terça-feira, 16 de março de 2021

Xiita convidada: “Aceitamos candidatura de pessoas com deficiência.”


Texto de Letícia Ribeiro*

“Aceitamos candidatura de pessoas com deficiência.”

Querido recrutador, parabéns por fazer o mínimo. 

Era uma segunda-feira como todas as outras e eu estava no linkedin ajudando uma amiga a encontrar uma boa vaga de emprego. Entra em vaga, sai de vaga, entra em outra, sai de mais uma, até que eu me deparo com uma vaga legal, em uma empresa legal. 

Comecei a ler o descritivo. 

E o descritivo ia perfeito, encantando em cada frase, em cada argumento, em cada explicação. Objetivos bem definidos, requisitos claros, aquele tipo de texto que dá até alegria de olhar, até que… 

“Aceitamos candidatura de pessoas com deficiência.” 

Ué, mas por que não aceitariam?

Uma vaga de estágio, em redes sociais, trabalho remoto, dentro de casa, com um computador - e que, por experiência própria, significa passar 80% do seu tempo sozinho, logado na internet -, que impedimento teria para uma pessoa com deficiência?

Para os com deficiência física, o trabalho não requer nenhuma locomoção. Para os cegos, computadores são bem adaptados. Para os surdos, mudos, comunicação por texto, no google meets, no whatsapp, no slack, nos e-mails, nas legendas de redes sociais, nas dms. E para os com deficiência intelectual talvez um pouco mais de tempo de adaptação. 

Parabéns por fazerem o mínimo, e aceitar candidaturas de pessoas tão capazes quanto quaisquer outras. 

Crescendo com uma pessoa ‘com deficiência’ eu aprendi que inclusão não está em criar oportunidades separadas e especiais para pessoas com condições diferentes às chamadas ‘normais’. Inclusão é criar um ambiente onde todos sejam aceitos, respeitados - contratados - de forma igual, respeitando suas diferenças, dificuldades, tempos e processos. 

Espero que, quando contratarem meu irmão, contratem ele pela vaga que ele tem que ser contratado: professor. Não ‘professor com deficiência’. Não ‘professor especial’.

A vaga podia ser atraente, mas o entendimento sobre inclusão da empresa não era. E eu, uma pessoa ‘normal’, posso dizer que não me senti atraída pela vaga depois disso. - e, não, também não mandei para a minha amiga, que precisa de um estágio na àrea de direito. 


*Letícia Ribeiro é estudante de produção editorial e estagiária em mídias socias na Mercado Bitcoin


Descrição de imagem: ilustração de uma mesa com crianças de diversas características.

 

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