segunda-feira, 12 de abril de 2010

Mais pior de ruim

Conversa típica de bar, mas também pode ser na cozinha de qualquer casa quando a família se reúne.

Basta alguém contar um "causo" qualquer para outro, logo em seguida, contar algo do mesmo estilo que seja melhor ou maior. Alguém conheceu um homem que pesava 120kg? Isso não é nada, o colega ao lado ou a prima já conheceram um de 150kg.

Quando o causo é alguma coisa ruim ou alguma desgraça, sempre vai ter alguém com a história de uma tragédia maior. Vence sempre o "mais pior de ruim". Faz parte da natureza humana ser o vencedor nas glórias ou nas desgraças.

Na comunidade que cerca as pessoas com deficiência não é diferente. A deficiência do meu filho sempre será mais grave que a do vizinho. O menino com dificuldade de aprendizagem de um professor sempre será muito mais complicado que o do outro.

Nesse caso, a vitória está com quem sofre mais por sua situação. Sua vida é difícil? A minha é muito pior.

Claro que isso embute uma estratégia muito conveniente, seja para os pais, seja para os professores.

Quando a inclusão daquela criança muito problemática funciona, pais e professores podem cantar suas glórias de como superaram uma situação tão adversa quanto as suas.

Quando não funciona, sempre estão protegidos pela comiseração que provocaram em relação a si mesmos. Se foram derrotados é porque as circunstâncias eram complexas demais para qualquer pessoa.

Dificilmente a gente ouve alguém dizer que não acha sua vida difícil. Que o desafio que tem pela frente é superável e, caso não consiga fazer algo, que não existe ninguém para culpar além dele mesmo.

É mais fácil se livrar de qualquer responsabilidade quando se erra e receber os louros quando se acerta.

Enquanto trabalharmos a inclusão de pessoas com deficiência como um fardo insuportável de carregar nunca chegaremos a lugar nenhum.

Continua sendo uma questão de atitude.

Descrição da imagem: cartoon onde uma escova de dentes diz: "às vezes acho que tenho o pior emprego do mundo", ao que um rolode papel higiênico responde: "cê que pensa..."

4 comentários:

Vilma A. de Mello disse...

Alguns de tanto imaginar o tal fardo jâ ficaram corcundas.Claro, que jamais sairão do mesmo lugar,acham que reclamar è tudo que lhes resta.

Fabiana disse...

Olá, Adiron! Já disse-lhe que admiro seu estilo de escritura?!
Hoje tive a oportunidade de passear entre suas palavras... obrigada por compartilhar suas percepções.
Suas experiencias, entendimentos e escrituras sempre me ajudam a aprender a ver.
Grande abraço.
Fabiana

Lucio disse...

Fabio

O problema é que o cartoon é hilário.. srsrsrsrs

Abs
Lucio

Fábio Henrique disse...

Mais um excelente ponto de vista, daqueles que a gente sempre percebe, mas nunca comenta... agora traduzido em palavras! Parabéns!