Mariana era louca por laranjas. Não qualquer laranja, era louca por laranja pera.
Era tão fanática que costumava comprar no atacado. Toda semana ía ao Ceasa e comprava um saco de laranja pera.
Delas fazia suco, saladas de frutas de uma fruta só, as chupava puras. Fazia doces, bolos e tortas.
Nem sempre todas as laranjas vinham perfeitas, algumas chegavam mais secas, outras um pouco amassadas. Mesmo assim Mariana aproveitava todas, de uma forma ou de outra.
Até o dia em que, no meio do seu saco de laranjas pera veio um exemplar de laranja bahia. Para muitos seria apenas mais uma laranja, não para Mariana que ficou perplexa e confusa com um tipo de laranja diferente.
A casca era mais fina, o tamanho maior, o suco com teores diferentes de açúcar e de ácido cítrico.Ela não estava preparada para isso. Não sabia nem por onde começar. Fez uma busca na Internet sobre a tal da laranja estranha. Só encontrou informações sobre os aspectos fenotípicos do citro. Isso não ajudava.
Começou a ligar para amigas. O máximo que descobriu foi que essas laranjas não tinham sementes. Pior foi ter de ouvir da melhor amiga que era uma laranja, e laranjas são laranjas. Que diferença isso ia fazer?
Concluiu que não teria outra alternativa a não ser partir em busca de especialistas. Como iria descascar aquela pele mais fina? Se eram mais doces, como procederia no açúcar da sua famosa compota de laranja? Os gomos maiores não enroscariam no seu processador?
Descobriu várias pessoas que se dedicavam ao estudo e manuseio de laranjas bahia. Uma mulher que era descascologista, com doutorado em bahias. Um agrônomo que tratava de distúrbios de desenvolvimento de citros e até um chef compoteiro que tinha uma instituição dedicada ao desenvolvimento da tal laranja.
Pensou em mandar seu exemplar de laranja bahia para um desses especialistas. Mariana, no entanto, era uma mulher persistente, não poderia admitir que tinha sido derrubada por uma laranja.
Matriculou-se num curso à distância, de capacitação em laranjas. Na primeira aula descobriu que a bahia era só uma das dezenas de espécies de citrus sinensis: Lima, Westin , Rubi, Valencia, Hamlim e Kinkan. O curso não lhe ensinou o que fazer com as diferentes laranjas, mas abriu seus olhos para todo um mundo diverso do que ela conhecia. Também constatou que só com prática de uso de tanta variedade é que ela descobriria como tirar o melhor de cada um dos tipos.
Não perdeu seu amor antigo pela laranja pera, mas descobriu que a vida era muito mais interessante quando as laranjas se misturavam. Era possível fazer sucos usando combinações de frutos mais ácidos com outros mais doces e, até mesmo enriquecer seu bolo de laranja com calda de uma laranja diferente.
Empolgadas partiu para o estudo de tangerinas, depois limões e até mesmo grapefruit.
E, assim como fazia com a laranja pera, Mariana nunca desperdiçou nenhum dos seus cítricos.
Uma verdadeira mestra.
Descrição da imagem: uma laranja bahia ainda presa no galho da laranjeira.
11 comentários:
Muito linda a metáfora.Nos ensina muito.
Beijos.
Arimar
Que chegue logo o dia em que todos, assim como Mariana, enxerguem beleza da diversidade
Puxa!!! Que lindo....quero ser Mariana
Já tem endereço certo: a sala de professores da escola!
Eu adorei! Tinha que ser você o autor.
Beijo
Assim como Mariana,todos deveriam procurar entender mais sobre a diversidade e perceber que só tem a ganhar com novas experiências.
beijos Lú
Olá, Fábio, venho acompanhando seu blog há algum tempo e gosto muito do que escreve. Tomei a liberdade de publicar esse seu belíssimo texto em emu blog (reconhecendo, obviamente, seus créditos). No entanto, venho pedir-lhe, devidamente, a autorização.
Um grande abraço.
Jorge
Fique à vontade para publicar, depois me passe o endereço do blog para eu ver como ficou.
Abraço
Ops, esqueci de colocar o endereço do blog: http://poetajorge.blogspot.com/
Um grande abraço.
Oi Fábio,
Adorei seu blog. Reproduzi este texto no blog que escrevo sobre minha filha Alice, que tem SD, com os devidos créditos. Espero que não tenha problema.
Um abraço,
Carol.
Que incrível!
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