Em 2009, num texto
a respeito de retenção de alunos com deficiência na pré-escola, eu escrevi o
seguinte:
“Essas escolas não
estão preocupadas em ensinar. Entregam uma inclusão de araque, ao exigirem que
as crianças se preparem para a escola e não o contrário. Escolas que não querem
questionar seus dogmas imortais. Nem enfrentar o preconceito que negam de pés juntos.
Essas mesmas escolas são as que estão preparando as crianças sem deficiência a serem cidadãos dos séculos XIX e XX com sua pedagogia caduca e seus métodos arqueológicos. Escolas assim mereceriam ser fechadas. Educadores assim, requalificados para outras profissões que não necessitem conhecimento do ser humano.
Para isso é necessário que os pais deixem de acreditar nesse tipo de absurdo e exijam educação de verdade para os seus filhos. Com ou sem deficiência. ”
Essas mesmas escolas são as que estão preparando as crianças sem deficiência a serem cidadãos dos séculos XIX e XX com sua pedagogia caduca e seus métodos arqueológicos. Escolas assim mereceriam ser fechadas. Educadores assim, requalificados para outras profissões que não necessitem conhecimento do ser humano.
Para isso é necessário que os pais deixem de acreditar nesse tipo de absurdo e exijam educação de verdade para os seus filhos. Com ou sem deficiência. ”
Em 2017, meu filho de 19 anos, foi aprovado em dois
vestibulares de duas grandes universidades particulares, para o curso de
pedagogia (sim, ele quer ser professor e professor de crianças).
Numa delas passou na 1ª chamada, na outra em chamadas
subsequentes e, como o resultado da segunda saiu depois do início das aulas da
primeira, ele acabou optando por ficar onde já estava se adaptando.
Escolha dele, sem pressão dos pais. Eu apenas dei a ele as
vantagens e desvantagens de cada uma.
Durante todo o ano ele lutou contra o sistema acadêmico
dessa universidade que, em nada difere do meu texto acima.
Uma faculdade de pedagogia que não estava preocupada em
ensinar, com uma área de inclusão (sim, a universidade tem um departamento especializado
nisso...) de araque pois pouco sabe a respeito do assunto. Com seus dogmas
imortais, métodos arqueológicos e pedagogia caduca.
Pior, uma faculdade que está preparando os futuros
professores do país, para replicarem esses dogmas, métodos e pedagogia.
Ele foi o primeiro aluno com síndrome de Down dessa
universidade. Pensei eu, ingenuamente, uma faculdade de pedagogia vai
aproveitar esse fato para criar um “caso de sucesso” e mostrar como eles são
bons.
Doce ilusão. Os professores esperavam que ele se “superasse”
sem que eles tivessem que fazer nenhum esforço. Nas matérias que repetiu e foi refazer
no segundo semestre, os professores fizeram exatamente a mesma coisa do
primeiro, esperando resultados diferentes.
O cúmulo foi, numa reunião com a coordenação do curso,
depois de ouvir que o garoto estava com dificuldade em relacionar ideias, eu
ter perguntado como se ensinava a relacionar ideias e, com cara de tacho, o
coordenador e outros professores presentes disseram que não sabiam.
Perfeito. Agora, como eu cobro algo que admito que não sei
ensinar?
As únicas atitudes inclusivas da escola foram propostas
pelos alunos, colegas do meu filho.
Resolvemos não perder mais tempo. Em 2018 ele foi para uma
faculdade menor e, provavelmente menos conceituada, mas que está disposta a
enfrentar o desafio, até porque já tem um monte de outros desafios com a qual
ela lida diariamente e sabe que inclusão não se limita às pessoas com
deficiência (alunos de baixa renda, egressos de EJA, etc).
Ele foi matriculado no 2º semestre, vai aproveitar os
resultados da outra faculdade. As aulas começaram na última 5ª feira.
Curiosamente, a matéria das 5as feira é Educação Inclusiva.
É um recomeço, faz parte do jogo, mas ele mantém sua meta
inabalável: vai ser um professor.