Eles
poderiam estar aí agora trabalhando a seu lado no escritório, na fábrica, no
campo.
Poderiam
estar à sua frente para atender na loja em que você entrou para comprar o seu
presente de Natal.
Poderiam
estar sentados a seu lado num banco escolar de primeiro, segundo, terceiro ou
infinito graus.
Eles
poderiam estar na mesma balada que você ou seus filhos vão. Ouvindo a mesma
música, bebendo o mesmo energético.
Eles
poderiam nadar na mesma piscina, frequentar as mesmas quadras, passear nos
mesmos parques.
Eles
poderiam ter amigos, namoradas, namorados, cônjuges e, por que não, até
amantes.
Eles
poderiam estar entre pessoas brancas, negras, amarelas. Gordas, magras, altas,
baixas. Loiras, morenas, ruivas, de cabelo liso ou muito
encaracolado.
Eles
poderiam tudo que todos podem.
Mas ainda
não podem...
Pois alguns
muitos se beneficiam deles estarem confinados em gaiolas reais ou virtuais.
Pois não
poucos acreditam que eles só podem fingir de viver entre iguais, não estudar
entre iguais, não trabalhar entre iguais.
Pois tantos
crêem que a superproteção é uma forma de amor, quando não passa de uma forma de
destruir vidas.
E vão
continuar engaiolados enquanto os donos das gaiolas receberem dinheiro para
mantê-los nelas.
Enquanto os
especialistas sustentarem o mito da incompetência dos
generalistas.
Enquanto os
generalistas não acreditarem na sua capacidade de lidar com a
diversidade.
Enquanto a
população achar mais barato uma doação caridosa que uma aceitação
incondicional.
Enquanto os
pais acreditarem mais na mídia do que nos seus filhos.
"Mas o que
eles não sabem
Não sabem ainda não
É que na minha terra
Um palmo acima do chão
Sopra uma brisa ligeira
Que vai virar viração
Ah mas eles não sabem
Que vai virar viração"*
*parte da letra de Viração de Kleiton e Kledir
Ramil
Descrição da imagem: pássaro saindo de uma gaiola com a porta aberta