segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Por menos heróis



Você vibrou quando aquele atleta com deficiência múltipla foi campeão de alguma modalidade paraolímpica. A imprensa também, afinal, aquele ser que no cotidiano era relegado a ser um cidadão de terceira classe, de repente virou um herói nacional.

Talvez sua heroína seja aquela moça preta e pobre que saiu da periferia da periferia e agora está se graduando em Harvard ou no MIT.

Também pode ser o jovem autista que ganhou um prêmio num concurso de televisão.

Por incrível que ainda pareça, pode até ser aquela mulher que tornou-se CEO de uma multinacional importante.

Em todos esses (e outros) casos, o que circula no seu consciente ou inconsciente, é de que essas pessoas nunca poderiam ter chegado aonde estão, e por isso devem ser louvadas e adoradas.

Pior do que esses casos, chamados de notáveis, também se repetem nas atividades mais elementares, e tratamos como heróis até aquelas pessoas com deficiência intelectual que aprenderam a ler e escrever (se foram além disso, começam até a aparecer nos jornais e nos filminhos do Instagram.

Vamos combinar uma coisa? Se esse é o seu olhar sobre a diversidade, você está sendo profundamente preconceituoso. O seu pré conceito é justamente é de que pessoas assim não poderiam fazer o que fazem, ou chegar onde chegaram.

Ah...sei, mas você é uma pessoa do bem e gosta de afagar o ego daqueles que você mesmo marginaliza, assim você pode juntar muitos likes reproduzindo esses posts piegas e, quem sabe, até virar um especialista em diversidade.

Poupe-me!

 Como diria  o filósofo Herbert Spencer: “O culto dos heróis é mais forte onde a liberdade humana é menos respeitada.”

Descrição da imagem: figura do herói Hércules, em desenho animado da Disney. Um homem forte e confiante.

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Inclusões excludentes


Aparentemente o termo inclusão virou moda e, como sói acontecer com todas esses modismos terminológicos, acaba tornando-se algo que não representa as suas reais intenções.

Das definições da palavra, a que sempre mais me agradou foi a de “pertencer entre os outros”, é a que melhor representa a minha crença de que só existe inclusão quando ela é de todos com todos.

No entanto, o que se vê todos os dias e com uma frequência absurda é a prática de incluir as pessoas do tipo X, Y ou Z. E aqui cabe uma ressalva, a realidade mostra que essas pessoas X, Y e Z realmente fazem parte de grupo que, historicamente, foram e ainda são excluídos em diversos contextos sociais e econômicos.

Por outro lado, se eu milito para só incluir X, e não tenho a menor preocupação com Y e Z,  eu estou sendo tão, ou mais, segregacionista que as classes privilegiadas.

Pior, muito pior, é quando eu crio situações ditas inclusivas que permitem só a participação das pessoas X. Quando eu exalto fatos ou notícias a respeito daquele lugar que só contrata ou admite pessoas Y, quando eu me emociono com relatos de um grupo de pessoas Z que teve sucesso (seja lá o que se entende por isso).

Essa postura é um problema ideológico, por que o que se esconde atrás dessa atitude é a não-aceitação da diversidade como valor humano e a perpetuação das diferenças entre pessoas, ressaltando que essas diferenças são insuperáveis e que cada grupo só pode jogar dentro do seu próprio quadrado.

Quando falamos de uma sociedade inclusiva, pensamos naquela que valoriza a diversidade humana e fortalece a aceitação das diferenças individuais. É dentro dela que aprendemos a conviver, contribuir e construir juntos um mundo de oportunidades reais (não obrigatoriamente iguais) para todos.

Se você se pretende autodenominar inclusivo, comece a se preocupar com todas as pessoas e não apenas com seu grupo de interesse.

O que passa disso, é enganação.