Ontem, durante o evento nacional da Semana de Ação
Mundial, recebi a publicação da Unicef “O enfrentamento da exclusão escolar no
Brasil”, estudo feito com base no censo demográfico de 2010 que aponta que,
naquele momento, existiam 3,8 milhões de crianças e adolescentes em idade
escolar (4 a 17 anos) que estavam fora de qualquer escola. (para fazer download
do estudo, clique aqui).
Não é um número qualquer, cerca de 70 países do mundo não
chegam a ter essa população. 15 estados brasileiros não têm essa população. Das
cidades brasileiras, apenas São Paulo e Rio de Janeiro têm mais gente que isso.
O que não significa que não exista gente se referindo a
esse número como sendo residual em relação à população do país.
Segundo a Unesco o Brasil está entre os 53 países
que ainda não atingiram e nem estão perto de atingir os Objetivos de Educação
para Todos até 2015, apesar de ter apresentado importantes avanços no campo da
educação ao longo das duas últimas décadas.
O país, não se pode negar, conseguiu avanços nas últimas
duas décadas. O acesso ao ensino fundamental está quase universalizado, com
94,4% da população de 7 a 14 anos incluídos nesse nível de ensino.
A proporção de jovens na idade própria que se
encontra no ensino médio é mais que o dobro da existente em 1995, mostrando
expressivo avanço no acesso à educação secundária.
Além disso, houve a redução das taxas de analfabetismo
entre jovens e adultos e o aumento no acesso ao ensino superior (ainda que esse
tenha se dado majoritariamente pelo crescimento mercantil das instituições
privadas).
Ainda assim, são quase 4 milhões de crianças e jovens
fora da escola, ainda que a nossa legislação garanta o acesso e permanência de
todos na escola.
Para agravar a situação, outros 14,6 milhões de
estudantes estão com algum atraso escolar, o que é um dos principais fatores de
risco de evasão.
Os grupos mais afetados são os excluídos de sempre:
negros, população rural e famílias de baixa renda e, claro, os excluídos dos
excluídos: quilombolas, indígenas, pessoas com deficiência e jovens em conflito
com a lei.
A culpa é difusa. Responsáveis (ou irresponsáveis) dos
governos federal, estaduais e municipais, de todas as ideologias e coloridos
partidários.
Políticos que, no momento, fazem promessas mirabolantes
sobre suas prioridades para a educação mas que votam contra o aumento do
financiamento da mesma.
Grupos que não tem interesse na melhoria da qualidade de
vida dos seus tutelados pois isso representaria a perda de sinecuras e de
dinheiro.
Sociedade que não cobra organizadamente os seus
governantes e acredita que política só se faz nas urnas a cada dois anos.
Gente que acha que seres humanos são resíduos sociais.
Garantir todas as crianças e jovens na escola (e garantir
que estejam aprendendo) deveria ser uma preocupação de todos. É através da
educação que podemos transformar todas as nossas outras mazelas (saúde,
segurança, economia...)
É um problema meu e é um problema seu.
Comece entendendo qual é o tamanho da encrenca na sua
cidade (para saber quantos estão fora da escola no seu município clique aqui).
Na minha cidade são “apenas” 170 mil fora da escola.
Não aceite desculpas esfarrapadas. Não aceite a tese de
que o número é ínfimo (cada criança é um ser humano a mais privado dos seus
direitos).
E não me venha com teorias residuais.
Descrição da imagem: cartaz da Unicef em fundo azul com os dizeres: "Fora da escola não pode! (o ponto de exclamação é um lápis de ponta cabeça). Cada criança e adolescente tem o direito de aprender"