desvirtuar as referências históricas desse bem tombado!!!

Em relação a esse casamento aparentemente impossível, entre acessibilidade e patrimônio histórico, o arquiteto uruguaio Antonio Cravotto, bastante conhecido e reconhecido por sua luta em defesa da cultura e dos bens patrimoniais, assim se pronunciava, em 1990, no 2º Seminário Iberoamericano de Promotores y Formadores en Accesibilidad al Medio Físico, realizado em Montevideo, representando a Comissão do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Uruguay. Vale a pena ouvi-lo:

AREAS Y EDIFICACIONES TESTIMONIALES DEL PATRIMONIO CULTURAL: SU ACCESIBILIDAD A LAS PERSONAS CON DISCAPACIDAD FISICA

Objetivos del Programa de Acción Mundial para las Personas con Discapacidad son la "igualdad" y "plena participación" de las personas con discapacidad en la vida social y el desarrollo. Esto significa, entre otras cosas, dar oportunidades iguales a las de toda la población, a personas que han de vivir en condiciones de desvantaja debido a barreras fisicas que se oponen a su participación social.

Y, en términos práticos, una equiparación de oportunidades, definida por el Programa de Acción Mundial como "... el proceso mediante el cual ... el medio físico y cultural ... se hace accesible para todos".

Para lo cual, como "no bastan las medidas de rehabilitación orientadas hacia el individuo con deficiencias, ... se deben identificar y eliminar los obstáculos a la participación plena ..." y, "...todas las personas que tienen a su cargo algún tipo de empresa deben hacerla accesible a personas com discapacidad..." para que puedan "... vivir lo más normalmente posible...", dándole asi "... una oportunidad igual de participación a cada indivíduo".

Una oportunidad igual de participación a cada individuo .... Bien está que a nivel de princípios los términos sean absolutos, utópicos. Porque es la utopia, correctamente entendida, a determinar la correcta dirección de un avance social, los dos puntos que la determinan:

- el de partida, que es la situación actual
- el de llegada, que aunque inalcanzable en la práctica, asegura la dirección correcta

A partir de esto, recién tiene sentido una relativización al "aqui y ahora" como la que, en el cap. II § 61 del Programa de Acción Mundial reconoce que "muchos países están tomando medidas importantes para eliminar o reducir las barreras que oponen a la plena participación".

Y, assumiendo lo que en el cap. III §§ 89. 90, 112, 114 y 135 del Programa de Acción Mundial se propone como Medidas Nacionales, en mi carácter de miembro de la Comisión del Patrimonio Histórico, Artístico y Cultural de la Nación, tengo sumo gusto en comunicarles algunas consideraciones sobre las barreras que las ÁREAS Y EDIFICACIONES TESTIMONIALES DEL PATRIMONIO CULTURAL presentan a su acceso y fruición por parte de personas discapacitadas.

Helás aqui, en forma de DECALOGO HETERODOXO:

LAS ÁREAS Y CONJUNTOS TESTIMONIALES son áreas rurales o urbanas, edifícios o conjunto de edifícios y espacios preexistentes, generalmente antiguos (aunque no se exclue – como en Uruguay – que sean de construción reciente) y que poseen valores testimoniales y culturales relevantes a nivel local, nacional o internacional.

En casi todos los casos, las áreas y conjuntos testimoniales incluyen barreras importantes a su acceso y fruición por parte de personas discapacitadas.

Eliminar y atenuar dichas barreras, o suprasanar su efecto significa, en todos los casos, afectar la integridad, el carácter, la peculiaridad, em uma palabra, LA AUTENTICIDAD de una área, conjunto o edifício testimonial.

Pero, en cuanto áreas, conjunto o edifícios testimoniales, en términos prácticos solo pueden ser salvaguardados y puestos em valor, SI SON USADOS APROPRIADAMENTE EN EL PRESENTE, si son rehabilitados para atender funciones apropriadas a su naturaleza y conformación, que van desde la contemplación (caso de las ruínas) hasta las más especializadas y complejas.

Todos ellos se verán NECESARIAMENTE AFECTADOS: por modificaciones espaciales y estructurales por incorporación de elementos, dispositivos, sistemas, redes técnicas por inclusión de equipamentos y señalaciones

Estas afectaciones no tienen justificación NI MEJOR NI DIFERENTE a las originadas por la eliminación de las barreras para discapacitados, por lo cual ES PERTINENTE LA ELIMINIACIÓN O REDUCIÓN de éstas en las áreas o edifícios testimoniales.

El limite de estas afectaciones estará dado – al igual que para las rehabilitaciones – por el grado de pérdida de valor testimonial que resulte aceptable, a determinar en cada caso, según la naturaleza, calidad, antigüedad y historicidad del testimonio y las pautas culturales y sociales vigentes.

En ningún caso podrán realizarse eliminaciones de sustancia original, debiendo las adiciones ser legibles como tales pero en apropiada armonía visual con el conjunto.

En cuanto cada caso, siempre será peculiar y único y pasible de un determinado y muy particular tipo de excepción, no resulta posible establecer tipologías de soluciones y menos aún "recetas".

Sí en cambio es posible y necesário elaborar criterios locales y hasta nacionales para lo cual recomiendo uma "regla de oro" orientadora, que los "tecnicos" rutinarios y poco imaginativos – que desgraciadamente abundan – considerarán seguramente vaga y poco práctica: "RESPETAR AL HOMBRE Y RESPETAR SUS OBRAS". (arquiteto Antonio Cravotto)

* Flavia Boni Licht - Arquiteta, especialista em acessibilidade e representante titular do IAB-RS na Comissão Permanente de Acessibilidade de Porto Alegre.

Descrição da imagem : foto de um sobrado do século 19 no Rio de Janeiro (casa do Barão da Retorta)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Inclusão e ideologia


Ideologia!
Eu quero uma prá viver...
(Cazuza)


Não existe discurso que não seja ideológico.

Todas vez que falamos, escrevemos ou nos utilizamos de qualquer forma de linguagem não verbal estamos colocando diante das pessoas o nosso conjunto de idéias, pensamentos, doutrinas e visões de mundo, orientado para nossas ações sociais e, principalmente, políticas.

No exato momento em que escrevo esse texto estou informando a cada um dos meus leitores quais são os valores que dirigem os meus pensamentos.

Mas não só quando escrevo um texto mais complexo é que estou fazendo isso. Uma resposta breve num grupo de discussão, os meros 140 toques do Twitter, uma expressão facial em resposta a algo que eu ouvi ou vi também carregam e demonstram qual é a minha cosmogonia.

Dessa forma, ninguém pode alegar que usou uma palavra ou manifestou uma opinião de forma isenta e, muito menos, alegar que uma manifestação infeliz foi uma má escolha de termos. Nunca existe isenção e as mancadas são apenas o reflexo do pensamento nem sempre assumido das pessoas, mas que se revela nas suas expressões.

Uma ideologia, por si só, não pode ser considerada como enganosa, ao contrário disso ela sempre muito esclarecedora. Quem se deixa enganar pelo discurso ideológico de um indivíduo ou grupo não pode reclamar senão de si mesmo, por sua falta de atenção com os significados implícitos do discurso.

Claro que todo defensor desta ou daquela ideologia, acha que sua forma de pensar é a melhor que existe no mundo. Impossível negar o nosso próprio egoísmo.

Os neoliberais acreditam que objetivo da sua ideologiaé a de ajudar todos os seres humanos que estão subjugados pela opressão e pela tirania, a emergirem para um mundo de liberdade, paz, prosperidade e riqueza material e de espírito. O marxista acredita que sua ideologia serve para libertar o homem da alienação provocada pelas demais ideologias que só servem para que as classes dominantes subjuguem as demais classes sociais.

Quando falamos de inclusão, a visão de cada pessoa ou de cada grupo social também carrega nas tintas da sua ideologia. A jornalista Cláudia Werneck foi muito feliz quando publicou um dos seus livros, cujo título perguntava "Quem cabe no seu todos?". Quase nunca as pessoas conseguem imaginar um TODOS que realmente abarque a humanidade de forma integral.

Para muitos, a inclusão se limita às pessoas com deficiência. Para alguns, nem sempre para todas as deficiências. Isso sem contar o fato de que nem o conceito do que é deficiência é consensual e, automaticamente, acabamos tirando do TODOS aqueles que não nos interessam.

O discurso do especial ainda é muito mais forte do que o discurso inclusivo. Falamos de artes para a deficiência X, esportes para a deficiência Y e até de moda especial para as deficiências W.

Se acreditamos que o todos realmente é de TODOS precisamos rejeitar qualquer manifestação cultural, esportiva ou da vida cotidiana que suponha marginalização.

Esses discursos só buscam uma imagem social aparentemente sensibilizada (estética?), por que motivam a participação e o intercâmbio de atividades das pessoas com deficiência, mas sem mudanças profundas (ética) no pensamento nem nas atitudes dos seus promotores. *

Pelo menos essa é a minha ideologia.

Descrição da imagem : Charge de Angeli com o título "Crise de Abstinência".Dois homens de terno em frente à praça dos 3 poderes em Brasília. Um fala para o outro : "Tá legal, companheiro, eu ainda tenho ideologia. Está aqui comigo, se quiser posso te vender um pouco".

*esse parágrafo é uma paráfrase do Prof Miguel Lopez Melero, no seu artigo "Educação Física"

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Ética, nos olhos dos outros, é refresco

O idealismo é interessante, mas, quando ele se defronta com a realidade,
seu custo se torna proibitivo. William F. Buckley Jr (jornalista americano)


Ética é o ramo do conhecimento que estuda o comportamento humano, estabelecendo os conceitos de bem e de mal. O debate a respeito de conceitos éticos sempre provoca discussões acaloradas. A começar pelo fato de que a ética de uns não é a mesma dos outros, ética sempre foi um conceito relativo no espaço, no tempo e nas diversas culturas. O que é bom ou aceitável na cultura ocidental não é , obrigatoriamente, tão bom nas culturas orientais. Queimar hereges na fogueira, algo absolutamente ético em tempos de inquisição é inaceitável no século da pós-modernidade.

No entanto, ultimamente, temos sido bombardeados, de um lado, pelos apelos de ética na política, no trabalho, na escola e, do outro por uma série de posturas e mensagens que invalidam esses mesmos apelos. É claro que a Internet não deixa de ser um tremendo canal para esses bombardeios, tanto de um lado como de outro.Com isso eu acabei descobrindo mais um ponto de relativização da ética, a saber, ética sempre é muito bom desde que praticada pelos outros a meu favor.

Mais de uma vez eu recebi a lista dos radares de velocidade espalhados pela cidade de São Paulo – uma aula prática de como burlar a lei sem ser punido (se bem que essa informação está em placas antes de todos os radares...). Como é do meu interesse andar em alta velocidade e não ser multado , isso pode ser uma norma de comportamento aceitável. Ou não ? Será que isso não significa que a ética é apenas a capacidade de cada um de não ser pego em delito ? Como diria o “filósofo” grego Aristóteles Onassis : “não ser descoberto em uma mentira é o mesmo que dizer a verdade”.

Há poucos dias recebi outro e-mail, me convocando para protestar contra a proteção anticópia dos CDs modernos, como diz o site : “Discos com proteção anticópia restringem os direitos dos consumidores e são uma grande ameaça à memória da cultura nacional. Quer dizer então que liberou geral? Se a ética se restringe apenas à defesa da memória da cultura nacional eu posso copiar e distribuir ilegalmente qualquer produto cultural (é claro que vou definir como produto cultural aquilo que me interessa o que inclui além de CDs e livros, todos os softwares que eu preciso, os video-games dos meus sobrinhos e, quem sabe, até moedas e notas de dinheiro, afinal numismática também é cultura).

Vivemos num momento de distribuição gratuita de conteúdo. Agora, uma coisa é redistribuir aquilo que os seus autores liberaram para tal (como os textos desse blog, por exemplo), outra é copiar ilegalmente conteúdos cujos criadores não autorizaram cópias.

Poderia desfiar uma série de outras posturas bastantes éticas como sonegar impostos, distorcer leis da forma que convém a cada um, subornar guardas de trânsito e fiscais, mentir para evitar encontros ou telefonemas indesejados, mas deixo a cada um a escolha da sua própria ética, ou melhor, a ética que cada gostaria que os outros praticassem desde que não fossem obrigados a agir da mesma forma.

Ao final das contas, assim como pimenta, ética, nos olhos dos outros, é refresco

Descrição da imagem : pimenta malagueta caindo dentro de uma taça de água.